juros

Parcelado sem juros no cartão impulsiona a inadimplência, diz presidente do Itaú

Milton Maluhy defende reequilíbrio do modelo; Banco Central e instituições voltam a discutir rotativo do cartão nesta terça (7)

Milton Maluhy, presidente do Itaú - Divulgação/Itaú

O presidente do Itaú, Milton Maluhy, disse nesta terça-feira (7) que o parcelamento de compras sem juros no cartão de crédito é um grande impulsionador da inadimplência, no médio prazo. Segundo ele, antes de cair no rotativo, o consumidor passa pelo parcelado sem juros, que 'dá uma sensação de poder de compra' e no final uma parte importante da população, especialmente a de baixa renda e com pouco acesso à educação financeira, acaba indo para taxas do rotativo.

"Acabamos criando um meio de pagamento muito eficiente e, no final, pessoas que têm menos capacidade financeira e menos educação financeira acabam indo para o rotativo, com parcelamentos de fatura com taxas muito altas. Temos estudos que mostram que o parcelado sem juros é de fato um grande impulsionador da inadimplência no médio prazo" disse Maluhy durante apresentação dos resultados do banco do terceiro trimestre.

E complementou:

"O cartão de crédito é o meio de pagamento mais eficiente para o consumo no Brasil e representa 40%. O que a gente acredita é que há espaço para ampliar o consumo e o financiamento ao consumo no mercado como um todo" afirmou.

Nesta terça, acontece uma nova rodada de negociações entre bancos, adquirentes (maquininhas de cartão) e outros representantes desse ecossistema para discutir como baixar o juro do rotativo do cartão. Caso nenhuma solução consensual seja encontrada até o final do ano, vale o projeto de lei que estabelece que a dívida pode no máximo dobrar no período de um ano.

Maluhy afirmou que o Itaú, assim como outros bancos e a própria Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) tem se manifestado, é contra o fim do parcelado sem juros, "até porque quem criou esse parcelado foram os bancos e acreditamos na importância dele para a economia e para as pessoas".

Mas ele lembrou que não existe parcelado sem juros, porque enquanto o lojista tem que antecipar os recursos para fazer frente ao capital de giro, ele acaba embutindo no preço da mercadoria o valor da despesa financeira. Geralmente, os lojistas antecipam os recursos com as adquirentes, que segundo a Febraban, cobram juros muito elevados por essa antecipação.

Poder de fogo para o lojista
"Queremos levar para o lojista, na ponta, o poder de fogo de consumo para que ele consiga vender mais, melhor e a um custo mais baixo. Hoje as taxas de antecipação para os lojistas naturalmente têm um patamar. Se a gente conseguir levar a um nível de parcelado com juros mais competitivo, a gente aumenta a oferta (de crédito) para o consumidor como um todo" explicou Maluhy, lembrando que o Itaú é o maior emissor de cartões do país, assim como o maior adquirente, dono da marca Rede.

O presidente do Itaú disse que, ao longo dos anos, o parcelado sem juros ganhou relevância muito grande. Mas ele diz que é preciso olhar esse ecossistema na totalidade. Maluhy lembrou que no caso do Itaú dos R$ 120 bilhões de crédito oferecidos no cartão, apenas R$ 20 bilhões pagam juros. Os R$ 100 bilhões restantes são sem juros.

"A população que paga juros sobre os R$ 20 bilhões acaba tendo um nível de juros mais alto" diz Maluhy, observando que o objetivo desse debate sobre o rotativo é corrigir esses subsídios cruzados e criar um sistema que seja bom para a população e para os lojistas.

Sobre a proposta de limitar o parcelado sem juros a 12 vezes, Maluhy lembrou que apenas 0,5% do faturamento dessa indústria vem de parcelamentos acima de 12 parcelas. Por isso, o impacto de um teto como esse seria imaterial.

"Não é um debate se é 12 ou seis vezes. O debate é qual nosso apetite para fazer a transição suave para que o varejo se sinta confortável, para que a gente crie bases para mudar a mecânica que vem funcionando há anos, mas de forma ineficiente. O regulador (BC) tem toda a condição de sentar na mesa e interpretar as diferentes visões. Nossa defesa não é pela preservação dos nossos modelos de negócio, nossa defesa é pelo certo e ético" garantiu.

Lucro de R$ 9 bi
O Itaú Unibanco teve lucro recorrente de R$ 9 bilhões no terceiro trimestre de 2023, alta de 11,9% em relação ao período homólogo. Entre os fatores que mais influenciaram os resultados estão o aumento da margem financeira com clientes, impulsionado pelo crescimento da carteira de crédito, e aumento das receitas de serviços e seguros. A carteira de crédito total cresceu 4,7% ante o terceiro trimestre de 2022, atingindo R$ 1,16 trilhão em setembro de 2023.