Bate-boca e suspeitas de corrupção: veja polêmicas da Coroa da Espanha, que oficializou Leonor
Clã se reuniu pela primeira vez em cinco anos no dia em que princesa jurou lealdade à Constituição do país
O dia em que a Princesa das Astúrias, Leonor, jurou lealdade à Constituição culminou com um encontro familiar que não ocorria havia cinco anos. O jantar de celebração do 18º aniversário da herdeira do trono reuniu os pais dela — o rei Felipe VI e a mulher, a rainha Letizia —; a irmã Sofía; as tias Elena e Cristina, com os filhos; a avó, rainha emérita Sofia; e também o avô, o rei Juan Carlos I, que abdicou do trono em meio a escândalos e se mudou para os Emirados Árabes Unidos para proteger a imagem da Coroa.
O rei emérito não foi convidado para a cerimônia de juramento para que não se tornasse o centro das atenções mediáticas. Mesmo contrariado, aceitou a decisão. Ele aterrissou na capital espanhola no início da tarde desta terça-feira, num jato privado disponibilizado pelo emir de Abu Dhabi e presidente dos Emirados Árabes Unidos (EAU), Mohamed bin Zayed. À noite, chegou ao Palácio Real e cumprimentou as dezenas de pessoas que acompanhavam o movimento na entrada. Leonor e os pais chegaram na sequência. A herdeira do trono não encontrava o avô havia mais de três anos.
Felipe VI, Letizia e Juan Carlos I estiveram juntos no funeral da rainha Elizabeth, no Reino Unido, em setembro passado. No entanto, Leonor e a irmã não estiveram presentes. A última vez em que a família real havia se reunido desta forma foi em novembro de 2018, no 80º aniversário da rainha emérita Sofia.
O reencontro do clã trouxe à tona as polêmicas, como as de Juan Carlos, que a Coroa espanhola buscou driblar nos últimos anos. Veja abaixo alguns episódios envolvendo a família real.
Renúncia por suspeita de corrupção
A renúncia de Juan Carlos I ao trono foi anunciada em 2 de junho de 2014 e oficializada em 19 de junho do mesmo ano. Em agosto de 2020, o rei emérito disse que havia decidido se mudar para fora da Espanha, num momento em que avançava a investigação do Supremo Tribunal espanhol sobre suspeitas de corrupção e desvios de dinheiro no exterior. Naquele momento, ele já havia deixado de participar de eventos da Coroa, num esforço para preservar a imagem do clã em meio ao escândalo.
Na ocasião, Juan Carlos afirmou que deixaria o país para que o filho, o rei Felipe VI, seu sucessor, pudesse desenvolver o papel de chefe de Estado "com tranquilidade", ante a repercussão pública do caso. Ele deixou o palácio rumo aos Emirados Árabes Unidos meses depois de o filho retirar a verba que lhe era atribuída.
O aniversário de Leonor foi apenas a quinta vez que Juan Carlos voltou à Espanha desde a despedida. Segundo o "El País", todas as investigações judiciais pendentes foram arquivadas, "algumas por falta de provas e outras pela imunidade de que gozou até a sua abdicação em 2014".
Processo de amante
Em outubro deste ano, o último caso pendente na Justiça teve desfecho favorável ao rei emérito — não sem antes causar mais desgaste à figura de Juan Carlos I. Um tribunal de Londres se declarou "incompetente" para analisar se ele havia ou não assediado a ex-amante Corinna zu Sayn-Wittgenstein-Sayn. Ela, com quem manteve relações entre 2004 e 2009, exigia do monarca 126 milhões de libras (mais de R$ 850 milhões).
Em sua decisão anunciada por escrito, a juíza Rowena Collins Rice concluiu que "o Tribunal Superior de Inglaterra e País de Gales não tem jurisdição para julgar" este caso. A magistrada ressaltou que a denunciante "não demonstrou suficientemente" que os fatos que deram origem à sua denúncia ocorreram na Inglaterra.
A ex-amante do espanhol alegava que era assediada desde 2012 por Juan Carlos I, hoje com 85 anos, na tentativa de recuperar "presentes".
Caça em Botswana
Em 2012, após cair, fraturar o quadril e precisar ser operado, o rei da Espanha se tornou alvo da ira de espanhóis e estrangeiros. Isso depois da revelação de que acidente ocorrera enquanto ele participava de uma caça a elefantes em Botswana. Na época, ele ocupava o cargo de presidente de uma das mais representativas organizações de defesa do meio ambiente — o Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Apenas um site reuniu 60 mil assinaturas pedindo a cabeça de Juan Carlos I enquanto membro da organização. Juan Carlos pediu desculpas pelo ato.
Em 2006, o jornal russo "Kommersant" divulgou a informação de que o espanhol participou de uma caçada a urso junto com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Para facilitar, o animal teria sido embriagado ou drogado. A Casa Real desmentiu a reportagem. Os casos contribuíram para o desgaste da imagem de Juan Carlos I e aceleraram a decisão de abdicar do trono em favor do filho.
Bate-boca entre mãe e avó
Um "barraco real" repercutiu fortemente na Espanha em abril de 2018. As rainhas Letizia e Sofia — nora e sogra, mãe e avó de Leonor — protagonizaram um clima de tensão na tradicional missa de Páscoa, realizada na Catedral de Palma de Maiorca. Sobrou para o rei Felipe apaziguar o desentendimento entre a mãe e a mulher.
Na saída da cerimônia religiosa, Sofia, rainha emérita, quis tirar uma foto com suas netas, as princesas Sofía e Leonor. No entanto, quando elas se posicionaram para os fotógrafos, a sua nora, Letizia, ficou na frente das câmeras para atrapalhar o registro.
No vídeo, divulgado pela imprensa espanhola, também é possível ver que a rainha Letizia colocou uma das mãos na sogra. Em seguida, a princesa Leonor tenta afastar a mão da sua avó de seu ombro. Letizia vai de um lado para o outro impedindo a visão do fotógrafo.
O rei Felipe VI, marido de Letizia, se aproximou para apaziguar os ânimos. Já o rei emérito Juan Carlos, perplexo, acompanhou parado o desentendimento entre as duas rainhas. A Coroa afirmou, mais tarde, que tudo não havia passado de um "mal-entendido".
Tia envolvida em polêmicas
Em 2016, pela primeira vez, um membro da família real da Espanha sentou no banco dos réus. Foi Cristina de Bourbon, irmã do rei Felipe VI e caçula de Juan Carlos I. Acusada de crime fiscal num escândalo de corrupção protagonizado pelo seu então marido, ela já havia perdido o título de duquesa em meio à repercussão do caso, por decisão do irmão monarca.
Sexta na linha de sucessão, Cristina era investigada por suposta ligação com crimes contra a Fazenda Pública cometidos pelo marido, Iñaki Urdangarin, no Instituto Noós. Então genro do rei, em 2010, ele foi acusado de desviar milhões de euros vindos de diversas administrações públicas. O ex-jogador de handebol acabou sendo condenado a seis anos e três meses de prisão por integrar um esquema de utilização indevida de recursos públicos, fraude, tráfico de influência e delitos contra o Fisco.
A acusação considerou, ao longo da investigação, que Cristina havia exercido um papel "decorativo" nas empresas do marido. Ela foi absolvida dos delitos, mas, assim como Urdangarin, precisou pagar multa de quase R$ 900 mil, em valores da época. Os dois anunciaram o divórcio em 2022.