Especial

Dona Gracita Brennand viveu como numa eterna primavera, a estação das flores e do renascimento

"Graça Maria, viveu uma cristã, católica apostólica romana de sentido pleno. No nome, que evoca a Virgem Maria e sua Graça, na mentalidade e na prática"

Com Ricardo Brennand, Gracita teve oito filhos, que lhes deram mais de 60 descendentes diretos - FLÁVIO JAPA /Arquivo

Quando ela chegou à Terra (1928), era Primavera. Quando partiu (2023), também. Somente isto bastaria para perceber como o Destino definiu que fosse profundamente fecunda a vida de Graça Maria Monteiro Brennand. Porque a Primavera é a estação das flores. Do Renascimento. De ternamente dizer “sim”à Vida.

Nascida numa tradicional família pernambucana, ela se casou, em 1949, com o empresário Ricardo Coimbra de Almeida Brennand, também oriundo de uma família voltada para a Indústria. Tiveram oito filhos: Ricardo, Antônio Luiz, Catarina, Maria de Lourdes, José Jaime, Renata, Patrícia e Paula.

Tal fertilidade foi prolífica na multiplicação das empresas, em negócios bastante diversificados, ao longo das gerações, e na família. Somando-se netos e bisnetos, multiplicaram-se em mais de 60 descendentes diretos. Cumpriram, literalmente, a ordem divina: crescer, multiplicar, povoar a terra.

Graça e Ricardo fizeram mais rica a terra de Pernambuco.

Nos tantos que havia em Ricardo, segundo o seu biógrafo Joaquim Falcão, ela, Graça Maria, foi a principal influência. Entre as muitas qualidades suas que contribuíram para isso esteve sempre a sabedoria temperada com uma inexcedível, parte de uma elegância herdada da mãe.

Armando Monteiro Filho, irmão de Graça Maria, ao escrever sobre ela no livro autobiográfico Foi assim, afirma:

“Maninha e o marido, Humberto Mamede de Pontes, educaram cuidadosamente seus filhos. Conseguiram formar uma família muito unida. Ele exerceu uma grande influência sobre Maninha desde que se conheceram, quando frequentavam o NOEL - uma organização religiosa liderada por dona Felipinha, que foi quem apresentou Humberto a Maninha. Quando digo que ela absorveu todas as posições e costumes do marido, lembro logo de minha outra Irmã, com quem ocorreu o mesmo: Cita - Graça Maria Monteiro Brennand, casada com Ricardo Coimbra de Almeida Brennand.  Ela herdou de mamãe não somente o belo físico, também um sentimento maternal pelas crianças menos favorecidas. Tem uma obra social na Várzea digna de registro. Começou como creche e hoje é o Educandário Nossa Senhora do Rosario atendendo cerca de 200 crianças - de quatro meses a 5 anos. Chegam às 7 horas da manhã e fazem quatro refeições. Tem berçário, curso de alfabetização, parque infantil, refeitório, clinica médica e dentá- ria, com integral apoio do marido Ricardo - cujo bom gosto é indiscutível, tudo que faz é bem feito.”

Armando Monteiro Filho e Dona Do Carmo; Ricardo Brennand e Gracita; Rômulo Monteiro e Anamaria. Foto: Arquivo

Cita ou Gracita, num ou noutro desses diminutivos que a chamavam os mais próximos, ou nome por extenso, ou simplesmente, Graça Maria, viveu uma cristã, católica apostólica romana de sentido pleno. No nome, que evoca a Virgem Maria e sua Graça, na mentalidade e na prática. Nisso o casamento é definido como um sacramento. Por esta visão a união é feita pelo próprio Deus e segundo suas leis. Embora tenham nascido em famílias diferentes, criam uma nova, e se alegram em adaptar-se um ao outro. Como se formassem, num sentido muito particular, uma alma. 

Ainda que os papeis estejam classificados e caracterizados, segundo a própria Igreja atribui a cada um, a influência exercida é mútua e recíproca, portanto. Tudo apoiado no princípio do consentimento. De um casal cuja união foi completa, e pela força de convicções profundas, morais e da fé, renovou-se, sempre, e renova-se, quando no reencontro que acaba de acontecer. O que dizer de um casamento que durou mais de 70 anos? Talvez simplesmente repetir o poeta Antônio de Castro Alves, para melhor entender como foi possível uma tão grande união que só cabe a quem for cristão como os dois o foram, pensar que se encontram como num reencontro de vida continuada e contínua:

“São duas flores unidas,/ São duas flores nascidas talvez no mesmo arrebol,/ Vivendo no mesmo galho,/Da mesma gota de orvalho,/ Do mesmo raio de sol.// Unidas... Ai quem pudera/ Numa eterna primavera/ Viver, qual vive esta flor,/ Juntar as rosas da vida/ Na rama verde e florida,/ Na verde rama do amor!”