Conflito

Israel segue atacando Gaza depois de bombardear túneis do Hamas

Famílias dos reféns detidos pelo Hamas, na sua maioria israelenses, declararam estar "preocupadas" com o seu destino

Marcha pela Palestina em Londres - Henry Nicholls/AFP

O Exército israelense continuou bombardeando a Faixa de Gaza neste sábado (28), depois de combates terrestres entre soldados e milicianos do movimento islâmico palestino Hamas e de bombardeios noturnos de intensidade sem precedentes desde o início da guerra, que destruíram centenas de edifícios em uma noite.

No 22º dia do conflito, que provocou milhares de mortos, o território palestino de Gaza, situado por Israel e onde 2,4 milhões de habitantes vivem na pobreza, privados de tudo, está agora isolado do mundo devido ao corte das comunicações e da Internet.

A ONU diz temer uma "avalanche de sofrimento humano" na Faixa de Gaza, onde o Exército israelense promove uma campanha devastadora de bombardeios desde 7 de outubro, em retaliação à incidência sem precedentes que os milicianos do Hamas lançaram em território israelense e que deixaram 1.400 mortos, a maioria civis de todas as idades. Entre os mortos estão mais de 300 militares.

O Ministério da Saúde do Hamas, que governa Gaza, afirmou no seu último relatório neste sábado que 7.703 pessoas, principalmente civis, morreram nos bombardeios israelenses. Segundo o Hamas, mais de 3.500 crianças estão entre os mortos.

Neste sábado, a porta-voz do serviço de Defesa Civil de Gaza informou que centenas de edifícios e casas foram "completamente destruídas" apenas nos bombardeios israelenses da madrugada.

O Exército de Israel disse ter atingido "150 alvos segmentados" no norte da Faixa de Gaza, onde afirma que o Hamas conduz suas operações a partir de uma gigantesca rede de túneis.

O Exército afirmou ter matado "vários terroristas do Hamas", incluindo um dos responsáveis pela organização da operação de 7 de outubro.

Segundo jornalistas da AFP em Gaza, os bombardeios israelenses de aviação e artilharia foram conduzidos neste sábado.

Durante a noite, o Hamas realizou intensos confrontos entre seus combatentes e soldados israelenses, que atacaram Beit Hanun, no norte da Faixa, e Al Bureij, no centro.

Os militares israelenses confirmaram que as suas forças realizaram o "dentro de Gaza", tal como fizeram nas duas noites anteriores. Em resposta, o Hamas disparou foguetes contra várias cidades de Israel.

"Continuaremos bombardeando por via aérea e marítima", disse o porta-voz do Exército, Daniel Hagari. “A eliminação (dos líderes do Hamas) os enfraquece”, acrescentou, observando que o Exército não reportou vítimas durante as operações noturnas.

Famílias dos reféns, preocupadas
A perspectiva de uma intervenção terrestre israelense em Gaza preocupa a comunidade internacional, que teme que o conflito desencadeie um conflito regional. O Irã, patrocinador do Hamas e do movimento libanês Hezbollah, emitiu vários avisos sobre isso aos Estados Unidos, o mais fiel aliado de Israel.

“Israel deve parar imediatamente com esta loucura”, acrescentou neste sábado o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em uma mensagem na rede social X.

Depois dos últimos bombardeios israelenses e de "uma noite de imensa angústia", as famílias dos reféns detidos pelo Hamas, na sua maioria israelenses, declararam estar "preocupadas" com o seu destino e exigiram explicações ao governo de Benjamin Netanyahu.

Segundo o Exército de Israel, 229 reféns - israelenses, de dupla nacionalidade ou estrangeiros - foram capturados em 7 de outubro pelo Hamas e levados à força para Gaza. Desde então, os islamitas libertaram quatro mulheres cativas.

Na quinta-feira, o Hamas disse que quase 50 reféns morreram nos ataques israelenses.

Corte de comunicações 
Os bombardeios noturnos coincidiram com um anúncio de comunicações e Internet na Faixa de Gaza.

O Crescente Vermelho palestino e várias ONGs e agências da ONU afirmaram ter perdido contato com suas equipes em Gaza.

As operações humanitárias e a atividade hospitalar “não podem continuar sem comunicações”, anuncia Lynn Hastings, coordenadora do gabinete de assuntos humanitários da ONU.

Além disso, esta situação “também impede que as ambulâncias cheguem aos feridos”, afirmou o diretor da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

“Este bloqueio de informação cria o risco de encobrir atrocidades em massa e de contribuir para a impunidade da divulgação dos direitos humanos”, afirmou a Human Rights Watch.

O enclave palestino está sujeito a um bloqueio terrestre, marítimo e aéreo israelense há 16 anos, ao qual se soma, desde 9 de outubro, um "cerco total" por parte do Estado hebreu. O porta-voz militar Hagari esclareceu que neste sábado será permitida a entrada de alimentos, remédios e água para a população de Gaza.

Desde 21 de outubro, apenas 84 caminhões de ajuda humanitária chegaram a Gaza vindos do vizinho Egito, segundo a ONU, que estimam que seriam necessários pelo menos cem por dia.

Ao mesmo tempo, a tensão atinge seu ponto mais alto na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel desde 1967. Mais de uma centena de palestinos morreu pelas mãos de soldados ou colonos israelenses desde 7 de outubro.

Na fronteira norte com o Líbano, também há trocas de tiros quase diárias entre as forças de Israel e o Hezbollah desde essa data.