"Línguas da Nossa Língua": diversidade linguística brasileira é tema de série documental
Dirigida por Estevão Ciavatta, produção estreia nesta terça-feira (14), na HBO e HBO Max
O português pode até ser a língua oficial do Brasil, compartilhada por 98% da população, mas está longe de ser a única presente por aqui. Estudos apontam que mais de 270 idiomas são falados no País, incluindo variedades indígenas, africanas e de comunidades estrangeiras. Essa pluralidade linguística - fundamental para entendermos os nossos jeitos de falar - é assunto para “Línguas da Nossa Língua”, coprodução da Warner Bros. Discovery com a Pindorama Filmes.
A série documental estreia nesta terça-feira (14), com novos episódios liberados semanalmente, na plataforma de streaming HBO Max e no canal HBO, a partir das 20h. Estevão Ciavatta, nome por trás de trabalhos como a série “Preamar” (2012) e o filme “Amazônia Sociedade Anônima” (2019), assina a criação, roteiro e direção da obra.
Ao longo de quatro episódios, a produção traça um panorama linguístico brasileiro, interligando aspectos ligados ao idioma com a construção da nossa identidade cultural. O ponto de partida da série, segundo Ciavatta, veio de suas reflexões sobre o Brasil. “Ao mesmo tempo que temos o português como língua oficial, temos uma das maiores diversidades linguísticas do mundo. Então, fui atrás de saber que língua é essa que a gente fala?”, contou o diretor, em entrevista à Folha de Pernambuco.
“Uma coisa que foi sendo construída durante a produção do documentário é que nós, de fato, falamos uma língua brasileira. Ela cristaliza e corporifica essa ideia de uma identidade plural”, complementa Ciavatta, que contou com 11 línguas sendo apresentadas na série.
Pluralidade de línguas
Durante os episódios, a série adentra comunidades indígenas, falando em nheengatu, guarani, baniwa, tukano e patxohã. Também cruza o oceano, chegando à Europa, para mostrar a origem do português, preservada na resistência do galego. As reminiscências de povos africanos são evidenciadas pelo yorubá e pelo quimbundo. A produção registra também a comunicação em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e pajubá, dialeto da LGBTQIA+, além de sete “falares”: português caipira, português tapuia, bahianês, carioquês, sergipanês, mineirês e linguagem neutra.
Segundo o diretor, o recorte final de linguagens presente na série foi pensado com base em critérios de representatividade, importância e viabilidade. “Primeiro, eu fui atrás de boas histórias. Sabia que eu precisava ter línguas indígenas, africanas e entrar no português profundo. Então, eu teria que ir a Portugal e à Galícia, teria que visitar a Amazônia e os terreiros de candomblé. Queria ter viajado mais pelo Nordeste e pelo Sul. Isso mostra que ainda tem muita coisa a ser dita”, aponta o diretor.
Adriana Cechetti, diretora de produção e desenvolvimento de conteúdos não-roteirizados da Warner Bros. Discovery, não descarta a possibilidade de uma segunda temporada da série, focando nos idiomas não abordados nos primeiros episódios. Para a diretora, um dos atrativos do projeto é o seu ineditismo. “Eu acho que é o primeiro conteúdo audiovisual que parou para fazer essa reflexão sobre a nossa língua. A série traz muitas descobertas”, comenta.
Desafio logístico
Lidar com tantos idiomas diferentes em uma mesma produção também envolveu uma farta dose de desafio logístico. “Quando filmava, eu tinha sempre um tradutor simultâneo cochichando no meu ouvido com um microfone sem fio. Eu levava a gravação dessa tradução até a edição, para não ficar totalmente perdido. Depois, era feita uma transcrição disso, para poder editar, escolher os trechos, legendar e fazer uma última verificação da legenda”, relembra o diretor.
Para compor o documentário, foram ouvidos “falantes” das diversas línguas representadas, além de especialistas, incluindo a última entrevista da escritora Nélida Piñon, que faleceu no ano passado. Outro destaque da produção é o encontro Caetano Veloso e Yeda Pessoa de Castro, etnolinguística que é referência em estudos de línguas africanas no Brasil. Os dois são parentes, mas não se viam há mais de 30 anos. Também estão presentes na série Maria Bethânia, que lê trechos de clássicos da literatura brasileira, e Arnaldo Antunes, compositor e intérprete da música original feita especialmente para a abertura da produção.