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Filho de Trump dá início a série de depoimentos do clã em julgamento que ameaça seu império

Com 45 anos, Donald Trump Jr. é o primeiro membro da família a prestar depoimento ao juiz Arthur Engoron

Donald Trump Jr. no tribunal, ao lado da advogada - Seth Wenig/pool/AFP

Donald Trump Jr., o filho mais velho do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, compareceu nessa quarta-feira (1º) a um tribunal civil de Nova York por um caso de fraude financeira que coloca em risco o império empresarial da família.

Com 45 anos, Donald Trump Jr. é o primeiro membro da família a prestar depoimento ao juiz Arthur Engoron, e em seu testemunho afirmou que não lidava com os documentos financeiros no centro da acusação.

Na quinta-feira, será a vez de seu irmão Eric Trump, de 39 anos, seguido pelo próprio Donald Trump e depois sua filha Ivanka, que, no entanto, entrou com um recurso para não depor.

Don Jr., vice-presidente executivo da Trump Organization, é acusado, assim como seu pai e seu irmão Eric, pela procuradora-geral do estado de Nova York, Letitia James, de inflar os ativos do grupo em centenas de milhões de dólares para obter empréstimos bancários mais favoráveis e melhores condições de seguro.

O filho mais velho de Trump compareceu ao tribunal nesta quarta-feira e confirmou seu papel na Trump Organization, um conglomerado de empresas que gerencia arranha-céus residenciais e comerciais, hotéis de luxo e campos de golfe em todo o mundo.

Durante seu interrogatório, a representante da promotoria, Colleen Faherty, perguntou quem estava no comando do grupo quando seu pai iniciou seu mandato presidencial em janeiro de 2017.

"Eu mesmo, meu irmão (Eric) e Allen Weisselberg", respondeu Don Jr. Weisselberg é o ex-diretor financeiro da empresa, que foi condenado à prisão no ano passado por fraude fiscal.

O filho mais velho dos Trump também afirmou à promotoria que não sabe como funciona a contabilidade de uma empresa.

"Deixo isso para os meus CPA", referindo-se aos contadores certificados pelo governo encarregados de emitir relatórios sobre empresas.

Considerado pela promotoria como responsável pelos estados financeiros anuais de Donald Trump desde 2016, o primogênito do ex-presidente explicou que confiava na empresa de contabilidade Mazars.

"Eu não estava envolvido na preparação desse documento", acrescentou. "Os contadores cuidam disso, é para isso que os pagamos".

No entanto, a procuradora Letitia James escreveu em sua conta na rede social X, antigo Twitter, que "Trump Jr. está envolvido há muito tempo nas operações comerciais fraudulentas de sua família".

Se Trump, com 77 anos, subir ao púlpito na sala do tribunal em Manhattan, onde o julgamento está ocorrendo, será a primeira vez que irá depor publicamente em qualquer um dos vários casos civis e criminais que enfrenta.

Trump e seus filhos não correm o risco de serem presos neste caso, mas poderiam perder o controle de parte de suas propriedades imobiliárias, enfrentar uma multa de US$ 250 milhões (R$ 1,25 bi) e serem proibidos de administrar empresas em Nova York.

- "Deixe meus filhos em paz" -
Antes do depoimento de seu filho, Donald Trump atacou o juiz Engoron, que preside o caso.

"Deixe meus filhos em paz, Engoron. Você é uma vergonha para a profissão judicial", escreveu o ex-presidente em sua rede Truth Social.

Fiel ao seu estilo, Trump chamou o juiz de "louco, totalmente desequilibrado e perigoso" e de "fazer o trabalho sujo para o Partido Democrata" para impedi-lo de retornar à Casa Branca, e chamou a procuradora James de "corrupta".

Desde o início do julgamento, em 2 de outubro, o juiz já impôs multas significativas ao bilionário - de US$ 5 mil e US$ 10 mil (R$ 25 mil e R$ 50 mil) - por seus ataques à secretária judicial do tribunal que o julga.

A filha do ex-presidente, Ivanka Trump, que deixou a Organização Trump em 2017 para se tornar conselheira na Casa Branca, está convocada para testemunhar dois dias após seu pai, mas na quarta-feira ela apelou da decisão do juiz de interrogá-la.

Repetidas fraudes
Os advogados alegam que a valorização dos ativos do grupo, como a Trump Tower e o edifício 40 de Wall Street, foi subjetiva, mas honesta, e que os bancos não perderam um único dólar ao emprestar dinheiro à Organização Trump.

Mas segundo Michiel McCarty, diretor do banco de investimentos M.M. Dillon & Co, que subiu na tribuna como perito nesta quarta, bancos que concedem empréstimos, como o Deutsche Bank, poderiam ter fixado taxas de juros mais altas se tivessem uma imagem menos vultosa da situação financeira de Donald Trump.

Ele revisou quatro empréstimos para financiar projetos em torno de um campo de golfe na Flórida, dois hotéis de luxo em Washington e Chicago, além do prédio 40 em Wall Street, e estimou os prejuízos com juros em 168 milhões de dólares (R$ 873 milhões, na cotação atual) entre 2014 e 2023. Este cálculo foi impugnado pela defesa.

Antes do início do julgamento, o juiz Engoron decidiu que a acusação tinha apresentado "provas conclusivas de que, entre 2014 e 2021, os acusados inflaram os bens" entre "812 milhões (e) 2,2 bilhões de dólares" (4 e 11 bilhões de reais), dependendo do ano.

Em consequência da "fraude reiterada", ordenou a venda das empresas, uma verdadeira bomba judicial e patrimonial, mas sua decisão foi suspensa após um recurso.