O filho do Faustão, João Silva, tem carisma e busca se diferenciar do pai, mas falta identidade
"Programa do João" é exibido na Band, aos Sábados de 20h30
Na tevê, não é raro encontrar filhos que se esforçam para seguir os mesmos passos de seus pais. João Silva é mais um exemplo disso. Hoje com 19 anos, ele tinha 17 quando foi contratado pela Band para atuar ao lado de Faustão, ainda no “Faustão na Band”, que ficou no ar entre janeiro de 2022 e agosto de 2023. Com a saída do pai do ar, João se manteve nos planos da emissora e estreou em um programa solo no último dia 21, o “Programa do João”.
Exibido sempre aos sábados, na faixa entre 20h30 e 22h, a ideia parece flertar muito com o que o “Domingão do Faustão” fez ao longo de seus 32 anos na Globo – ele foi ao ar de março de 1989 a junho de 2021 – e, depois, com o que se viu ao longo de um ano e meio no “Faustão na Band”. Para começar, o cenário escolhido é um teatro – como aconteceu nos primeiros dez anos de exibição do “Domingão”. Além disso, a intenção tende a ser apostar em quadros e convidados capazes de atrair a atenção de telespectadores das mais variadas faixas etárias, assim como o pai já fazia.
João é, sem dúvida, um rapaz extremamente carismático. Curiosamente, pouco lembra o próprio pai na tevê. Nem mesmo fisicamente. Enquanto Faustão apostava em uma atuação mais debochada e pautada no humor, recheada de bordões, seu filho adota uma postura low profile. Por ora, o jovem ouve mais do que fala quando interage com seus convidados, mas esbanja simpatia no contato com eles e também com a plateia. No geral, a julgar pela reta inicial dessa carreira solo, João se mostra bem seguro e à vontade na função de apresentador.
E, aparentemente, livre de qualquer cobrança ou comparação pelo fato de ser filho de quem é. Dá para dizer que João parece buscar um caminho próprio. Não necessariamente que o desvincule de Faustão, mas que seja capaz de deixar claro que não está ali como um substituto, mas talvez como uma nova alternativa na televisão.
Mesmo assim, há momentos em que a associação é inevitável. Principalmente por conta dessa aposta tão alta em coisas que Faustão já fazia na tevê há décadas. Como quando João resolve ir até o público presente no teatro e trazer alguém para a discussão que está rolando no palco. Esse contato é ótimo, mas expõe certa inexperiência do apresentador.
Ele não chega a se sair mal, mas demonstra alguma insegurança no improviso. Além disso, algo sem sentido é a adoção do Cachorrão como assistente de palco. A proposta era colocar um personagem lúdico interagindo com João e esse contato acontece bastante. Só não se justifica pois não rende momentos interessantes.
Faustão marcou presença na estreia em ocasiões distintas. No começo, anunciado pela jornalista Anne Lottermann, surgiu em vídeo, em uma espécie de benção ao herdeiro nesse início do “Programa do João”. Depois, mais ou menos na metade do primeiro episódio, João fez um merchandising para o próprio pai, lançando uma franquia de pizzas que leva o nome dele. Outro momento em que, inevitavelmente, é fácil remeter ao “Domingão”.
Talvez o maior problema do “Programa do João”, pelo menos nesse começo, é fazer algo que está virando tendência em diversos programas de auditório hoje em dia: apostar em tantas coisas distintas que, no final, o resultado mais parece a falta de uma identidade.
Em relação à audiência, pelo menos por enquanto, não dá para se animar muito. Na estreia, o “Programa do João” garantiu 2,1 pontos de média, ou seja, cerca de 17% a mais do que o registrado nos dois sábados anteriores, na mesma faixa de horário, quando a emissora exibiu “UFC Fight Night” e “Documento Band”, ambos com 1,8 de média.
O aumento pode ser considerado animador, claro, mas é preciso considerar toda a expectativa e o esforço na divulgação da novidade. Na prática, João manteve números muito próximos aos que o “Faustão na Band” conquistou ao longo deste ano: cerca de 2,3 de média.