Sánchez consegue apoio polêmico de Puigdemont para permanecer no poder na Espanha
Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) de Sánchez e a legenda de Puigdemont (Junts per Catalunya) assinaram um acordo na manhã desta quinta-feira (9)
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, obteve nesta quinta-feira (9) o apoio do partido do separatista catalão Carles Puigdemont, indispensável para voltar a tomar posse como chefe de Governo, em troca de uma polêmica lei de anistia que provoca tensão no país.
Após semanas de intensas negociações, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) de Sánchez e a legenda de Puigdemont (Junts per Catalunya) assinaram um acordo na manhã desta quinta-feira em Bruxelas, para onde o líder independentista fugiu depois do fracasso da tentativa de secessão da Catalunha em 2017, para evitar a Justiça espanhola.
"O acordo não é (apenas) um acordo de posse", com o objetivo de que os sete deputados do Junts deem os votos indispensáveis para que Sánchez consiga ser designado novamente pelo Parlamento, afirmou Santos Cerdán, dirigente do Partido Socialista espanhol que negociou com Puigdemont.
"É um acordo legislativo, com o objetivo de assegurar a estabilidade (do governo) durante a legislatura de quatro anos", acrescentou.
Em troca do apoio do Junts, que havia optado nos últimos anos por uma oposição frontal a Sánchez, o socialista aceitou a exigência do partido de promover uma lei de anistia para os líderes e militantes separatistas processados pela Justiça espanhola, principalmente por seu envolvimento na tentativa de secessão da Catalunha em 2017.
A anistia, que abrirá "uma nova etapa" e deve permitir o retorno de Puigdemont à Espanha, deve envolver os eventos ocorridos desde 2012, ano do início da escalada separatista na Catalunha, explicou Cerdán.
Apoiada pela extrema esquerda e pelos partidos bascos, a lei da anistia deve ser aprovada pelo Parlamento depois que Sánchez for empossado pelos deputados, o que deve acontecer na próxima semana.
Aposta arriscada
Graças ao acordo com o Junts, Sánchez parece muito próximo de conseguir um novo mandato depois de contrariar as pesquisas, que projetavam sua derrota definitiva nas eleições legislativas de 23 de julho, celebradas apenas dois meses após os péssimos resultados da esquerda nas eleições locais.
No poder desde 2018, Sánchez resistiu melhor do que o esperado contra o seu rival conservador Alberto Núñez Feijóo, cujo Partido Popular (PP, direita) foi o mais votado nas eleições, mas não conseguiu, posteriormente, apoio suficiente de outras legendas para ter o nome aprovado no Parlamento.
Apoiado no Parlamento por uma parte dos independentistas há cinco anos, Sánchez já perdoou em 2021 os nove líderes separatistas condenados à prisão por envolvimento na tentativa separatista e, no ano seguinte, o Parlamento aprovou a reforma do Código Penal para eliminar o crime de sedição pelo qual haviam sido condenados.
Mas uma nova concessão aos independentistas elevou a tensão no país.
A direita e a extrema direita acusam o socialista, que já foi contrário à ideia de anistia, de estar disposto a qualquer coisa para permanecer no poder.
Várias manifestações foram convocadas para protestar contra a medida. Os protestos mais recentes da extrema direita diante da sede do Partido Socialista em Madri terminaram em confrontos com a polícia.
Organizações próximas ao partido de extrema direita Vox convocaram um novo protesto para a noite de quinta-feira, contra o que chamam de "golpe de Estado".
Já o Partido Popular convocou os simpatizantes para um protesto contra a medida no domingo em todas as capitais de províncias. Uma grande manifestação está programada para sábado em Madri.
"Estamos diante de um acordo vergonhoso, com o qual Sánchez vai humilhar a Espanha, ao apoiar um foragido da Justiça", criticou o número dois do PP, Cuca Gamarra, em referência a Carles Puigdemont.
Figura em ascensão da direita, a presidente da região de Madri, Isabel Díaz Ayuso, acusou o primeiro-ministro de estar implementando uma "ditadura".
Além da oposição de direita e do setor conservador do Judiciário, que considera a anistia uma grave ameaça ao Estado de direito, Sánchez enfrenta as críticas de alguns líderes mais moderados de seu partido.