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Mulher morre na Espanha com suspeita de Febre do Nilo Ocidental; entenda a doença

Vírus é transmitido por mosquitos e, em casos mais graves, pode causar um quadro de encefalite, uma inflamação no cérebro

Mosquito Culex - Lauren Bishop/CDC/Divulgação

Uma mulher de 73 anos que estava internada no Hospital San Pedro de Alcántara, na cidade de Cáceres, Espanha, morreu com suspeita de infecção pelo vírus que causa a febre do Nilo Ocidental. Segundo a agência de notícias espanhola EFE, o Serviço de Saúde de Extremadura, região onde fica o município, também confirmou que há um homem, de 71 anos, hospitalizado no mesmo local e com sintomas que indicam se tratar de um caso provável da doença.

Além disso, no Hospital Universitário de Badajoz, cidade próxima, também na região de Extremadura, outro paciente está internado com a contaminação pelo vírus confirmado. Recentemente, em agosto, a Espanha registrou o primeiro óbito ligado à doença, que cresce na Europa, de uma idosa de 84 anos. Já no início deste mês, a atualização do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) confirmou uma segunda morte no país, em Toledo.

A febre do Nilo Ocidental é uma doença causada por um vírus do gênero flavivírus, mesmo da febre-amarela e da dengue, transmitido aos humanos por meio da picada de mosquitos do gênero Culex. Quatro em cada cinco pessoas infectadas não manifestam sintomas, ou têm sinais leves e que passam rápido. Os demais podem sofrer de febre alta, dores, fadiga, vômitos, erupção cutânea ou chegar a casos mais graves.

"Uma pequena parte (cerca de 1% do total de infectados) desenvolverá um quadro grave de encefalite (inflamação no cérebro)" explica Antoni Trilla, chefe do serviço de Medicina Preventiva do Hospital Clínica de Barcelona. Nesses pacientes, geralmente crianças pequenas ou idosos com outras doenças subjacentes, a mortalidade é alta, aproximando-se dos 10%.

A doença é um grave problema de saúde pública na Europa Central e Oriental há décadas, mas agora começa a se disseminar também no Oeste do continente. Segundo a última atualização do ECDC, desde o início do ano, até 11 de outubro, os países da União Europeia registraram 632 casos em humanos, principalmente na Itália (307); Grécia (157) e Romênia (81). Além disso, foram notificadas 50 mortes, duas na Espanha.

No país, o vírus – que circula entre aves e mosquitos, mas também afeta cavalos – foi detectado pela primeira vez em 2004 em alguns pássaros. Nesse mesmo ano, foi diagnosticado o primeiro caso em humanos. Nos 15 anos seguintes, porém, foram poucos diagnósticos em pessoas, com a maioria relatada em animais.

A situação mudou em 2020, quando as províncias de Sevilha, Cádiz e Badajoz sofreram um grande surto com 77 pessoas gravemente afetadas e oito mortes. Alguns dos infectados também sofreram sequelas neurológicas da contaminação.

Desde então, novos casos têm sido diagnosticados em todos os verões. Em 2021 eram seis, todos na província de Sevilha. No ano passado foram quatro, embora a doença tenha sido detectada pela primeira vez em duas novas províncias: Córdoba e Tarragona. Agora, já são 14 casos no ano e duas mortes – sem contar com a possível nova vítima fatal.

Miguel Ángel Jiménez Clavero, pesquisador do Instituto Nacional de Investigação e Tecnologia Agrária e Alimentar (INIA-CSIC), destaca que a expansão do vírus tem sido constante nas últimas duas décadas, o que preocupa.

"Temos observado um aumento da incidência (em aves e cavalos) onde já estava estabelecida e uma expansão geográfica para novos territórios. Isso se traduz em casos humanos em áreas onde até agora não haviam sido detectados" explica.

Para ele, o processo deve-se a vários motivos:

"As causas são as alterações ecológicas que favorecem a presença e o ciclo de vida dos mosquitos Culex. Em parte, isto se deve às mudanças climáticas que estão ocorrendo, mas fatores locais como a extensão da irrigação, ações de infraestrutura, entre outras, também podem influenciar. O que também observamos é que quando o vírus atinge uma nova área e começa a se espalhar, a circular entre as aves, o mais provável é que acabe se tornando endêmico" diz.

Um problema é que o diagnóstico não é fácil, pois é comum que os testes mais utilizados (PCR) tenham resultado negativo quando a pessoa já estava infectada há algum tempo. Nesses casos, é preciso recorrer a sorologias, que envolvem análises microbiológicas mais complexas.

Desde a detecção do primeiro caso neste ano, Badajoz, o governo catalão notificou “todos os centros de saúde, tanto os cuidados primários como os hospitais, para estarem alerta para detectar possíveis novos casos”. Também foi realizada uma “investigação entomológica” na zona onde vivia a mulher para controlar as populações de mosquitos existentes. Por fim, foi ordenado que todas as doações de sangue realizadas na Catalunha fossem analisadas para descartar a presença do vírus.