MEMÓRIA

Mural gigante homenagea Naná Vasconcelos em prédio no centro do Recife, em obra de Micaela Almeida

O megamural intitulado "Naná Vasconcelos, Sinfonia e Batuques", fica na fachada do Edifício Guiomar, na Rua Princesa Isabel, na Boa Vista

Mural gigante em homenagem a Naná Vasconcelos - Foto: Rennan Peixe


O percussionista Juvenal de Holanda Vasconcelos, conhecido mundialmente como Naná Vasconcelos, acaba de ganhar uma homenagem no centro do Recife, através do megamural intitulado “Naná Vasconcelos, Sinfonia e Batuques”, de autoria da artista Micaela Almeida. A pintura muralista destaca vividamente o músico recifense com o seu inseparável berimbau, preenchendo os 200m² da fachada do Edifício Guiomar, localizado no bairro da Boa Vista, em frente ao Parque 13 de Maio, nas proximidades da Faculdade de Direito do Recife. 


Iniciada em 28 de outubro e concluída em apenas 10 dias, a obra de arte a céu aberto não é apenas uma expressão artística, mas também um marco na história da cidade e do Estado de Pernambuco. Esta é a primeira vez que uma obra dessa magnitude é dedicada ao único artista brasileiro a receber oito prêmios do Grammy e a conquistar o título de maior percussionista do mundo por oito vezes pela revista Down Beat. Às vésperas de completar 80 anos de legado, Naná Vasconcelos continua a ser uma figura inspiradora e influente no cenário artístico e musical.


"O megamural é bastante significativo para mim, pois todo o processo, desde a escrita do projeto e idealização da arte até a execução, foi um caminho de muito desafio e aprendizado enquanto mulher e artista autônoma. Poder gerar e parir essa cria em homenagem ao gigante Naná Vasconcelos em seu território é uma grande honra. Só tenho a agradecer ao mestre Naná pela sua generosidade, genialidade e delicadeza musical que plantou no mundo. Mesclar a arte urbana pública com a música é magia pura no Recife”, conta a artista Micaela Almeida.

Vista do mural gigante de Naná Vasconcelos


A iniciativa promovida pela Prefeitura do Recife, por meio da  Secretaria Executiva de Inovação Urbana (Seiurb), foi autorizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e contou com a parceria da Tintas Iquine e da Gráfica Reprocenter. “Esse espetáculo visual é resultado do Edital de Credenciamento para Realização de Intervenções Artísticas em Empenas Cegas, uma política pública pioneira em Pernambuco, que dá oportunidade para que artistas como Mica transformem a paisagem urbana em um palco vivo da arte, celebrando a cultura e o patrimônio da nossa cidade. A boa notícia é que mais três megamurais já estão em andamento para inaugurar ainda este ano", conta a secretária executiva de Inovação Urbana, Flaviana Gomes.


Responsável pelo acervo de Naná, sua esposa, Patrícia Vasconcelos, se viu impactada com a execução da obra que, por meio de uma paleta de cores, transmite serenidade e alegria, capturando a essência acolhedora da natureza. O megamural no coração da cidade, com seus elementos como manguezais, raízes e rios, realça o sentimento de pertencimento histórico-geográfico. Para ela, a intervenção artística é um grito de liberdade.

 

“A pintura trouxe de fato a energia de Naná, que trouxe a arte. Me chamou muita atenção  porque a energia nananiana chegou a partir de um entrelaçamento fluido. Acho que Pernambuco e Recife deviam isso e ainda devem muito mais em prol do seu legado. É bastante simbólico também porque estamos no Mês da Consciência Negra. Outra situação que de cara visualizo na arte é uma liberdade, de um negro que vem como se fosse a estátua da liberdade negra trazendo muita sabedoria e estímulo para as pessoas, inclusive porque Naná foi pura arte e a arte é puro Naná. É liberdade em todos os sentidos, gêneros, raças, criações e musicais”, declarou.  


A cantora, atriz e artista plástica Paz Brandão, ex-integrante do Grupo Voz Nagô, que acompanhou o percussionista em shows e parcerias musicais, também participou do projeto. Ela destacou que a intervenção artística a partir da obra de Naná evidencia a cultura recifense, seus batuques e manifestações específicas, por meio da memória visual e sonora que reverbera nos corpos e na história da coletividade local. 


“Tive a felicidade de dividir 18 anos da minha vida profissional com Naná Vasconcelos. Além de ser sua companheira de trabalho, fui sua amiga nessa terra. Então, celebro esse mês de novembro com muita alegria e gosto de vitória por saber que uma rua do centro da cidade abriga hoje a cara preta de um homem que fez história no nosso país e no mundo. Essa referência que o Recife tem, sobretudo para o povo preto, precisa ser enxergada diariamente”, comentou. 


Para o mês de dezembro, o projeto está preparando um evento de inauguração em local e data a serem confirmados em breve. Haverá a exibição de um documentário, com direção do fotógrafo Rennan Peixe, para mostrar o processo de execução da pintura, fotos e vídeos, bem como a entrevista de Patrícia Vasconcelos, produtora e viúva de Naná, reafirmando sua memória.