Natação, crossfit ou funcional? Qual é o exercício mais completo?
Especialistas apontam principais benefícios de atividade física, mas apontam que ela também precisa de complemento com musculação
Crawl, peito, borboleta ou costas... Independentemente do estilo preferido, a natação sempre foi considerada a atividade física mais completa, envolvendo grandes grupos musculares e colocando em ação diversas capacidades.
Porém, com a multiplicação das propostas de movimento que existem atualmente — como o crossfit e o funcional —, coloca-se em xeque o seu reinado como o exercício que não necessita de outras atividades físicas na rotina semanal.
À medida que o ano avança e a chegada dos dias longos e ensolarados, muitos começam a incluir a piscina como área de treinamento. Assim, a natação ganha o maior número de adeptos nos próximos meses.
— A natação é a capacidade que permite ao ser humano deslocar-se na água através da propulsão realizada por movimentos rítmicos, repetitivos e coordenados dos membros superiores e inferiores e do corpo. Permite ficar na superfície, vencendo a resistência que a água oferece para se movimentar sobre ela — descreve Elizabeth Vilamowski, médica especialista em medicina esportiva e membro da comissão da Associação Civil de Medicina Esportiva (ACMDBA) da Argentina.
A especialista ressalta a importância de se ter técnica para a correta execução do esporte — é ela quem garante a correta utilização simultanea dos grupos musculares das pernas (tibiais, isquiotibiais e quadríceps) e dos membros superiores (bíceps, tríceps, pronadores e supinadores), além dos da mão, tronco, pescoço, tórax, abdominais e peitorais.
Vilamowski destaca que, ao cobrir quase todos os grupos musculares, o esporte melhora a força e a flexibilidade ao mesmo tempo.
Além disso, com a natação são liberadas miocinas que melhoram o metabolismo das gorduras, e neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, que são redutores do estresse, melhorando o bem-estar, afirma. A médica acrescenta que também ajuda a prevenir doenças cardiovasculares porque melhora a pressão arterial e os batimentos cardíacos e previne doenças como excesso de peso, diabetes, dislipidemia e melhora a osteoartrite.
— Também pode prevenir doenças pulmonares e imunológicas porque melhora a resistência respiratória — acrescenta Vilamowski.
Embora os benefícios desta modalidade esportiva para a saúde sejam bem sedimentados, a natação não é mais considerada uma atividade física completa, mesmo envolvendo na sua execução a maioria dos grupos musculares, grande trabalho poliarticular e trabalho coração-pulmão.
— Os nadadores precisam de exercícios na academia. Antes faziam isso, mas para melhorar o gesto da braçada. Agora vemos nadadores com outro tipo de musculatura. Isso exige trabalho de força na academia — detalha o preparador físico Pablo Benadiba.
Para o profissional, hoje a natação estaria completa desde que fosse associada à musculação. Esta mudança quanto à necessidade de agregar outros tipos de treino além da natação, traduz-se numa transformação no corpo de quem se dedica ao esporte. Hoje o físico dos nadadores parece muito mais forte e tonificado do que há algum tempo.
Sem dúvida, hoje a tendência mundial é a de trabalhar o corpo inteiro, de forma global.
— É por isso que existe o crossfit, onde estão envolvidos muitos grupos musculares, ou o treinamento funcional. Com o ashtanga yoga você trabalha os grandes grupos musculares, não apenas a respiração. O mesmo acontece com a calistenia — enumera o treinador.
Para Javier Furman, cinesiologista e fisioterapeuta, “a natação é superestimada".
— É uma atividade física num ambiente que não é o nosso, que é a terra, numa posição que não é a nossa. Fisiologicamente estamos preparados para ficar em pé e não na horizontal e sem a força da gravidade — sustenta.
De acordo com Furman, existem muitos movimentos realizados debaixo d'água que não são naturais e são biomecanicamente prejudiciais à saúde .
— É um esporte completo porque praticamente todos os músculos do corpo são utilizados e isso é, entre aspas, saudável. É um desporto muito bom, não quero ir contra, mas a realidade é que existem outras atividades desportivas que, na minha opinião, são mais úteis — afirma.
Nesse ponto, o cinesiologista e fisioterapeuta se inclina para o HIIT (sigla em inglês para treino intervalado de alta intensidade) ou HIRT (treino de resistência de alta intensidade), como a ginástica funcional, em que os exercícios resistidos são com um pouco mais de peso, com uma bola ou halteres.
— São melhores porque estão de acordo com a nossa biomecânica fisiológica e, ao mesmo tempo, todos os músculos estão envolvidos. Há muita contração muscular — explica Furman. — A chave para a saúde está nos músculos. Se tivermos boa atividade muscular, são geradas proteínas chamadas miocinas, que trazem benefícios para a nossa saúde.
Contraindicações
Embora a natação seja considerada uma das atividades físicas que causa menos lesões e seja indicada para uma ampla gama de pessoas, ela tem contraindicações. Por exemplo, pessoas com infecções pulmonares, bronquites e crises de asma precisam receber liberação médica para praticar.
— Isso não significa que uma pessoa asmática não possa nadar. Pelo contrário, beneficia porque melhora a mecânica respiratória, mas não pode ser feito no meio de uma crise — pontua Vilamowski.
Também não é indicado em casos de infecções otorrinolaringológicas, como faringites agudas, sinusites, otites, surtos de eczema ou reações cutâneas. Na lombalgia , o crawl é contraindicado pelas exigências impostas à região lombar. É sempre necessário um check-up médico prévio.
Javier Furman alerta que em sua prática médica atendeu inúmeros pacientes com problemas de coluna que pioraram com a natação.
— A natação é um bom esporte, mas não a recomendaria a pessoas com patologia da coluna, a menos que haja uma boa técnica e um bom professor que garanta que a técnica está correta — destaca.
Furman não recomenda nadar quando há lesão na coluna, cervical ou lombar, lesão no joelho ou quadril. Nestes casos, existem alguns estilos de natação, principalmente nado peito, que podem causar desconforto, destaca.
— Por outro lado, quando há uma lesão medular e se busca retreinar a força, “é bom porque a água gera resistência em todas as direções. Aí, não só são retreinadas as questões musculares e articulares, mas também a questão proprioceptiva, que tem a ver com os nervos — afirma, complementando que a prática também é eficaz para reabilitação e perda de peso.