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"Descobri um vínculo incrível com a família do doador", diz mãe de garoto trasplantado

No Brasil, o processo de doação de órgãos é sigiloso, ou seja, nem o receptor, nem o doador sabem a identidade um do outro

Holly segurando seu bebê Jake, antes dele falecer repentinamente após dois meses; e as mães com Beckham depois de 16 anos do transplante - Reprodução

Beckham Scadlock tinha poucas semanas de vida quando seus pais descobriram que ele havia nascido com um grave defeito cardíaco congênito e que teria que ser submetido a uma cirurgia de transplante o quanto antes. A vida dele foi salva por outro bebê a 1.600 quilômetros de distância.

Jake Campbell, de dois meses, faleceu tragicamente e seus pais, Holly e Andy, deram permissão para que ele se tornasse um doador de órgãos. O coração de Jake salvou a vida de Beckham. As duas famílias se conheceram depois de alguns anos e descobriram que compartilhavam algo incrível entre elas: a primeira música que a mãe de Beckham, Kim, cantou para ele quando ele voltou da cirurgia foi a mesma que a mãe de Jake cantou para seu bebê enquanto lhe dava um beijo de despedida.

"Quando Holly me disse que cantou "For Good", de "Wicked", para Jake enquanto se despedia dele, senti um arrepio na espinha. Eu estava tremendo quando contei a ela que era a mesma música que me senti compelido a cantar para Beckham quando ele voltou da cirurgia. Dizemos que o coração sabia o que precisava ouvir. É um vínculo muito especial entre nossas famílias", disse Kim.

Depois de se conhecerem em uma reviravolta do destino, as duas famílias agora se consideram amigas para o resto da vida. Beckham, que agora tem 16 anos, se refere a Holly e Andy como seus "pais do coração" e aos outros filhos como seus "irmãos do coração".

Beckham nasceu em agosto de 2007, mas os médicos logo descobriram que ele tinha um sério sopro no coração e suas válvulas estavam vazando.

"O médico disse que suas válvulas cardíacas eram as piores que ele já tinha visto. Beckham estava aguentando, mas nos disseram que sua única esperança de sobrevivência era um transplante. Eu sabia o que isso significava. Como poderíamos orar por um coração para nosso filho quando sabíamos que estávamos desejando que outra pessoa perdesse seu filho?", disse a mãe do garoto.

Segundo Kim, a informação de outro coração chegou duas semanas depois e foi a espera mais angustiante da vida dela. Segundo ela, foi ver o musical "Wicked" quando estava grávida e adorou a música "For Good", uma das canções finais e um dos ápices do espetáculo, e percebeu que cantava acariciando o cabelo de seu bebê quando ele ia para a cirurgia. "Só pensei nisso anos depois, quando Holly me contou sua história", afirmou.

E enquanto Beckham se recuperava da cirurgia cardíaca, Holly e Andy, de Nova York, foram forçados a continuar a vida sem o filho de dois meses, Jake. O bebê foi encontrado sem respirar no berço após uma soneca e, apesar das tentativas desesperadas de Andy de realizar a reanimação cardiopulmonar, os médicos disseram à família que não havia nada que pudessem fazer para salvá-lo.

"Quando nos disseram que Jake não se recuperaria, perguntamos sobre a possibilidade de doação de órgãos, queríamos que algo de bom saísse do pior dia de nossas vidas", afirmou Holly. "Nos disseram que havia um menino de duas semanas em Iowa que precisava de um coração e era a combinação perfeita. Sabíamos que a família dele estava passando pela mesma coisa que nós e concordamos imediatamente".

Segundo Holly, ela também acariciava seu filho enquanto entoava os versos da música. Ela a descreveu como parte de um ritual "especial" entre ela e seu bebê. "Eu costumava andar por horas com ele segurando-o e cantando aquela música", diz.

No Brasil, o processo de doação de órgãos é sigiloso. Ou seja, nem o receptor, nem o doador sabem a identidade um do outro. A única exceção à regra é para o caso de alguém que já esteja ser beneficiado com doação do órgão aguardando de algum familiar falecido.

No caso de órgãos que podem ser doados por pessoas vivas como um rim, parte do fígado ou parte do pulmão, as equipes das Organizações de Procura de Órgãos (OPOs) buscam parentes de até quarto grau para avaliar a compatibilidade.

Holly, após o falecimento do seu filho, não conseguia parar de pensar em outra coisa a não ser quem foi o menino que recebeu o coração de seu filho e começou a procurar na internet a data e o estado do transplante e de alguma forma se deparou com uma notícia sobre o transplante de Beckham.

Eles descobriram que a família tinha escrito um blog sobre sua jornada e logo descobriram que Kim e seu marido Nate queriam entrar em contato.

"Foi maravilhoso saber que eles se importavam com Beckham e nossa família", disse Kim, acrescentando "estávamos muito entusiasmados e nervosos para escrever para eles".

As famílias trocaram cartas antes de combinarem um encontro nos Jogos dos Transplantes em 2010 um evento desportivo concebido para competirem receptores de órgãos e dadores vivos.

Holly acrescentou: "Ver Beckham crescer foi agridoce, mas significa muito para mim que ele esteja aqui e isso significa que Jake está aqui e sua vida ainda importa".