GUERRA ISRAEL-HAMAS

Familiares de reféns israelenses tentam manter a atenção sobre si apesar do desgaste

Manifestações e entrevistas são as ações dos familiares para manter a atenção dos meios de comunicação e da opinião pública

Conflito entre Israel e Palestina - Menahem KAHANA / AFP

Manifestações, entrevistas, um torneio esportivo na praia... Os familiares dos reféns israelenses lutam para manter a atenção dos meios de comunicação e da opinião pública, apesar do cansaço e do desgaste que começam a sentir.

Em um mês, Hadas Kalderon descreveu "seu pesadelo" perto de "uma centena" de vezes. Sua filha Sahar, de 16 anos, seu filho Erez, de 12, seu ex-marido Ofer, de 53, foram sequestrados e levados a Gaza em 7 de outubro.

E ainda assim, volta a contá-lo para a AFP em Tel Aviv, à margem de uma manifestação, mais uma, pela libertação dos cerca de 240 sequestrados no ataque do movimento islamista palestino Hamas, que também deixou cerca de 1.200 mortos, segundo Israel.

"Acreditam que estou curtindo? Estou sofrendo! Tento não pensar nisso mas tenho que falar a todo momento disso", explica a mulher de 56 anos.

Essa sobrevivente do kibutz Nir Oz, que perdeu sua mãe e sua sobrinha, realiza todas suas entrevistas como "um piloto automático, um robô", e não consegue dormir até desmoronar "de esgotada às 4 ou 5 da madrugada".

Mais de um mês depois do ataque, "não aconteceu nada", lamenta Kalderon. "Sinto que luto contra moinhos de vento quando suplico pela vida dos meus filhos".

Seu tom endurece ao falar do governo israelense, acusando-o de ter "abandonado" seus filhos e afirmando que tem "o dever de trazê-los de volta".

"Nada de novo" 
Como Kalderon, vários familiares de reféns viajaram a diversas capitais ocidentais para divulgar sua causa ante diplomatas e meios de comunicação.

O Fórum de Reféns e Familiares Desaparecidos organizou "vinte delegações" com "três ou quatro representantes de famílias" cada uma, indica Daniel Shek, responsável pela sua unidade diplomática.

Agora que as operações militares se intensificaram em Gaza, essa associação monitora caso o "sentimento de urgência e a prioridade do governo em relação aos reféns diminuam", explica esse já aposentado ex-embaixador de Irael na França.

Em Israel, o apoio da opinião pública é total. "Há quinze dias, as pesquisas mostram que a prioridade número um dos israelenses é o retorno dos reféns", ao contrário de quando começou o conflito, quando era "combater o Hamas", afirma o ex-diplomata.

No exterior, porém, com as represálias israelenses em Gaza que, segundo o Hamas, deixou mais de 11.000 mortos, em sua maioria civis, "a empatia generalizada com Israel desmorona e a história dos reféns pode sofrer as consequências", acrescenta.

Kinneret Stern, cuja prima - Moran Stela Yanai - foi sequestrada, sente que "a empatia já não é a mesma" nas "três ou quatro entrevistas diárias" que sua família dá, em comparação com o início.

"É muito difícil, já que não temos nada de novo para contar", resume essa engenheira informática.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, admitiu, no domingo, a possibilidade um acordo em potencial para liberar os reféns.

"Até que não estejam aqui, sãos e salvos, não significa nada para nós", responde Stern.

Futevôlei 
Em Tel Aviv, na praça situada em frente ao quartel-general do governo de guerra, uma tela e um relógio de estádio gigantes recordam a espera interminável.

Uma imensa mesa com mais de 200 cadeiras vazias simboliza a ausência, nesse local que se tornou o ponto de encontro para apoiar os reféns.

Os pedestres são convidados a olhar um espelho rodeado de retratos dos sequestrados.

Para despertar a atenção nas redes sociais, os entes próximos de Ofir Tzarfati, sequestrado no festival Nova onde comemorava seus 27 anos, gravaram vídeos onde aparecem jogando gamão ou futebol.

Mas quando chega a vez dele, o amigo não aparece.

Na sexta-feira, também organizaram um torneio de futevôlei em uma praia, "uma maneira positiva" de dar voz à sua situação dramática sem "repetir mais uma vez as histórias", declara seu amigo, Ron Safran.

"Sentimos muito a falta dele", acrescenta o jovem. "Queremos manter a energia, mas passou muito tempo".