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Dragagens, tarifas e outros desafios de Márcio Guiot à frente de Suape

Nesta entrevista exclusiva ao Movimento Econômico, o presidente de Suape conta como pretende fazer a movimentação de carga em Suape dobrar em 10 anos.

Márcio Guiot, presidente de Suape - Foto: divulgação

Até 2024, o Porto de Suape deve ver concluídas as duas dragagens que tem pendentes, abrindo caminho para novas rotas. As obras envolvem as áreas dos portos interno e externo e são fundamentais para garantir a plena operação portuária.

A conquista de uma profundidade adequada, para 20 metros, atrairá grandes navios, dando suporte ao plano da atual gestão de dobrar, em 10 anos, a movimentação de cargas para 50 milhões de toneladas.

Em entrevista exclusiva à Patricia Raposo, editora do Movimento Econômico, o presidente do Porto de Suape, Márcio Guiot, disse que há uma conjuntura favorável na economia e que Suape trabalha para capturar as oportunidades.

Guiot explica o cenário e informa que as dragagens, os novos terminais e uma possível ferrovia ligando o litoral ao Sertão vão abrir caminho para cargas potenciais que não são exploradas pelo porto, como os grãos de Matopiba, as frutas do Vale do São Francisco e o gesso do sertão do Araripe, só para citar algumas.

O presidente de Suape também fala de temas como a renegociação contratual com o Tecon Suape, acertos com a Bemisa e atraso na instalação do Tec Hub do Hidrogênio verde, entre outros temas.

Confira a entrevista do presidente de Suape, Márcio Guiot.

Movimento Econômico: Após o governo do estado demonstrar interesse no financiamento público para a ferrovia que ligará o Sertão a Suape, a mineradora Bemisa declinou do seu interesse de construir um ramal ferroviário para levar sua carga do Piauí ao Porto de Suape. Isso afeta os planos para o terminal de minérios? Afinal, um investimento estava atrelado a outro…

Márcio Guiot: A Bemisa declinou da autorização da ferrovia, mas segue dentro dos planos de Suape com o terminal de minério de ferro. Inclusive, temos feito simulações em Suape para atracação de navios e o projeto continua avançado. A decisão da Bemisa foi estratégica, uma leitura do cenário atual.

ME: Em novembro de 2022, o governo do estado firmou acordo com a holandesa Royal Van Oord, responsável pela dragagem de 6km do porto externo e que havia paralisado a obra em 2013. Pelo acordo, o estado garantiu R$ 480 milhões, sendo R$ 340 milhões para quitação de débitos com a empresa e R$ 140 milhões para a finalização da obra. Qual o estágio dessa dragagem? O prazo era de cinco meses para sua conclusão…

MG: Essa obra ainda não foi retomada. Tivemos entraves ao longo do ano. Mas ainda este ano daremos início a ela e queremos conectar essa obra com a licitação para a dragagem do canal interno, o que deixará Suape com águas profundas. Queremos chegar ao fim de 2024 com as duas dragagens concluídas.

ME: Quais são os investimentos previstos para Suape neste ano de 2023? E em quê?

MG: Ainda estamos fechando esse número.

ME: O ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, comunicou esta semana a liberação de R$ 100 milhões para a dragagem do porto interno. Essa é uma das prioridades no porto?

MG: Sim, é uma das prioridades, assim como a manutenção da infraestrutura atual. A dragagem do porto interno receberá R$ 100 milhões e a obra de melhoria no molhe, que vai custar R$ 190 milhões e entra na quarta fase, também será contemplada pelo Novo PAC, com mais R$ 30 milhões. Essa obra é importante porque garante uma operação segura para navios do porto externo, que operam granéis líquidos. E neste contexto de mudança climática, essa é uma preocupação que temos.

Mas estamos trabalhando para captar recursos. Nossa carteira prevê mais de R$ 1 bilhão em novos projetos. A governadora Raquel Lyra sempre diz que é muito importante ter projetos para aproveitar oportunidade de recursos federais, quando surgirem. Estamos muito atentos a esse novo momento da economia.

