Treinamento e receio de 'chacota': como Bolsonaro prepara a entrada de Jair Renan na política
Segundo filho mais novo do ex-presidente pode disputar uma vaga de vereador em Balneário Camboriú (SC)
Inelegível, o ex-presidente Jair Bolsonaro já prepara integrantes da família para eleições municipais do ano que vem. Além da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que deve tentar uma cadeira no Senado pelo Distrito Federal, Bolsonaro quer estrear o nome de Jair Renan Bolsonaro nas urnas.
Segundo filho mais novo do ex-presidente, Jair Renan, de 25 anos, vem sendo preparado para disputar uma vaga de vereador em Balneário Camboriú (SC), cidade onde passou a morar desde que ganhou um cargo no gabinete do senador Jorge Seif (PL-SC), ex-secretário de Pesca do governo passado.
O próprio Bolsonaro tem se engajado em torná-lo um candidato viável, submetendo o filho a “provas orais” com questionamentos relacionados a Santa Catarina e à política nacional. Na avaliação do pai, Jair Renan só entrará na disputa, como candidato do PL, caso tenha condições de concorrer ao cargo sem o risco de virar “chacota” de adversários.
Para mostrar serviço, Jair Renan já tem comparecido a encontros do partido no estado e posou para fotos ao lado de vereadores e deputados do PL em Santa Catarina, como os bolsonaristas Zé Trovão, Júlia Zanatta e Caroline de Toni.
Uma vez eleito, entretanto, Jair Renan não deve esquentar a cadeira na Câmara Municipal da cidade catarinense por muito tempo. A ideia é que o cargo sirva de “trampolim” para um voo mais alto. Bolsonaro deseja que o filho “04” concorra a deputado federal em 2026. O ex-presidente vê potencial para que o atual assessor parlamentar seja puxador de votos do seu partido em Santa Catarina.
As polêmicas do '04'
Jair Renan foi alvo de busca e apreensão em agosto deste ano em uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal que mirou um grupo suspeito dos crimes de estelionato, falsificação de documentos, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
"A investigação apontou para a existência de uma associação criminosa cuja estratégia para obter indevida vantagem econômica passa pela inserção de um terceiro, 'testa de ferro' ou 'laranja', para se ocultar o verdadeiro proprietário das empresas de fachada ou empresas 'fantasmas', utilizadas pelo alvo principal e seus comparsas", dizia o texto da Polícia Civil.
O principal alvo da operação foi Maciel Carvalho, de 41 anos, ex-instrutor de tiro de Jair Renan que foi preso em janeiro deste ano. Ele já havia sido alvo de outras duas operações da Polícia do DF e é apontado pelos investigadores como o suposto mentor do esquema.
Segundo as investigações, o grupo criou uma falsa identidade no nome de Antônio Amâncio Alves Mandarrari para abrir contas bancárias e empresas, além de forjar declarações falsas de faturamento. Os policiais civis também identificaram movimentações financeiras suspeitas entre os alvos, entre elas, remessas para o exterior.
Presente nas redes sociais, Jair Renan se envolveu em uma polêmica durante a pandemia, quando, em participação no podcast "Social Pro", confessou não ter cumprido as medidas de segurança e classificou o período como "top", já que foi a época em que, segundo ele, "pegou mais mulheres".
— O Covid é uma gripe, e prefiro morrer transando que tossindo. Ele [Bolsonaro] falou assim: 'não tem problema você falar qualquer coisa, só não fala do Covid' — disse o filho do ex-presidente.
Em dezembro de 2021, o "04" havia sido intimado pela Polícia Federal a prestar depoimento em inquérito que apura o pagamento de suposta propina por empresários com interesse na administração pública. Jair Renan, no entanto, só compareceu à Superintendência da PF no Distrito Federal em abril de 2022, acompanhado do advogado Frederick Wassef.
Aos investigadores, no entanto, Jair Renan negou ter cometido irregularidades ou ter intermediado contatos de empresários com o governo federal. O documento do inquérito apontava a suspeita de que houve associação de Jair Renan com outras pessoas no "recebimento de vantagens de empresários com interesses, vínculos e contratos com a Administração Pública Federal e Distrital sem a aparente contraprestação justificável dos atos de graciosidade".
Na época, o então presidente Jair Bolsonaro criticou a investigação envolvendo o filho. Ao comentar o assunto, ele indicou ter pouco contato com o caçula, que vivia com a mãe, Ana Cristina Valle