Embate

Flávio Dino provoca Bolsonaristas na volta à Câmara: "Eu não sou amigo ou vizinho de miliciano"

Bolsonaristas associaram a fala de Dino ao fato de o senador Flávio Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro terem pedido homenagens a policiais denunciados por envolvimento com milícias

Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino - Lula Marques/ Agência Brasil

A presença do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, nesta quarta-feira, foi marcada por novos embates com bolsonaristas, trocas de acusações e alfinetadas. Questionado sobre os recentes episódios de violência no Rio de Janeiro, Dino destacou que este "é um problema que vem de décadas, porque há políticos que protegem e incentivam as milícias". O ministro afirmou "não ter ligação com milicianos", o que foi interpretado como uma indireta à relação de membros da família Bolsonaro com suspeitos de integrar milícias no estado.

— Eu nunca homenageei miliciano, não sou amigo de miliciano, não sou vizinho de miliciano, não empreguei no meu gabinete filho de miliciano, esposa de miliciano e, portanto, não tenho nenhuma relação com o crime organizado do Rio de Janeiro. E nós temos, portanto, essa atitude de combate firme, não só às facções, como também aos milicianos — afirmou.

Bolsonaristas presentes na sessão associaram a fala de Dino ao fato de o senador Flávio Bolsonaro (PL) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) terem pedirdo homenagens a policiais denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (TJ-RJ) por envolvimento com milícias. Um dos casos foi Adriano da Nóbrega, suspeito de ter participado da execução da vereadora Marielle Franco em 2018. Flávio Bolsonaro empregou a mãe e a esposa de Adriano da Nóbrega, além de tê-lo homenageado na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

A família Bolsonaro sempre negou qualquer envolvimento com organizações criminosas.

Os bolsonaristas reagiram a esta frase:

— Daqui a pouco, depois de tantas vezes falar que isto não diz respeito à Comissão de Fiscalização, o ministro vai fugir quando se vir acuado. Sinto muito ver a Polícia Federal sob o comando deste ministro — afirmou o deputado Éder Mauro.

Nikolas Ferreira ironizou a postura do ministro, que após dizer isto, passou a se recusar a responder questionamentos relativos à segurança pública.

— É a primeira vez que vemos um ministro que não tem medo de participar de atos de campanha no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, mas morre de medo de responder de perguntas — disse para risos dos colegas.

A sessão já começou com embates entre governistas e opositores. O bate-boca chegou a envolver a presidente da Comissão, Bia Kicis (PL-DF). A deputada pediu para que Dino respondesse aos questionamentos, o que gerou contestações por parte do ministro. Kicis avisou que Dino não iria definir o ritmo dos questionamentos ou definir quem teria o poder de falar ao colegiado.

— Esta sessão tem presidente e eu estou dando a palavra a quem se inscreveu, ministro. Eu peço para que os deputados de oposição se mantenham calmos e não batam boca. O que os governistas querem é gerar um tumulto que justifique a saída repentina do ministro Dino — disse.

Dino também falou sobre a presença em ato de campanha de Lula no Complexo da Maré e negou ter "pedido autorização ao tráfico" para ir ao local. Ele justificou a ausência na Comissão de Segurança.

— Eu fui à Maré e entre 15 metros dentro da comunidade, com a devida segurança. Não houve um passeio, como dizem que houve, e não vi qualquer criminoso armado. Sabem o porquê de eu não ir à Comissão de Segurança? Não me sinto à vontade em um ambiente em que todos me ofendem e ainda falam que estao armados, em tom de ameaça. A equipe de inteligência da Polícia Federal não achou prudente vir — completou.

Dino compareceu à Câmara para prestar informações à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle após duas ausências em convocações para prestar depoimento à Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado. Parlamentares da oposição se mostraram indignados após o ministro ter justificado a ausência desta terça com a alegação de uma suposta "falta de segurança" de ir ao colegiado.

Em ofício encaminhado ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), Dino justificou a falta às ameaças feitas por parlamentares do colegiado que, segundo ele, representam "grave ameaça" à sua integridade física. Durante a audiência desta quarta, ele comentou sobre a argumentação usada para não comparecer à Comissão de Segurança.

— Faltei por motivos já justificados. A ausência é um direito. Foram as polícias Militar e Federal que recomendaram que eu não fosse à Comissão de Segurança e me liberaram para estar aqui, na Comissão de Fiscalização e Controle.