ME: Que projetos são esses?

MG: Temos, por exemplo, o projeto executivo da ferrovia em Suape, que vai desde o início do nosso território até o porto, cerca de 8km de extensão. Também trabalhamos noutro projeto para levar a ferrovia para outra margem.

ME: Quando tem início a operação do terminal de GNL?

MG: Esse é um investimento privado, da On Corp, que vai começar a operar no segundo semestre do ano que vem e será a primeira operação de GLN de Suape.

Porto de Suape/foto: divulgação

ME: Suape deseja dobrar sua movimentação de cargas em 10 anos, saltando de 25 milhões de toneladas para 50 milhões. Como pretende bater essa meta?

MG: Não trabalho com outro cenário. Temos a refinaria que entra em nova fase. Ela vai começar a operar o segundo trem. Mas antes disso, o primeiro trem vai aumentar sua produção de cerca de 90 mil barris de petróleo por dia para 130 mil barris. Quando o segundo começar a operar, a capacidade de produção vai dobrar. Vamos para 260 mil barris/dia. E só com a refinaria, nossa carga vai subir em 10 milhões de toneladas/ano. Temos ainda um potencial de carga inexplorado…

ME: As frutas do Vale do São Francisco, por exemplo…

MG: Exato. As frutas do Vale não são exportadas por Suape devido às altas tarifas portuárias, o que tende a mudar com achegada da APM Terminals e sua operação de contêiner. Com a ferrovia, poderemos ainda explorar os grãos de Matopiba e o gesso do Araripe.

ME: Essa questão das tarifas era uma dor que Suape precisava resolver. Mas a agora, o desafio é reequilibrar o contrato com o Tecon Suape para que a concorrência entre este terminal e o da APM seja justa e os preços ganhem efetivamente competitividade. Com a reconquista da autonomia do porto no ano passado, o processo do Tecon, que cobra o reajuste contratual e estava tramitando no governo federal, voltou para Suape. Aí veio a mudança de governo e tudo parou. Os gestores do governo passado dizem que agora cabe a Suape decidir a questão. Qual a real situação? Isso está avançando?

MG: Realmente esse processo está conosco para definição, mas não está parado. Houve sim todo o cuidado, nosso e do Governo atual, para entender, discutir internamente, para podermos nos posicionar. Isso deverá ser feito ainda esse ano. É importante que ocorra para podermos virar essa página. Importante ressaltar que o contrato hoje é válido, está correndo normalmente, com as condições colocadas pelo próprio terminal. Essas condições foram a base para eles ganharem a licitação, à época.

ME: Alguns atores envolvidos na instalação do Tec Hub de Hidrogênio Verde em Suape reclamam do atraso na instalação do projeto. A Federação das Indústrias-PE, por exemplo, diz que o Senai ainda não pode fazer investimentos porque o terreno não foi liberado. Qual a situação do Tec Hub? Recebemos informação de que a terraplanagem havia começado.

MG: Estamos nas tratativas para fazer uma permuta de terreno. A terraplanagem ainda não começou. Estamos concluindo o projeto. Mas queremos entregar o Tec Hub operacional no primeiro trimestre de 2024. O que aconteceu foi que, antes, o terreno escolhido estava dentro da poligonal do porto, mas entendemos que isso não era apropriado, porque o local será frequentado por muita gente não alinhada com as operações portuárias. E encontramos um novo local, que fica na zona de serviço, o que é aderente ao plano diretor de Suape. E quando mudou a gestão, teve ruídos sobre isso. Mas está avançando e até criamos uma diretoria de Inovação e Transformação Digital para atuar em sinergia com esse projeto.

ME: Como tem sido gerir Suape?

MG: Suape tem 83 empresas que trabalham de forma não coordenada. Estamos buscando integrar as ações. Teremos novidades em breve sobre isso. Mas não posso dar spoiler.

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