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PF ouve diretores e servidores para avançar em investigação sobre "Abin paralela"

Inquérito apura se Agência Brasileira de Inteligência fazia espionagens clandestinas; órgão diz que está colaborando com a Justiça

Fachada do prédio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), em Brasília - Antonio Cruz/Agência Brasil

A Polícia Federal está realizando o depoimento de mais de 20 pessoas, entre diretores e servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), para avançar na investigação sobre a utilização de um sistema secreto para monitorar a localização de celulares no país. Um dos focos da apuração é se havia uma “Abin paralela” que fazia espionagens clandestinas.

Investigadores suspeitam que, sob o comando do delegado Alexandre Ramagem, eleito deputado pelo PL no Rio de Janeiro, havia uma estrutura paralela que realizava operações extraoficiais. Ramagem nega qualquer irregularidade.

Em agosto do ano passado, a PF afirmou em um relatório que um agente nomeado na Abin, homem de confiança de Ramagem, chegou a atrapalhar o andamento de uma investigação envolvendo um dos filhos de Bolsonaro.

Na ocasião, o agente foi flagrado pela Polícia Civil seguindo os passos de Jair Renan, filho "Zero Quatro" de Bolsonaro. Ao prestar depoimento à PF sobre o episódio, o suspeito admitiu que recebeu a missão de levantar informações para prevenir "riscos à imagem" do então presidente.

A operação da Abin ocorreu em 16 de março de 2021, quatro dias após o filho do presidente e o seu preparador físico se tornarem alvos de uma investigação da PF. A dupla era suspeita de abrir as portas do governo para um empresário interessado em receber recursos públicos. O inquérito já foi arquivado.

Em 2020, integrantes da Abin também teriam atuado em um caso envolvendo o senador Flávio Bolsonaro, à época suspeito de participar de um esquema de rachadinha na Assembleia Legilsativa do Rio de Janeiro (Alerj). Segundo reportagem da revista Época, representantes do órgão teriam produzido um relatório sobre uma apuração envolvendo o parlamentar na Receita Federal. “Defender FB no caso Alerj demonstrando a nulidade processual resultante de acessos imotivados aos dados fiscais de FB”, dizia trecho do informe.

No relatório, segundo a Época, a Abin ainda detalhava o funcionamento da suposta organização criminosa em atuação na Receita Federal, que, segundo suspeita dos advogados de Flávio, teria feito um escrutínio ilegal em seus dados fiscais para fornecer o relatório que gerou o inquérito das rachadinhas. O órgão negou qualquer irregularidade.

Nesta sexta-feira, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF, foram cumpridos dois mandados de prisão contra servidores da Abin e 25 de busca e apreensão. Os investigados podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.