DECLARAÇÃO

Lula diz que ''solução'' de Israel em Gaza ''foi tão grave'' quanto ataques do Hamas

Durante cerimônia em Brasília, presidente critica número de crianças e mulheres mortos na guerra, e volta a chamar ação do grupo palestino de terrorismo

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil - José Cruz/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez novas críticas à operação militar de Israel na Faixa de Gaza, e afirmou que os bombardeios que deixaram mais de 11 mil mortos no território foram "tão graves" quanto os próprios ataques do grupo Hamas contra o território israelense, no dia 7 de outubro, um ato chamado por ele novamente de "terrorista".

— Eu nunca tinha sabido de notícias de que crianças fossem vítimas preferenciais em uma guerra. A quantidade de mulheres e crianças que já morreram, e a quantidade de crianças desaparecidas a gente não tem conhecimento em outra guerra. Nessa guerra, sabe, depois do ato provocado, e eu digo ato de terrorismo do Hamas, que provocou um ato. As consequências, a solução do Estado de Israel é tão grave quanto foi a do Hamas — disse o presidente, durante a cerimônia de sanção do projeto de lei que atualiza a Lei de Cotas no Brasil, no Palácio do Planalto.

O presidente criticou ainda os relatos sobre ataques contra instalações médicas, como hospitais, onde além de pacientes e médicos há milhares de civis abrigados.

— Porque eles [Israel] estão matando inocentes, sem nenhum critério. Jogar bomba onde tem crianças, onde tem hospital, sob pretexto de que um terrorista está lá, não tem explicação. Primeiro vamos salvar as crianças e as mulheres, aí depois faz a briga com quem quiser fazer — declarou Lula.

No evento, ele também destacou que a saída de um grupo de brasileiros da Faixa de Gaza, que ocorreu no domingo, dependia em boa parte da "boa vontade" do governo de Israel.

— Estamos trazendo o que foi possível liberar com muito sacrifício, porque dependia da boa vontade de Israel, dependia da quantidade de pessoas, que a gente não sabia — afirmou. — Todo dia ligava de manhã, de tarde, com ministro de Israel, ligava com ministro do Egito, com o nosso embaixador e depois conseguimos trazer as pessoas.

As declarações do presidente provocaram críticas da Confederação Israelita do Brasil, a Conib. Em nota, a organização disse que a comparação entre a ofensiva israelense e os ataques do Hamas "é equivocada e perigosa".

"Além de equivocadas e injustas, falas como essa do presidente da República são também perigosas. Estimulam entre seus muitos seguidores uma visão distorcida e radicalizada do conflito, no momento em que os próprios órgãos de segurança do governo brasileiro atuam com competência para prender rede terrorista que planejava atentados contra judeus no Brasil", diz a nota, se referindo à operação da Polícia Federal (PF) contra suspeitos de planejar ataques do grupo libanês Hezbollah no Brasil. Os alvos, segundo a PF, poderiam incluir prédios da comunidade judaica e israelense no Brasil, inclusive sinagogas.

Em nota, o escritório brasileiro da ONG israelense StandWithUs chamou de "graves e inverídicas" as declarações de Lula.

"Tais afirmativas, contudo, são graves. O presidente brasileiro equiparou Israel, um Estado democrático com um grupo terrorista com intentos abertamente genocidas que massacrou cerca de 1.200 pessoas - dentre elas, três brasileiros - e sequestrou 240 pessoas", diz o texto, assinado por André Lajst, presidente-executivo da StandWithUs Brasil. "Essa fala ignora por completo o fato muito bem documentado e até mesmo reconhecido hoje pela União Europeia, de que o Hamas usa hospitais e crianças como escudos humanos. Também é inverídica, uma vez que diferentemente do que afirmou o presidente brasileiro, Israel não mata “inocentes sem nenhum critério.”

O texto afirma ainda que "em toda guerra, mesmo com todas as leis internacionais sendo cumpridas, infelizmente, haverá baixas civis", uma referência às acusações de que Israel estaria violando as leis internacionais que regem conflitos armados.

"Todas as vidas perdidas nesse conflito são de igual valor, palestinas e israelenses, e é lastimável que tantos civis inocentes estejam morrendo. Justamente por causa disso, é necessário compreender corretamente as causas dessa tragédia e os verdadeiros responsáveis por ela", conclui a nota.