Minas Gerais

Após ameaças de estupro corretivo, Assembleia de Minas interrompe sessão

Nos últimos três meses, três deputadas receberam mensagens violentas via e-mail corporativo; no estado, outras quatro vereadoras também viraram alvos

As deputadas estaduais Bella Gonçalves (PSOL), Lohanna França (PV) e Beatriz Cerqueira (PT) - Divulgação/ Assembleia de Minas

Em meio as ameaças de estupro corretivo enviadas nos últimos três meses à três deputadas estaduais, a Assembleia de Minas Gerais suspendeu a sessão extraordinária desta quarta-feira para que os líderes da Casa pudessem debater soluções urgentes. Desde agosto, pelo menos treze mensagens violentas foram destinadas via e-mail corporativo a Bella Gonçalves (PSOL), Lohanna França (PV) e Beatriz Cerqueira (PT). Fora da Assembleia, quatro vereadoras do estado também se tornaram alvo.

Desde os primeiros casos, as três parlamentares da Assembleia registraram queixas na Polícia Civil e passaram a andar escoltadas. Esta medida de segurança fez com que Bella Gonçalves se tornasse alvo de políticos bolsonaristas.

Em vídeo publicado nas redes sociais, o deputado estadual Caporezzo (PL) afirmou ser incoerente o uso de proteção por parte da parlamentar por ela não ser pró-pauta armamentista:

— Isso é o mais puro suco de hipocrisia esquerdista ao melhor estilo do PSOL. Ela pede desarmamento, luta pelo fim da polícia militar, mas não vai ao seu pagodinho tomar sua cervejinha sem a escolta da PM, fortemente armada — disse o parlamentar mineiro.

Diante desses novos ataques digitais, o clima de tensão na Assembleia escalonou. Nesta manhã, a sessão chegou a ser suspensa por pedido do líder da oposição Ulysses Gomes (PT).

— Quero compartilhar a triste realidade que estamos vivendo e ser solidário com nossas companheiras do bloco de oposição. Elas têm sofrido ameaças permanentes. Eu não quero usar os termos, mas as ameaças tem inviabilizado a vida pessoal de cada uma delas e também a atividade política. Eu sei que Vossa Excelência (o presidente Tadeu Martins Leite) tem se empenhando diariamente junto a Polícia Militar, a Polícia Civil e ao Ministério Público, mas a verdade é que a gente não tem visto um resultado concreto. Estas ameaças tem aumentado. Ontem e hoje chegaram mais e-mails, com mais ameaças de estupro corretivo (...) Nós temos que dar um recado juntos para a sociedade — disse Ulysses.

A solicitação foi acatada pelo presidente Tadeu Martins Leite. Durante a manhã, os líderes do bloco fizeram reuniões na Casa para chegar em uma ação de resposta aos ataques. Ao restabelecer os trabalhos, o presidente da Assembleia prometeu "medidas enérgicas":

— O parlamento não pode não pode aceitar qualquer tipo de ameaça a deputadas. Nós tomaremos, com certeza, medidas enérgicas para que isso não aconteça (...) A fala dos líderes de governo e dos blocos de oposição demonstra que essa Casa está unida contra a violência — disse Tadeuzinho, sem detalhar quais planos serão implementados.