Inspiração

Antonino Tertuliano, uma história que será contada em documentário

Ao abraçar a oportunidade que teve na Orquestra Criança Cidadã, Antonino também começou a escrever sua trajetória de realizações

Pernambucano Antonino Tertuliano toca contrabaixo - Divulgação/Andrea Bucci

ROMA - Antonino Tertuliano, 30 anos, músico da Filarmônica de Israel. Antonino saiu do Coque, comunidade situada no Centro do Recife, e ganhou o mundo através da Orquestra Criança Cidadã, na qual entrou na sua primeira formação, em 2006. A infância não foi fácil, mas junto às dificuldades veio algo bem mais forte: a vontade de crescer. E foi essa vontade e a disciplina que fizeram Antonino ser o que é hoje: um exemplo. Sua história será eternizada em um documentário que está sendo produzido e tem como título provisório: “Coque e Tel Aviv, a ascensão de um artista”.

Ao abraçar a oportunidade que teve na Orquestra Criança Cidadã, Antonino também começou a escrever sua trajetória de realizações. Em 2017, veio uma grande conquista: entrou para a  Escola de música Buchmann-Mehta, em Israel, e, em 2021, passou na Filarmônica do país. E ainda este ano iniciará o mestrado em contrabaixo na Universidade de Salzburgo, na Áustria.

 Pernambucano Antonino Tertuliano. Foto: Divulgação

A aprovação na prova na instituição austríaca veio na hora certa, pois Antonino mora na cidade israelense de Tel Aviv e estava justamente na Áustria por causa do processo seletivo do mestrado quando iniciou-se o conflito entre o Hamas e Israel. “Eu estava em em Salzburgo um dia antes do meu embarque para Israel. Só iria iniciar o mestrado em março”, conta, explicando que precisou recorrer para antecipar o início do curso e conseguiu.

 
 
 
 
 
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O artista, que tem o contrabaixo como uma missão de vida, fala das filmagens do documentário, dos projetos futuros e um pouco de como chegou até aqui. 

O documentário
O documentário “Coque de La Vive, a ascensão de uma artista” (título provisório) está sendo produzido e dirigido pelo documentarista e produtor cultural Amaro Filho.

“Acabamos de concluir a primeira etapa do documentário, que foi a parte Coque”, diz, lembrando como a história dele chegou até Amaro. “Ele entrou em contato comigo através do meu ex-professor, meu amigo, João Pimenta (professor da Orquestra Criança Cidadã). Ao ouvir minha história, disse que era digna de documentário. Eu nem acreditei, como pode?”, conta, emocionado.

Dessa percepção para as filmagens não demorou muito. As conversas com Amaro começaram no ano passado, em setembro.

“Tivemos em média de 7 a 9 encontros via Zoom. Nesses encontros o Amaro descreveu toda a nossa conversa e fez um texto de 30 páginas. Eu me emocionei com a trajetória desse jovem que vem traçando esse percurso que muitos subestimam e até não esperam que isso venha a acontecer, esse sucesso”, disse.

As filmagens para o documentário começaram em setembro deste ano, mas precisaram ser pausadas devido ao conflito porque a próxima fase teria locação em Tel Aviv, onde Antonino fixou residência.

“O propósito maior desse documentário é propagar a esperança, é provar que independentemente da classe social, ou do grupo no qual você está inserido na sociedade, podemos nos sobressair", enfatiza.

Mas para se dedicar à música foi preciso fazer escolhas, abrir mão de momentos com a família,  amigos porque o estudo e o aprimoramento requerem disciplina.  "Eu encontrei na música uma porta da qual muitos esperam, mas poucos procuram", declara.

Vida no Coque
Assim como a grande maioria dos jovens da comunidade, Antonino estudava, jogava bola, soltava pipa, mas também conhecia a violência. Um lado que fazia parte da realidade de muitos e ainda hoje faz. "Não tínhamos muita perspectiva de futuro. Mas aprendi muito com isso. No Coque, nós tínhamos a violência como entretenimento", lembra.

Contrabaixo em Tel Aviv
O contrabaixo, instrumento de trabalho de Antonino, está em no seu apartamento em Tel Aviv e infelizmente ainda não pode reavê-lo devido aos conflitos entre Hamas e Israel. "Tem um valor sentimental, não tem preço, o valor emocional é enorme. O instrumento que eu deixei em Tel Aviv não encontrarei em lugar nenhum “, lamenta. Foi através desse instrumento que Antonino passou na Filarmônica de Israel. 

Recado de superação
O caminho não é fácil, mas tudo é possível quando se tem um objetivo e a oportunidade. A isso, Antonino juntou sua obstinação em vencer, em superar as barreiras. 

“Acredito que mesmo se hoje eu não fosse músico, qualquer outra tarefa que eu fosse exercer, eu iria me entregar tal qual à música. A música ativou isso em mim”, define e arremata: “Todos nós temos isso. Só precisamos prestar atenção”.

*Jornalista viajou a convite da Obra de Maria