Rótulos de alimentos com alerta de 'viciantes' podem ajudar a reduzir o consumo
De acordo com pesquisadores, dependência neste tipo de comida é sentida por cerca de 14% dos adultos e 12% das crianças
Aplicar rótulos de advertência indicando que ultraprocessados são viciantes foi indicado como um novo caminho para mudar a forma como eles são pensados.
Segundo o grupo de pesquisadores, que tiveram sua análise publicada em uma edição especial da revista científica British Medical Journal (BMJ), isso reforçaria o alerta trazido pelas descobertas anteriores sobre o potencial de vício presente nesses alimentos industrializados.
No total, 281 estudos de 36 países diferentes foram analisados pelos cientistas. Dessa forma, eles descobriram que a dependência de alimentos ultraprocessados é sentida por cerca de 14% dos adultos e 12% das crianças. Os valores foram calculados com base na Escala de Dependência Alimentar de Yale (YFAS).
É indicado pelos cientistas que esse vício pode ser comparável ao álcool e ao tabaco pois “atende aos critérios para o diagnóstico de transtorno por uso de substâncias”.
Critérios esses que podem ser observados no desejo intenso pelo alimento, sintomas de abstinência e pouco controle sobre a quantidade ingerida.
No entanto, o grupo de estudiosos se deparou com a questão controversa ligada à advertência dos ultraprocessados, que é definir quais os alimentos têm maior potencial de dependência e porquê.
Nem todos podem provocar tal consequência. Como exemplo, podem ser analisados uma maçã, salmão e uma barra de chocolate. A maçã tem uma proporção de carboidratos para gordura de aproximadamente 1 para 0, enquanto o salmão tem uma proporção de 0 para 1.
Em contraste, a barra de chocolate tem uma proporção de carboidratos para gordura de 1 para 1, o que pode ser um indicativo do potencial viciante do alimento.
“Há um apoio convergente e consistente para a validade e relevância clínica da dependência alimentar. Ao reconhecer que certos tipos de alimentos processados têm propriedades de substâncias viciantes, poderemos ajudar a melhorar a saúde global", afirma Ashley Gearhardt, autora correspondente do artigo e professora de psicologia na Universidade de Michigan, em comunicado.
Ultraprocessados matam 57 mil brasileiros por ano
Segundo um estudo brasileiro feito por pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP), publicado na revista científica American Journal of Preventive Medicine, o Brasil têm aproximadamente 57 mil mortes prematuras por ano — isto é, em pessoas de 30 a 69 anos — são atribuíveis à alimentação com ultraprocessados.
Eles são relacionados, em inúmeros estudos científicos, a um risco mais elevado de obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes, vários tipos de câncer, depressão e perda cognitiva, entre outras doenças.
Associado à obesidade
Outra pesquisa, também realizada pela Nupens, em 2022, mostra que estes produtos industrializados foram os responsáveis por um aumento de 28,6% da obesidade no Brasil.
A associação foi feita baseada no consumo deste tipo alimentício comparada com o percentual na prevalência de obesidade.
A doença, que causa o desiquilíbrio da manutenção do peso corporal pois a quantidade de calorias ingeridas é incompatível com a energia gasta durante o dia. Alimentos ultraprocessados têm muito mais calorias do que os naturais ou minimamente processados, e menos nutrientes. Por isso, eles têm uma forte contribuição para o aumento de peso e, consequentemente, a obesidade.
Os ultraprocessados
De acordo o "Guia alimentar para a população brasileira", produzido pelo Ministério da Saúde, são alimentos ultraprocessados:
Biscoitos, sorvetes e guloseimas;
Bolos;
Cereais matinais; barras de cereais;
Sopas, macarrão e temperos “instantâneos”;
Salgadinhos “de pacote”;
Refrescos e refrigerantes;
Achocolatados;
Iogurtes e bebidas lácteas adoçadas;
Bebidas energéticas;
Caldos com sabor carne, frango ou de legumes;
Maionese e outros molhos prontos;
Produtos congelados e prontos para consumo (massas, pizzas, hambúrgueres, nuggets, salsichas, etc.)
Pães de forma;
Pães doces e produtos de panificação que possuem substâncias como gordura vegetal hidrogenada, açúcar e outros aditivos químicos.
A principal orientação do documento é evitar o consumo deste tipo de alimento. Dentre os motivos, é destacado que os ultraprocessados "em geral, são pobres nutricionalmente e ricos em calorias, açúcar, gorduras, sal e aditivos químicos, com sabor realçado e maior prazo de validade".