ORIENTE MÉDIO

Quem são os brasileiros em Gaza que aguardam para cruzar a fronteira do Egito

Grupo que espera repatriação é composto por 14 crianças, oito mulheres e seis homens adultos

Brasileiros estão em casa alugada pelo governo em Rafah - Arquivo pessoal

Um grupo com 22 brasileiros aguarda a abertura da fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito para sair do território que está sob cerco de Israel. A Embaixada do Brasil no Egito deslocou uma equipe de diplomatas para Ismailia, no norte do país, para acompanhar as negociações. O embaixador brasileiro Paulino Franco Neto, que lidera a missão, espera ter novidades sobre o assunto ainda nesta segunda-feira.

Segundo o embaixador Alessandro Candeas, chefe do Escritório de Representação do Brasil em Ramallah, o número total de pessoas que estão neste grupo é de 28, sendo 22 brasileiros, três imigrantes palestinos e três palestinos. Ao todo, são 14 crianças, oito mulheres e seis homens adultos. Inicialmente, o grupo era formado por 30 brasileiros, mas uma família e outras duas pessoas desistiram da repatriação.

Conheça alguns dos brasileiros que aguardam para cruzar a fronteira:
Shahed al-Banna
A brasileira Shahed Al Banna, de 18 anos, está em Gaza há um ano e meio e, desde o início do conflito, relatou a situação que tem vivenciado na região. Inicialmente, ela foi para a casa de uma tia. Depois, na última sexta-feira, foi até uma escola que servia de abrigo para um grupo de brasileiros e palestinos. Quando todos foram orientados a sair do local com urgência, ela disse que o grupo estava “desesperado”.

"A situação está desesperadora, está difícil. As crianças estão chorando. Eu estou em uma escola. E a irmã da igreja disse que a escola não é mais um lugar seguro. Não podemos mais ficar aqui, os israelenses vão atacar todos os lugares" disse ela à GloboNews. O grupo em que ela estava conseguiu ser deslocado no último sábado, e agora aguarda a autorização para sair de Gaza. Segundo Candeas, o local atual é próximo da fronteira.

Noura Bader
A palestina Noura Bader, de 37 anos, é conhecida em São Paulo: seu rosto está estampado desde 2022 em um mural localizado em frente ao Museu do Imigrante, na Zona Leste. A obra é do artista Kobra, que pintou outros sete rostos de estrangeiros no mesmo local. Na última sexta-feira, ela também procurou abrigo na escola. Noura estava acompanhada da família, com nacionalidade brasileira.

Quando a obra foi pintada por Kobra, Noura morava com a família em São Paulo, e estava no país como refugiada. Ela, o marido Monir Bader, de 38 anos, e os dois filhos mais velhos — o menino Bader Monir Bader, de 11 anos, e a menina Rose Monir Bader, de 9 — nasceram na Palestina. O mais novo, Mohamed Monir Bader, de 4, nasceu no Brasil. Todos os cinco, porém, têm passaporte brasileiro.

Em janeiro deste ano, eles foram ao Egito, onde o marido ficou por pouco tempo. Em fevereiro, partiram para a Faixa de Gaza, local em que permaneceram até o início do conflito. Monir trabalhava como motorista, e Noura estava com dificuldades para conseguir emprego. Agora, eles desejam conseguir sair de lá.

Bader Monir Bader
Filho de Noura, Bader chamou a atenção após ter gravado um vídeo em que dizia estar feliz por conseguir abrigo na escola, local em que afirmou “sentir segurança no momento”. Pouco depois, quando Israel cortou a energia da Faixa de Gaza, a criança pediu ajuda e disse não ter mais casa.

"Nessa escola, eu senti muita segurança porque aqui [na escola] a gente não pode morrer. O chão é limpo, tudo é limpo. Cada um tem uma casa sozinha aqui. Essa escola é muito melhor para mim do que ficar em casa" destaca o garoto, que apela pelo resgate. "Eu queria sair de Gaza para ficar em mais segurança porque aqui [em Gaza] a gente pode morrer. Lá no Brasil, a gente vai estar com mais segurança".

Hasan Rabee
O palestino com cidadania brasileira Hasan Rabee, de 30 anos, morava em São Paulo desde 2014, quando as forças israelenses lançaram a operação Margem Protetora para destruir foguetes e túneis usados pelos terroristas. Naquele ano, Hasan fugiu de Gaza e veio ao Brasil, onde recebeu status de refugiado e conseguiu emprego na capital paulista como vendedor de acessórios para celulares.

Quinze dias antes do início do conflito, ele havia viajado para Gaza com objetivo de visitar alguns parentes. Surpreendido pelo confronto, ficou preso na região, e disse temer pela vida da esposa e das filhas, de três e seis anos, que são brasileiras e viajaram com ele.