Colômbia

Análise: onda esquerdista na Colômbia vira marola após revés em eleições regionais

Aliança de esquerda liderada pelo presidente Gustavo Petro foi derrotada nas principais cidades do país, entre elas a capital Bogotá, Medellín e Cali, e perde força para aprovar reformas

Presidente da Colômbia, Gustavo Petro - Daniel Munoz/AFP

Nas eleições regionais de 2019 e nas presidenciais de 2022, a Colômbia fez um giro à esquerda num país que há décadas era controlado por partidos de centro-direita e, no início deste século, pela direita liderada pelo ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010). Mas o que parecia uma onda histórica de mudanças, que teve seu auge na eleição de Gustavo Petro para presidente do país, em meados do ano passado, está se transformando em marola.

O resultado das eleições regionais do último domingo — nas quais estavam em jogo 20 mil cargos públicos, entre eles de governadores e prefeitos — mostrou que milhões de eleitores colombianos decidiram fazer um giro à direita. A ampla derrota da coalizão governista nas principais cidades do país confirma o desgaste rápido dos governos na América Latina. E a derrota sofrida por Petro, primeiro presidente de esquerda da História do país, é ainda mais amarga pelo tamanho da expectativa que sua eleição despertou.

Em pouco mais de um ano, Petro conseguiu apenas aprovar uma reforma tributária que muitos consideram insuficiente. A lista de promessas não cumpridas — e que agora serão muito mais difíceis de sair do papel — inclui reformas nas áreas de saúde, educação, Previdência e normas trabalhistas. Como afirma o historiador Gonzálo Sánches, professor da Universidade Nacional, “o governo de Petro já é percebido como uma oportunidade perdida”.

A centro-direita e a direita venceram em colégios eleitorais importantes, como Medellín e Cali, e conseguiram uma vitória contundente em Bogotá, com Carlos Fernando Galán, filho do ex-candidato presidencial Luis Carlos Galán, assassinado em 1989 pelo narcotráfico.

O prefeito eleito, que foi secretário de Transparência do governo de Juan Manuel Santos (2010-2018), lidera o partido herdado de seu pai, o Novo Liberalismo, de centro-direita. Suas principais bandeiras nesta campanha foram segurança e ordem, numa capital latino-americana já governada pelo próprio Petro e que vive às voltas com aumento expressivo da violência. Há quatro anos, os habitantes de Bogotá elegeram a atual prefeita, Claudia López, do Aliança Verde, que integra o Pacto Histórico comandado por Petro.

A direita colombiana acordou mais feliz nesta segunda-feira (30), comenta Dario Montoya, ex-embaixador do país no Brasil. Para ele, ligado ao ex-presidente Uribe, seu país deu um giro para voltar a um status quo do qual nunca deveria ter saído, e que tem, agora, melhores chances para as presidenciais de 2026 — num país que não tem reeleição.

É da jornalista María Jimena Duzán, criadora de um dos Podcasts mais ouvidos no país, o A Fondo, disponível na plataforma Spotify, a síntese do momento: a derrota eleitoral do Pacto Histórico de Petro, diz, representa o fracasso de “um movimento que tinha como bandeira a esperança”.