Vaticano

Orquestra Criança Cidadã e músicos russos, ucranianos e italianos fazem apresentação histórica

O Concerto pela Paz reuniu uma multidão de fiéis na Sala Paulo VI, no Vaticano, no último sábado (4). Papa emocionou ao cumprimentar o público percorrendo o local; evento encerrou programação da Renovação Carismática Católica

Apresentação da Orquestra Criança Cidadã no Vaticano, diante do Papa Francisco - Leusa Santos/Folha de Pernambuco

ROMA - Sábado, tarde de 4 de novembro de 2023. A Basílica de São Pedro, no Vaticano, estava apinhada de fiéis no dia de ontem. O altar da Sala Paulo VI aguardava o Papa Francisco para o encerramento do encontro "Chamados, Transformados e Enviados", promovido pelo Serviço Internacional para a Renovação Carismática Católica (Charis), do qual a Obra de Maria faz parte.

Quando o Sumo Pontífice adentrou no local, o público o aplaudiu em uníssono. Do lado direito do altar, 53 músicos brasileiros, russos, ucranianos e italianos entoando "O Messias", do compositor alemão-britânico Georg Friedrich Händel. Era a primeira das dez peças que seriam executadas naquela tarde memorável. 

A Orquestra Criança Cidadã, de Pernambuco, anfitriã do convite aos músicos das outras nacionalidades, iniciava uma apresentação coroada de simbolismo, em um apelo à paz no mundo. A apresentação da primeira peça musical precisou ser interrompida devido às manifestações de emoção do público.

O Pontífice, sempre com um semblante acolhedor, agradeceu e lembrou a todos da importância da paz. Preocupado com os conflitos que assombram o mundo, afirmou: "A guerra destrói também a memória dos passos dados em direção à paz. A guerra destrói tudo. Não faz outra coisa a não ser destruir", disse.

Orquestra Criança Cidadã em apresentação diante do Papa Francisco, no Vaticano. Foto: OCC/Divulgação

Falou do papel das comunidades carismáticas na expansão pelo mundo, através do trabalho de líderes locais, de seminários com experiências transformadoras. E também da necessidade de não julgar o outro. "Nunca se esqueça de que sua tarefa não é julgar quem é ou não um carismático autêntico, mas sim ser uma ligação para oferecer apoio e conselhos", declarou.

Fez referência a Dom Helder Câmara (1999-1999), arcebispo emérito de Olinda e Recife e um dos fundadores da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), destacando o seu trabalho no acolhimento aos pobres. O processo de beatificação de Dom Helder avança na Santa Sé.

Falou para a Orquestra Criança Cidadã, destacando o trabalho de inclusão que é realizado com os jovens. Palavras que marcarão para sempre a vida desses artistas que, mesmo com as dificuldades da periferia, abraçaram a oportunidade que veio através da música.

O fundador da Orquestra Criança Cidadã, o juiz João José Targino, fez um discurso emocionado na sua saudação ao Papa e mostrou ao Pontífice um violino feito na Escola de Formação de Luthier e Archetier, onde os alunos aprendem a arte de fazer e reparar instrumentos de cordas. Em um gesto de reverência, Targino ajoelhou-se e recebeu a bênção do Santo Padre. "Foi um momento de muita emoção.  Ele tem uma energia impressionante", contou, depois da cerimônia.

 
 
 
 
 
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No discurso que fez ao Papa, Targino relembrou o surgimento da proposta dos "Concertos para a Paz", em abril de 2022, os quais reuniriam músicos brasileiros, ucranianos, russos e italianos numa demonstração de que não há guerra na arte. Proposta aceita e o resultado foi testemunhado por uma multidão, na tarde do último sábado.

"Neste solo sagrado do Vaticano, onde o Filho do Pai fez edificar sua igreja, que a presente manifestação artística possa converter-se em mais uma semente plantada, para a colheita dos frutos da paz universal e inclusiva entre todos os povos", afirmou Targino.

Dos 53 músicos, 25 são pernambucanos, 12 italianos, 8 russos e 8 ucranianos. Mas essa divisão é apenas protocolar. A organização da orquestra propôs que os jovens usassem bottons com a bandeira dos seus respectivos países, mas eles não quiseram.  "Eles disseram que queriam mostrar justamente que não há divisão na música e se fossem usar algum símbolo, seria do Brasil ", destacou Targino. 

Na sequência da cerimônia, a orquestra apresentou "No Reino da Pedra Verde", do pernambucano Clóvis Pereira, ex-maestro da Orquestra Armorial. O Papa assistiu. E a história da orquestra ganhava mais um capítulo na sua trajetória.

O Papa Francisco se despediu, passou pela orquestra e foi em direção ao público, cumprimentando várias pessoas na plateia. Lágrimas de emoção e gratidão em vários rostos. 

"Bachianas brasileiras n° 4", de Villa-Lobos, tomou conta do ambiente e, em singular harmonia, a Orquestra continuou a sua apresentação. No repertório,  dentre outras músicas,  "Oblivion", do argentino Astor Piazzolla. A peça teve como solistas no violino a russa Zlata Synkova e o ucraniano Oleksandr Puzankov, simbolizando a união e a necessidade de paz.

Essa simbologia foi justamente a coroação de um trabalho em conjunto, segundo o coordenador musical e maestro da orquestra, José Renato Acciolly. 

"Traz o significado da união e da fraternidade que a gente teve entre esses músicos. Foi um gesto extremamente importante nessa gota de esperança pela paz", disse. 

Ao lado dele, o maestro honorário,  Lanfranco Marcelletti, que também regeu as apresentações, destacou que a orquestra tocou perfeitamente e destacou a simbologia do momento. "A gente conseguiu provar realmente que com a arte, não tem guerra". 

Os jovens da Orquestra Criança Cidadã, desde os preparativos no camarim, esboçaram a tranquilidade de quem se preparou com afinco e ao mesmo tempo a ansiedade, natural de quem iria viver um momento histórico. 

"O coração começou a acelerar na hora da apresentação. Mas depois relaxei, porque a música tem esse poder de relaxar", disse André Ruan, 19 anos. 

Para eles, disciplina é, acima de tudo, a maior característica para dominar um instrumento.  "Porque é algo que vai requerer nossos esforços, muitas vezes vamos nos sentir cansados, mas através de um instrumento você se sente feliz, você consegue transferir suas emoções para as outras pessoas. É algo que supera a linguagem", definiu Alan Riquelme, 16 anos.

Presentes no evento, de Pernambuco estavam os desembargadores Jones Figueiredo Alves e Frederico Neves; Renata Campos, mãe do prefeito do Recife, João Campos, e viúva do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos; a ex-deputada federal Marília Arraes; e os deputados estaduais Sileno Guedes, além de Diogo Moraes e Antônio Moraes.

*A jornalista viajou a convite da Obra de Maria.