CPI

CPI do 8 de Janeiro: relatório final virá com mais de mil páginas e olhar "voltado para militares"

Senadora Elizane Gama apresenta seu parecer final nesta terça-feira na comissão

Relatora da CPI dos Atos Golpistas, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) - Reprodução

Com sugestões de última hora, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), amarra as pontas finais do seu relatório final dos trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o 8 de Janeiro. Em mais de mil páginas, o texto vai trazer pedidos de indiciamento e apresentação de projetos de lei para tramitarem no Congresso nacional sobre a defesa do estado de direito democrático.

Nesta terça-feira, Eliziane recebeu de grupos da sociedade civil propostas ao seu parecer final, com um pedido para que todos os envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro fossem processados e julgados com atenção especial aos militares.

— O olhar voltado para os militares não há dúvida nenhuma que estará consignado no nosso relatório final —disse Eliziane.

Um dos grandes mistérios sobre o relatório é se ele irá pedir ou não o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.

— Todos os indiciamentos que forem apresentados amanhã são indiciamentos com sustentação muito forte e muito precisa. Quanto ao ex-presidente, amanhã a gente apresentará o Brasil ou não— disse a senadora.

Aliados do governo, afirmam que Bolsonaro estará entre os alvos no relatório de Eliziane, entre outros nomes do ex-governo, como general Augusto Heleno e o ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques.

Eliziane fecha seus trabalhos com algumas lacunas, sem alcançar objetivos propostos por ela mesma ao longo das sessões, como o acesso aos relatórios de inteligência financeira das movimentações de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle.

— O relatório é fruto de todo um trabalho feito em uma comissão. Passa pelas oitivas, pelos documentos que nós recebemos através de quebra de sigilos e eles são fundamentais para os indiciamentos. Agora, para além dos indiciamentos, um relatório, precisa apresentar sugestões para a sociedade brasileira, fazer encaminhamentos, fazer, por exemplo, ajustes, se for necessário, no arcabouço legal para o tema— disse a senadora.

Eliziane conta que chegou a passar noites em claro nos últimos dias para concluir os trabalhos.

— Ontem passamos o dia inteiro aqui no Senado Federal, hoje também, o dia inteiro.Vamos ainda ler e consignar aquilo que for necessário e possível no nosso relatório— disse a senadora.

Ao todo, foram 17 depoimentos realizados e 648 documentos analisados pela comissão. Integrantes da CPI também culpam o Supremo Tribunal Federal (STF) por parte do insucesso da comissão, após decisões de ministros indicados por Bolsonaro limitarem a atuação do colegiado. Nunes Marques, por exemplo, impediu que a quebra de sigilo de Silvinei Vasques pudesse ser usada, além de barrar o depoimento de Marília Alencar, que foi auxiliar de Torres no Ministério da Justiça e na Secretaria de Segurança Pública do DF.

O ministro André Mendonça, por sua vez, inviabilizou outro depoimento, o de Osmar Crivelatti, que era um dos ajudantes de ordens de Bolsonaro e continua o auxiliando.

Interlocutores da parlamentar dizem que o relatório final será um "documento histórico" que mostrará que o 8 de janeiro não foi um ato isolado, mas um movimento articulado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e a extrema direito logo após as eleições de 2022.

"Nele, os brasileiros de hoje e das próximas gerações poderão saber como a extrema-direita articulou, financiou e estimulou uma tentativa de golpe de Estado que culminou com os atentados do 8 de Janeiro", publicou a direção do PT na Câmara nesta segunda-feira.

A ideia do texto é relacionar as minutas golpistas encontradas no celular de Mauro Cid e na casa de Anderson Torres com a reunião do hacker Walter Delgatti com Bolsonaro no Palácio da Alvorada. À CPMI, o hacker relatou que Bolsonaro lhe pediu para assumir um suposto grampo contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, que é presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Os bloqueios nas rodovias feitos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) concentrados no Nordeste no segundo turno das eleições e a tentativa de explosão de um caminhão-tanque nas proximidades do aeroporto de Brasília na véspera de Natal também serão listados como parte da trama golpista.

O texto também terá um capítulo para esmiuçar o levantamento bancário de empresas do agronegócio, madeireiras e de armas de fogo, que são suspeitas de bancarem os atos de 8 de janeiro.

Deputados da base do governo receberam um aviso no grupo de WhatsApp hoje para chegarem cedo à sessão da CPMI desta terça-feira, às 8h30. O intuito é que eles compareçam em peso à comissão para declarar apoio ao relatório de Eliziane.