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Vendas no comércio têm leve queda em agosto, com onda de fechamento de lojas

Setor recua 0,2% no mês, apontado como estabilidade pelo IBGE. Com inflação dos alimentos controlada, desempenho dos supermercados evitou recuo maior

Comércio - Valter Campanato/Agência Brasil

As vendas no comércio nacional tiveram leve queda em agosto (- 0,2%), reflexo de uma onda de fechamento de lojas. O desempenho, que o IBGE classifica como estabilidade, só não foi pior devido à contribuição positiva do segmento de supermercados e produtos alimentícios, que tem forte peso no índice e avançou no mês.

Os dados constam na nova Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e contrariam as estimativas de analistas de mercado, que esperavam uma queda de 0,7%.

Gerente da pesquisa, Cristiano Santos afirma que diversos fatores explicam o baixo crescimento do varejo em 2023, como a crise em algumas categorias pesquisadas, evidenciada com o fechamento de pontos de venda ao longo do ano.

Entre abril e agosto, 11 mil lojas fecharam as portas em shoppings, o que representa 10,4% do total, o dobro do percentual anterior à Covid-19, segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).

Esse é um dos fatores que explica o desempenho negativo de algumas das categorias pesquisadas pelo IBGE, como artigos de uso pessoal e doméstico (- 4,8%); móveis e eletrodomésticos (- 2,2%); e tecidos, vestuário e calçados (- 0,4%).

Alimentos e combustíveis
Ao mesmo tempo, a desaceleração da inflação de alimentos ajudou a manter em patamar positivo segmentos como supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que teve alta de 0,9% em agosto. Esse crescimento vem sendo verificado nos últimos meses, com alta de 0,3% em julho e de 1,4% em junho.

O grupo de combustíveis e lubrificantes voltou a crescer após meses de taxas próximas a zero ou de queda. Essas duas categorias, juntas, ajudaram a equilibrar as vendas do varejo, de modo que o indicador não se mantivesse em patamar tão baixo em agosto.

Santos acrescenta que o aumento no número de pessoas ocupadas e a maior massa de rendimento também contribuíram para o resultado positivo do segmento de alimentação e supermercados.

"Além disso, o crédito para pessoa física teve um crescimento de 0,2% em agosto, ainda baixo. Com o aumento de pessoas ocupadas, o consumo acaba se concentrando em produtos de primeira necessidade" diz o pesquisador.

Economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Rodolpho Tobler afirma que a melhora de indicadores como renda e ocupação alavanca o consumo essencial, como de alimentos e fármacos, mas o cenário ainda é desafiador para redes que vendem outros produtos, como roupas e eletrodomésticos.

O patamar alto dos juros e o nível elevado de endividamento familiar influenciam nos baixos resultados dessas categorias.

"Outro ponto é que, nos últimos meses, e até anos, essas grandes redes estão apresentando resultados financeiros mais baixos. Isso em um contexto das pessoas buscando consumir de outras formas, com o aumento de vendas online" conclui o economista.