Consumo

Presidente do IBGE encontra Haddad em busca de verba para a Pesquisa de Orçamento Familiar

POF atualiza mudanças nos hábitos de consumo dos brasileiros e serve de parâmetro para o IPCA

Presidente do IBGE, Márcio Pochmann, se reúne com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad - Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) está prevista para ir a campo em julho do ano que vem, mas ainda não tem recursos previstos para ser custeada pelo governo federal.

A POF é uma das pesquisas mais importantes feitas pelo IBGE, porque atualiza os hábitos de consumo dos brasileiros e serve de parâmetro para o IPCA, o que ajuda a balizar a política de juros pelo Banco Central.

Nesta segunda-feira (13), o presidente do IBGE, Márcio Pochmann, tem reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para conseguir recursos. Segundo o IBGE, a última pesquisa, feita em 2017, custou cerca de R$ 43 milhões em valores da época.

Sem a POF, itens como vídeo-cassete, por exemplo, continuariam no IPCA, enquanto aparelhos celulares estariam de fora. A mesma coisa para serviços de vídeo-locadora, que já deixaram o índice e deram lugar para assinaturas de streaming.

As mudanças, contudo, também pode vir acompanhada de polêmicas. Em 2012, a POF apontou que os brasileiros estavam comendo mais salmão do que bacalhau, e por isso houve troca desses dois peixes na composição do IPCA.

No governo, o entendimento é de que que pandemia acelerou mudanças de hábitos de consumo, e isso pode resultar em alterações consideráveis no índice. Tradicionalmente, o IPCA tende a cair com a mudança da POF, mas isso não é garantido. Ainda assim, a atualização é importante para que a inflação esteja mais atrelada ao que de fato é consumo pelos brasileiros. Isso ajudará a Banco Central a subir ou reduzir a taxa Selic.

— O impacto sobre a inflação é sempre incerto, depende de qual o momento inflacionário, se é mais ligado à alimentação, preços administrados, serviços. Entre a pesquisa e a implementação, geralmente leva-se uns três anos, porque a pesquisa é analisada antes de ser incorporada. É algo que pode ter impacto sobre o índice em 2026 ou 2027 — explicou o economista-chefe do G5 Parters, Luis Otávio Leal.

A coleta da POF dura 12 meses, para conseguir captar a sazonalidade dos hábitos de consumo. A última coleta começou em julho de 2017 e terminou em julho de 2018. A próxima POF está prevista para julho de 2024 a junho de 2025.

Em 2020, quando o IPCA foi atualizado a partir da POF de 2017, o grupo Transportes passou a se tornar o principal componente do IPCA, respondendo por 20,8% do indicador. Foi a primeira vez que este grupamento superou Alimentação e bebidas, que passou a corresponder a 19% do índice.

"Serviços de streaming, Transporte por aplicativo, Combo de telefonia, internet e TV por assinatura e conserto de aparelho celular são alguns dos produtos e serviços tecnológicos que passam a ser pesquisados", disse o IBGE à época.

Já "aparelho de DVD, Assinatura de jornal, Fotocópia, Máquina fotográfica, Revelação e cópia" deixaram de ser pesquisados ou foram agregados a outros subitens.

A pesquisa também altera o peso das capitais no índice. Em 2020, São Paulo ganhou maior participação, enquanto Rio de Janeiro e Belo Horizonte perderam influência.