Coluna Movimento Econômico

Com reforma tributária, fornecedores de montadoras tendem a ir para BA

O parecer pode atrapalhar os planos de investimentos da Stellantis e das empresas que são potenciais fornecedores do seu Supplier Park

Com chegada da BYD a Bahia, o Supplier Park da antiga fábrica da Ford tende a concentrar maior volume de fornecedores, caso o texto da reforma tributária seja aprovado como está - Foto: divulgação Ford

O parecer da reforma tributária, de autoria do senador Eduardo Braga (MDB-AM), traz um equívoco: trata os incentivos ao setor automotivo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste como política setorial, quando na verdade é um mecanismo de fomento à economia regional.

O parecer pode atrapalhar não só os planos de investimentos da Stellantis, que entrariam num novo ciclo bilionário em 2024, mas também os de empresas que são potenciais fornecedores do seu Supplier Park.

O planejamento estratégico da Stellantis está orientado para eliminar o gap competitivo que existe entre produzir um mesmo automóvel no Sudeste e no Nordeste. A montadora conta atualmente com 38 fornecedores instalados em Pernambuco e quer chegar a 100 para montar uma cadeia de valor robusta.

Em recente comunicado a stekeholders, o CEO da Stellantis, Antonio Filosa, disse que o fomento é extremamente necessário e se justifica porque a cadeia automotiva é estruturante, longa e demanda tempo para sua consolidação, diante dos altos investimentos que requer. Só em Goiana já são R$ 18,5 bilhões investidos pela companhia. Ali, a montadora consome matérias-primas, insumos e componentes de inúmeros outros setores, retroalimentando a economia.

Numa visita recente ao Supplier Park, o Movimento Econômico viu que só um dos fornecedores, a Faurecia, manipula diariamente 47 mil peças para produzir os consoles, painéis e portas. Empresas como esta também serão impactadas se o texto da reforma tributária for aprovado como está.

O texto diz que só projetos em plantas fabris já existentes ou novos projetos que aproveitem plantas já existentes serão beneficiados – desde que os veículos produzidos sejam dotados de tecnologia descarbonizante (elétricos ou híbridos com motor a combustão que utilizem álcool combustível). Em outras palavras: se apenas 10% dos carros que saírem da linha de produção forem elétricos/híbridos, só 10% das peças fornecidas serão beneficiadas.

Isso claramente cria uma barreira de entrada para novas operações. Esse percalço ocorre justamente num momento de transição energética, onde novos entrantes mais especializados são necessários para prover o setor com equipamentos e tecnologias que, operando de forma tradicional, ele ainda não dispõe.

A partir de 2024, a Stellantis começa a produzir novos modelos híbridos/elétricos, mas a produção terá crescimento gradativo. A reforma tributária como está hoje deixaria de fora mais de 90% da produção da montadora.

Em recente entrevista ao Movimento Econômico, Juliano Alex de Almeida, vice-presidente de Compras da Stellantis para América do Sul, disse que para atrair novos fabricantes será preciso alcançar a produção de pelo menos 200 mil veículos e que a chegada da BYD ao Nordeste pode contribuir para potencializarmos a atração de novos parceiros locais, ajudando a diluir os seus custos.

A tendência é que esses fornecedores migrem para Camaçari, onde se instalará BYD. Ali, nas antigas instalações da Ford, os chineses terão produção 100% elétrico híbrido e é ali que os fornecedores terão direito a 100% dos benefícios.

Movimentação no Senado

O senador Humberto Costa disse que está sendo feito esforço tanto do governo estadual quanto dos senadores para mudar o texto. O presidente Lula tem interesse no assunto e um pedido seu pode junto ao relator pode mudar o texto.

Costa pretende conversar com o presidente Lula nos próximos, mas entende que o feriado da semana (Dia de Finados) atrapalha um pouco. O prazo é curto. O relatório vai ser votado em 15 dias na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, sendo aprovado, vira parecer da Comissão e vai ao plenário.

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