Ubira Machado fotógrafo, multiartista e recifense; confira entrevista
A especialidade do artista é a captação de moda
Casamentos, drinques, ensaios de moda, shows e até mesmo inteligência artificial. Esses são alguns dos temas por trás das fotos de Ubira Machado, multiartista recifense de 32 anos. Ele Já trabalhou com a marca Zarina Moda Afro, no editorial Aladê, já teve suas obras expostas no Museu da Abolição, no bairro da Madalena, com mais 19 artistas negros de Pernambuco, e fez parte de uma exposição de moda no Cais do Sertão, durante o último Rec 'n' Play.
Assim como muitos fotógrafos mais contemporâneos, Ubira já explorou funções da câmera do seu celular e experimentou criar com colagens e recortes. Mas, antes, quando ainda era criança, ele conta que sua mãe já via um artista dentro dele.
“Eu já brincava, né? Curiosamente, minha mãe até comentava que eu tinha uma câmera de brinquedo, e ela me viu uma vez me divertindo com ele e já tinha percebido que já existia ali alguém querendo criar arte”, relembra.
Com o desejo de fotografar e trabalhar com artes visuais, ele foi atrás do “Oi Kabum!”, uma escola de arte e tecnologia. Lá, passou na seleção para a formação em vídeo, computação gráfica, design e fotografia.
“Eu vi ali uma grande jogada, uma oportunidade na vida, para que eu pudesse mergulhar na fotografia, né? Durante o processo, eles identificavam como era mais ou menos o perfil que a gente se encaixava, e direcionavam a linguagem. Eu acabei sendo incluído em fotografia. E a partir daí foi que, de fato, as aberturas de portas começaram a acontecer. Querendo ou não, a gente sabe o quanto é importante para uma pessoa negra, LGBT e periférica alcançar alguns lugares através do seu trabalho”, enfatiza Ubira.
Explorando o audiovisual
No curso, ele adquiriu diversas experiências e habilidades que usa até hoje, como design, captação de imagem para vídeo, edição de imagem e até computação gráfica. Foi nessa escola que ele entendeu que, de fato, a produção visual fazia parte de si. Decidiu continuar os estudos e há dois anos estuda no Instituto Federal de Pernambuco, em Olinda.
“Veio a calhar num período bem complicado. Eu perdi minha mãe e aí fui inserido no curso de artes visuais, então foi crucial para mim. Eu vejo hoje a fotografia e o audiovisual como suportes magníficos, porque através deles eu posso ampliar as dimensões, literalmente”, conta.
“MARTE3000"
Um ano atrás foi lançado o chat GTP, que foi considerado o primeiro grande passo do desenvolvimento de inteligência artificial. A partir dele, outras grandes empresas como Google, Microsoft e Apple criaram seus próprios programas e elevaram ainda mais as discussões por trás dessas novas tecnologias.
Uma delas é sobre a criação de imagens falsas, ou seja, praticamente deixar um computador fazer uma pintura para você. Apesar das polêmicas, diversos artistas se adaptaram a essa nova maneira de produzir “arte” e utilizam essas plataformas nos seus trabalhos, às vezes de forma direta, às vezes de forma indireta. Ubira é um deles, e usou de inteligência artificial no seu projeto editorial de moda afrofuturista “MARTE3000”.
“Quando eu vi esse ‘boom’ [da inteligência artificial], não estava tão por dentro, mas sou curioso nas tecnologias. A gente que trabalha com imagem e que trabalha na internet tem que estar antenado, nem que seja minimamente sobre o assunto, né? Então, de repente, virou uma obsessão. É massa a possibilidade de poder criar coisas que você jamais ia conseguir fazer com uma camêra”, comenta Ubira.
“Querendo ou não, elas não são tão inteligentes assim. Elas precisam da gente. E eu acho que é importante a gente se apropriar desse poder e utilizar a inteligência artificial como algo para nos beneficiar, otimizar o nosso trabalho ou realizar um sonho mesmo. E não ficar com esse medo de que os robôs vão dominar o mundo”, completa.