Por que o preço do petróleo não subiu com a violência em Israel e Gaza?
Entenda o que está norteando as cotações da commodity em meio à crise no Oriente Médio
Enquanto o mundo acompanha sob tensão a possibilidade de uma investida terrestre das Forças Armadas israelenses sobre a faixa de Gaza, como resposta aos atentados terroristas do Hamas no sábado passado, os mercados financeiros globais pouco reagiram à crise no Oriente Médio.
Passados 10 dias do início do conflito, analistas se perguntam: por que o preço do petróleo não subiu? O que pode mudar essa equação?
Antes do ataque do Hamas, o preço do barril do tipo Brent estava cotado a US$ 85 e vinha de uma sequência de quedas – em 26 de setembro, pico recente das cotações, o valor era de US$ 96,60.
Na segunda-feira (9) após os atentados, os preços subiram para US$ 88,14, mas logo caíram de novo. E, no fim da semana passada, voltaram a subir, mas ainda no patamar de US$ 90 – ou seja, abaixo do patamar dos últimos 30 dias.
Na manhã de segunda-feira (16), a situação está relativamente calma nos mercados. O esperado ataque israelense a Gaza ainda não começou, e os Estados Unidos estão em modo diplomático para tentar evitar um caos regional mais amplo. O presidente americano Joe Biden pode fazer uma visita a Israel nesta semana.
"Os traders (negociadores de petróleo) estão realmente lutando para entender como negociar isso" disse Amrita Sen, co-fundadora e diretora de pesquisa da consultoria Energy Aspects.
Ela explica que, neste momento, não há perdas imediatas na oferta global de petróleo, mas a proximidade geográfica com outras potências regionais, como o Irã, "é desconfortável".
Israel provavelmente iniciará uma campanha terrestre em algum momento, e o potencial de um aprofundamento da crise envolvendo outros países do Oriente Médio é grande.
A questão é: dado o controle rigoroso que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) exerce sobre o mercado global, por que o petróleo não está mais alto?
A Agência Internacional de Energia disse na semana passada que a recente queda nos preços em relação às máximas do final de setembro reflete uma erosão na demanda, especialmente nos Estados Unidos, onde os dados indicam um consumo sazonalmente fraco de gasolina.
Muitos analistas também preveem alguma folga no mercado no início do próximo ano, impulsionada pelo crescimento mais lento da demanda e novos suprimentos da América do Sul.
E é importante lembrar que a Arábia Saudita e seus aliados da Opep, que reduziram a produção de petróleo bruto este ano para sustentar os preços num patamar mais elevado, ainda têm uma saudável reserva de capacidade disponível para enfrentar qualquer choque nos preços.
Por enquanto, o mercado parece estar ponderando e colocando na balança dos preços dois riscos: 1) uma crise mais ampla no Oriente Médio que envolva o Irã e 2) a perspectiva incerta para a economia global.
Até que os traders obtenham mais clareza sobre ambas as questões, pode ser difícil para os preços encontrarem uma direção clara.