RIO DE JANEIRO

Quem é Faustão, miliciano que foi morto pela polícia e é sobrinho de Zinho

Operação que matou Matheus da Silva Rezende desencadeou ataques a ônibus e trem na Zona Oeste; BRT Transoeste está com circulação suspensa

Faustão é sobrinho de Zinho, criminoso que assumiu o controle da maior milícia do estado do Rio - Reprodução

O miliciano Matheus da Silva Rezende, conhecido como Faustão ou Teteus, foi morto nesta segunda-feira (23) em confronto com agentes da Polícia Civil, em operação que contou com a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), Polinter e unidades especializadas. Faustão é sobrinho de Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, criminoso que assumiu o controle da maior milícia do estado do Rio, que atua na Zona Oeste. O comando da organização foi herdado após morte de seu irmão, Wellington da Silva Braga, o Ecko.

Considerado pela polícia como o segundo homem na atual hierarquia da maior milícia do Rio, Faustão é apontado em investigações como o principal homem de guerra de Zinho na disputa de território com bandos rivais. Ele seria encarregado de chefiar rondas feitas pela milícia do tio na Zona Oeste.

Segundo estimativa da polícia, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, que chefia a maior milícia do Rio, arrecada na área que engloba a maior parte dos bairros de Santa Cruz, Campo Grande e Paciência uma quantia que varia de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões mensais. A ofensiva criminosa desta segunda começou após a morte em confronto com a polícia de Matheus da Silva Resende, o Faustão, sobrinho de Zinho.

Moradores relatam que, durante a incursão, na região de Três Pontes, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, teve intenso tiroteio. Balanço do RioÔnibus contabiliza 35 coletivos queimados, 20 deles do município, sendo 5 BRTs; ao menos quatro caminhões também foram incendiados, segundo o Centro de Operações Rio. Uma composição da SuperVia também foi incendiada, na estação Tancredo Neves, na Zona Oeste. Um menino de 10 anos foi baleado de raspão no joelho, levado à UPA de Paciência e já teve alta.

Faustão seria encarregado de chefiar rondas feitas pela milícia do tio na Zona Oeste.

A Operação Dinastia — da Polícia Federal e do Ministério Público — foi desencadeada em 2022 após a morte do ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, em Campo Grande, na Zona Oeste. Em um diálogo entre Rodrigo dos Santos (Latrell) e Faustão, os dois criminosos comentavam o caso, afirmando ter que “resolver esses velhos logo”, a quem definiram como “praga do crl”(sic). Para o Gaeco, isso indicava uma conspiração para executar os irmãos Guimarães, ex-policiais chamados de “velha guarda” da milícia.

Trem, ônibus e BRTs queimados
Pelas redes sociais, moradores relatam intenso tiroteio. De acordo com o RioÔnibus, foram 35 coletivos queimados. Vinte deles são do município (sendo cinco BRTs). Segundo a Comlurb, um caminhão basculante que fazia a remoção de entulho foi incendiado quando passava pela Estrada das Agulhas Negras, em Campo Grande. O motorista e o gari conseguiram sair do veículo e estão em segurança.

A estação Santa Veridiana do BRT foi incendiada. Segundo a Mobi Rio, outras três paradas da Zona oeste sofreram tentativas de incêndio: Cajueiros, Cesarão e 31 de Outubro. Por conta dos ataques, o Transoeste teve circulação suspensa em quase todos os serviços, sendo apenas a linha 22 (Jardim Oceânico—Alvorada) em funcionamento.

Uma composição da SuperVia também foi incendiada, na estação de Tancredo Neves, na Zona Oeste. Por conta disso, seis estações do ramal Santa Cruz foram fechadas. São elas:

De acordo com a SuperVia, o fechamento foi devido à "violência instaurada na Zona Oeste", para garantir a segurança de colaboradores e passageiros. Composições do ramal Santa Cruz circulam apenas entre a Central do Brasil e Campo Grande.

"Um trem que saía de Santa Cruz sentido Central, às 18h04, foi abordado por bandidos nas proximidades da estação de Tancredo Neves. O maquinista foi obrigado pelos bandidos a abrir a porta, a descer da composição e teve que retornar à estação. Os criminosos atearam fogo à cabine de um trem. Todos os passageiros desembarcaram em segurança", informa a concessionária, em nota.

Mobilização dos Bombeiros
O primeiro acionamento aos Bombeiros foi às 14h49 e, desde então, multiplicaram-se ocorrências com fogo, com chamados para Guaratiba, Inhoaíba, Cosmos, Paciência, Santa Cruz e Campo Grande. Também há relatos de incêndio em ônibus no Recreio dos Bandeirantes. Ao todo, 15 quartéis foram acionados, de acordo com os bombeiros:

Um dos caminhões incendiados nesta segunda-feira foi parado por criminosos na Avenida Brasil, altura de Paciência, Zona Oeste do Rio. Testemunhas contaram que cerca de 20 homens armados, inclusive com fuzis, mandaram o motorista deixa o veículo, que estava carregado com material de construção.

O caminhão foi completamente destruído pelas chamas e restaram poucos sacos de cimento.

O Centro de Operações Rio, da prefeitura, pediu para que as pessoas "evitem os locais citados". "Vias dos bairros estão impactadas e ônibus incendiados", informa.

Autoridades se manifestam; aulas suspensas

O governador Cláudio Castro se manifestou pelas redes sociais: "o crime organizado que não ouse desafiar o poder do Estado!", exclamou, depois de parabenizar os agentes envolvidos na operação.

"Não vamos parar! Nossas ações para asfixiar o crime organizado têm trazido resultados diários. Hoje demos um duro golpe na maior milícia da Zona Oeste", disse Cláudio Castro.

Já o prefeito Eduardo Paes compartilhou uma notícia dos incêndios nos coletivos. Na publicação, chamou de "burro" quem ateou fogo e ainda fez um apelo:

"Ou seja, únicos prejudicados: moradores das áreas que eles dizem proteger! Essa gente precisa de uma resposta muito firme das forças policiais! Como prefeito, apelo ao Governo do Estado e ao Ministério da Justiça para que atuem para impedir que fatos assim se repitam", disse Paes.