ELEIÇÕES

Saída de Braga Netto da disputa do Rio evidencia dificuldade do PL de emplacar candidatos

Nos maiores colégios eleitorais do país, ainda não há consenso sobre qual nome lançar no pleito

General Braga Neto - Beto Barata/PR

Com planos de eleger mais de mil prefeitos em 2024, o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, ainda patina para montar palanques em pelo menos nove das 15 capitais onde indicou a intenção de lançar candidaturas. Nas cidades dos três maiores colégios eleitorais do país, apenas em Belo Horizonte há consenso sobre lançar o deputado estadual Bruno Engler. Já em São Paulo e no Rio a sigla ainda bate cabeça sobre o melhor nome a menos de um ano da disputa.

Na capital fluminense, berço político do bolsonarismo, o PL precisou rever sua estratégia após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condenar o general Walter Braga Netto à inelegibilidade na semana passada. O ex-ministro da Defesa era o mais cotado para tentar evitar a reeleição do atual prefeito, Eduardo Paes (PSD).

Apesar de lideranças do partido defenderem o nome do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) na disputa, ainda não há acordo para que ele seja mesmo o candidato. Filho mais velho do ex-titular do Planalto, o senador Flávio Bolsonaro afirmou ao jornal “Folha de S.Paulo” que o “martelo não está batido”, citando outros parlamentares que poderiam carregar a bandeira do bolsonarismo na eleição municipal, como o senador Carlos Portinho e o deputado Luiz Lima.

O próprio Flávio tentou se viabilizar como candidato na cidade no início do ano, mas a iniciativa foi barrada pelo seu pai, que vê com mais simpatia a permanência do filho no Senado.

Plano B
A Justiça Eleitoral também deve influenciar a escolha do candidato da legenda em Curitiba. O ex-deputado federal Paulo Martins é o nome da sigla para disputar a prefeitura, mas ele tem preferência por tentar uma cadeira no Senado em caso de cassação do senador Sergio Moro (União-PR). Martins foi derrotado nas urnas pelo ex-juiz no ano passado, mas o PL entrou com um pedido de perda de mandato sob alegação de erro na prestação de contas.

— Se a Justiça cassar Moro e der tempo de o Paulo Martins concorrer ao Senado, nós acompanharemos o candidato do governador (Ratinho Jr.), que é o Eduardo Pimentel (PSD). Se cassarem o Moro depois das eleições municipais, o nosso candidato é o Paulo Martins — afirmou o presidente do PL no Paraná, deputado Giacobo.

Em outras capitais a dúvida que assola o PL é se lança um candidato próprio ou apoia um aliado com mais chance de vitória. Em São Paulo, por exemplo, o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, afirma que Bolsonaro é quem vai decidir se subirá no palanque do atual prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), ou se apostará em um nome mais alinhado às suas bandeiras, como o deputado Ricardo Salles. Diante da indefinição, o ex-ministro negocia sua saída do PL para viabilizar a candidatura em outra legenda.

— Não tenho dúvidas que o Bolsonaro vai eleger muitos prefeitos. Quanto ao Ricardo Nunes, que é a nossa preferência, precisamos aguardar decisão do Bolsonaro. É ele quem vai decidir — disse Valdemar ao Globo.

Uma das possibilidades é Bolsonaro apoiar Nunes, mas indicar um nome como vice. Uma das cotadas é Sonaira Fernandes, secretária de Políticas para a Mulher do governo Tarcísio de Freitas.

Ala pragmática
Para o cientista político Leandro Consentino, professor do Insper, o PL trafega em duas vias nessas eleições. De um lado, há uma tentativa de expor mais o partido e o bolsonarismo, o que interessa ao ex-presidente. De outro, uma visão mais pragmática, em busca de alianças, já tendo em vista 2026, quando a sigla tentará eleger mais deputados para conquistar fatias maiores do fundo partidário e do tempo de televisão.

— São Paulo é um caso clássico, onde uma ala mais tradicional tem essa visão mais pragmática, apoiando a candidatura de Nunes, e uma mais ideológica, que gostaria de ver lançado um candidato próprio — disse Consentino.

A exemplo de Salles, nomes mais ligados ao bolsonarismo também tentam a chancela do ex-presidente para entrar na disputa, a despeito de negociação do PL para compor alianças. Em Belém, por exemplo, o deputado Eder Mauro, apoiador de primeira de hora de Bolsonaro, é uma das possibilidades, mas Delegado Eguchi (PTB) aparece como opção de candidato da direita.

O mesmo cenário é observado em Manaus, em que Coronel Alfredo Menezes (PL), amigo do ex-presidente, tenta se viabilizar como candidato. O partido, no entanto, pode compor a aliança do atual prefeito, David Almeida (Avante), que vem oscilando em acenos a Lula e a Bolsonaro desde a campanha do ano passado, de olho na reeleição.

Em Fortaleza, o PL ainda não decidiu entre dois nomes do próprio partido, o deputado federal André Fernandes e o deputado estadual Carmelo Neto. O mesmo acontece em Natal, onde as discussões são com os nomes dos deputados federais Sargento Gonçalves e General Girão.

Já em Porto Alegre, o PL definiu que não será cabeça de chapa. A decisão foi pelo apoio à reeleição de Sebastião Melo (MDB), com a indicação de Ricardo Gomes como vice.