Embaixador argentino no Brasil defende Lula após fala de Milei
O candidato da direita radical argentina elevou o tom de suas acusações contra o presidente brasileiro em entrevista
Diante de mais um ataque do candidato à Presidência da Argentina, o líder do partido de direita radical A Liberdade Avança, Javier Milei, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de “comunista e corrupto” numa entrevista ao programa de TV apresentado pelo jornalista peruano Jaime Bayly, o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, defendeu o chefe de Estado brasileiro.
No último domingo, Milei acusou Lula de interferir na campanha argentina, segundo o candidato da direita radical, com financiamento e apoio à campanha do peronista Sergio Massa.
Nesta quarta, o tom das declarações do candidato argentino se elevaram, e, procurado pelo Globo, o embaixador entrou em campo:
— Já vivi uma situação similar com Bolsonaro, e conseguimos reconstruir o vínculo bilateral. Agora [com Milei] nos encontramos com numa definição que é absolutamente errada, porque Lula não é nem comunista nem corrupto. Que Lula não é corrupto foi dito, nada mais e nada menos, do que pela Corte Suprema de Justiça do Brasil, que falou no uso da Justiça com fins políticos —.
Ao jornalista peruano, Milei afirmou que “Lula é comunista e um grande corrupto, por isso esteve preso”.
— Definir Lula como comunista é absurdo, levando em consideração a formação de seu governo, começando por seu vice-presidente — respondeu Scioli, que comanda a embaixada argentina em Brasília desde o início do governo de Alberto Fernández, e foi o artífice da recuperação da relação bilateral após períodos de intensa tensão entre o presidente argentino e Bolsonaro, quando estava no poder. O embaixador fez declarações similares a meios de comunicação locais, que repercutiram as novas falas de Milei sobre Lula.
— Que um candidato a presidente diga que não terá relações ou que não falará com Lula não tem nada a ver com a realidade de integração que estamos vivendo neste momento — acrescentou Scioli, que chegou a se posicionar na corrida presidencial argentina, mas acabou sendo superado por Massa, que impôs sua candidatura dentro da aliança peronista União pela Pátria.
Para o embaixador, “a relação com o Brasil é estratégica. E os acordos são importantes, como o que selados durante a visita de Lula a Buenos Aires, em janeiro".
Denúncias sobre campanha do medo
Domingo passado, questionado sobre as afirmações de Massa e de sua campanha sobre o risco de que, se o candidato do partido A Liberdade Avança for eleito presidente, o valor mínimo das passagens no transporte público passe de 55 pesos para 1.100 pesos (de R$ 0,32 para R$ 6,47, na cotação do Real paralelo na Argentina), Milei respondeu, em entrevista ao canal de TV do grupo La Nación, que, segundo informações que recebeu de bolsonaristas e "alguns jornalistas brasileiros", Lula e estrategistas do PT “estão semeando medo na sociedade” argentina.
O candidato da direita radical, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, acrescentou que as informações que recebeu indicam que "Lula está interferindo nesta campanha, financiando parte dela, e dentro desse pacote existe um conjunto de consultores brasileiros que são os melhores especialistas em campanha negativa, eles semeiam medo na sociedade”. Milei disse, ainda, que “isso [o aumento das passagens] não vai acontecer”.
As denúncias, porém, não foram confirmadas por seu principal articulador político, Guillermo Francos, que disse não ter provas sobre a suposta ingerência de Lula na campanha argentina. Em entrevista ao GLOBO, o dirigente, peça chance da campanha de Milei, afirmou que "esse foi o comentário que fez Milei num programa de televisão no domingo de noite. O que sei é que existe uma equipe especialista em campanhas negativas que trabalha para Massa, uma equipe brasileira, com muitas pessoas na Argentina e outras pessoas trabalhando no Brasil [para Massa]. Não posso dizer que Lula tenha alguma ingerência nisso, porque não tenho conhecimento disso, apenas o que comentou Javier Milei".