Ajuda humanitária deve entrar em Gaza no sábado, afirma ONU
A área está em cerco total determinado por Israel desde o ataque do movimento islamista Hamas, em 7 de outubro
A ONU afirmou nesta sexta-feira (20) que os caminhões com ajuda humanitária entrarão, como prazo mais rápido, no sábado na Faixa de Gaza, onde a população palestina aguarda desesperada a chegada de produtos básicos sob os intensos bombardeios de represália de Israel, após o ataque de 7 de outubro do movimento islamista Hamas.
A ajuda humanitária internacional deve começar "amanhã (sábado) ou depois" a entrar no território palestino, onde vivem 2,4 milhões de pessoas, afirmou o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths.
"Nós estamos em negociações profundas e avançadas com todas as partes relevantes para garantir que uma operação de ajuda em Gaza comece o mais rápido possível", afirmou Griffiths.
Cerca de 175 caminhões com medicamentos, comida e água estão estacionados nesta sexta na fronteira com o Egito, perto da passagem de Rafah, o único ponto de entrada para a Faixa de Gaza que não é controlado por Israel.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, esteve na área e pediu a aceleração do processo.
"Estamos trabalhando ativamente com Egito, Israel e Estados Unidos, para garantirmos que os caminhões possam cruzar o mais rápido possível", disse nesta sexta em coletiva de imprensa em Rafah.
"Estes caminhões não são só caminhões, são salva-vidas, representam uma diferença de vida ou morte para tanta gente em Gaza", declarou.
O grupo islamista palestino Hamas executou em 7 de outubro um ataque sem precedentes, de extrema violência, contra Israel. Mais de 1.400 pessoas morreram, a maioria civis baleados, queimados vivos ou mutilados neste primeiro dia, segundo as autoridades israelenses.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu "aniquilar" o Hamas, que governa desde 2007 a Faixa de Gaza. Ao menos 4.137 pessoas morreram no enclave palestino nos bombardeios lançados desde então por Israel, incluindo mais de 1.500 crianças, de acordo com as autoridades locais.
"Uma gota de água"
Desde a ofensiva dos milicianos do Hamas há quase duas semanas, há aproximadamente 200 pessoas sequestradas pelo grupo, atualmente detidas em Gaza. "Mais de 20 são menores de idade, entre 10 e 20 têm mais de 60 anos, e a maioria deles está viva", indicou nesta sexta o exército israelense.
Na Faixa de Gaza, bairros inteiros foram destruídos e estão sem água, energia elétrica e alimentos. Mais de um milhão de pessoas foram deslocadas desde o cerco imposto por Israel ao enclave, já bloqueado por terra, mar e ar desde que o Hamas chegou ao poder.
"Precisamos de acesso sem restrições e entregar nossa ajuda vital de forma segura. O tempo é curto", afirmou o Unicef na rede social X.
Após uma visita a Israel na quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou um acordo com o homólogo do Egito, Abdel Fatah al Sissi, para permitir a entrada de um primeiro comboio de até 20 caminhões.
O acordo é uma "gota de água no oceano das necessidades", disse o diretor para situações de emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan. "Seriam necessários 2.000 caminhões".
Ameaça de ofensiva terrestre
Israel continua concentrando tropas ao redor de Gaza para uma ofensiva terrestre, que será a resposta ao ataque mais violento em seu território desde a fundação do país em 1948.
Netanyahu visitou as tropas na linha de frente, perto de Gaza, onde pediu que "lutem como leões" e "vençam com toda a força necessária".
"Agora vocês observam Gaza de longe, em breve a verão por dentro", disse o ministro da Defesa, Yoav Gallant, às tropas na quinta-feira.
Foguetes também foram lançados a partir do território palestino contra Israel, segundo os correspondentes da AFP.
"Qualquer nova escalada ou mesmo continuação das atividades militares será simplesmente catastrófica para o povo de Gaza", observou o alto comissário da ONU para os refugiados, Filippo Grandi.
O Hamas denunciou na quinta-feira que um ataque israelense provocou 16 mortes na igreja ortodoxa grega de São Porfírio em Gaza.
As forças israelenses afirmaram que uma parede do templo foi danificada por um ataque de sua aviação contra um centro de comando do movimento islamista e indicaram que o incidente está sendo analisado.
A tensão também é elevada na Cisjordânia, o outro território palestino ocupado por Israel, onde pelo menos 81 pessoas morreram desde o início do conflito, e na fronteira com o Líbano, cenário de ataques entre as tropas israelenses, o grupo Hezbollah e milícias palestinas.
Diante dos incidentes, Israel ordenou nesta sexta-feira a evacuação da cidade de Kiryat Shmona.
"Castigo coletivo"
No plano diplomático, vários países trabalham para evitar uma conflagração regional.
De visita a Israel, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, expressou seu apoio ao país, mas pediu que a entrada de assistência humanitária em Gaza fosse acelerada.
O presidente egípcio e o rei Abdullah II da Jordânia exigiram o fim imediato das hostilidades e acusaram Israel de impor um "castigo coletivo" à Faixa por meio do "assédio, fome infligida e o deslocamento forçado" de seus habitantes.
O enviado chinês para o Oriente Médio, Zhai Jun, começou no Catar uma viagem internacional com o objetivo de "acalmar" a situação.