SAÚDE

Cannabis pode amenizar dores provocadas pela endometriose, sugere estudo

Doença crônica acomete de 10% a 15% de mulheres brasileiras em idade fértil

Estudo sugere que a cannabis pode amenizar dores provocadas pela endometriose - Freepik

Cientistas apontaram que substâncias presentes na cannabis têm potencial para atenuar as dores enfrentadas por quem sofre de endometriose, doença inflamatória crônica que afeta de 10% a 15% das brasileiras em idade fértil, ou seja, entre 12 e 48 anos.

O estudo sugere que a microbiota – conjunto de bactérias no intestino – e os neurônios endocanabinoides se ligam a receptores no sistema nervoso central que desempenham um papel no desenvolvimento e na progressão da endometriose.

Esses endocanabinoides, assim como os canabinoides, que vêm de fontes externas (como da cannabis), têm efeitos analgésicos que suprimem o processamento de sinais de dor no cérebro.

“A administração de THC [Tetrahidrocanabinol] e CBD [Canabidiol] retratou a natureza protetora dos canabinoides exógenos na endometriose. Além disso, os efeitos protetores do SEC [sistema endocanabinoide] no intestino foram observados pelo aumento dos endocanabinoides, incluindo 2-AG, resultando na diminuição da inflamação e na melhoria da permeabilidade intestinal”, aponta o estudo.

A doença é caracterizada pelo aparecimento, em outras regiões do corpo, principalmente na região pélvica, do tecido que reveste a parte interna do útero, levando a inflamações e sangramentos.

“Estas descobertas promissoras destacam os potenciais benefícios terapêuticos do CBD e do THC para a dor associada à endometriose, justificando a necessidade de estudos em humanos”, dizem os autores do estudo, um grupo de pesquisadores da Austrália e da Nova Zelândia.
 

Quais são os sintomas da endometriose?
Mulheres com endometriose costumam sentir muita cólica no período menstrual, já que o endométrio não é totalmente expelido durante a menstruação por ter se deslocado para outras regiões do corpo. Elas também podem experimentar:

Sangramentos intestinais, urinários e durante a menstruação;

Fadiga e cansaço,

Além de dor intensa em relações sexuais.

Os sintomas são atenuados depois da menopausa, quando há queda considerável de produção hormonal entre as mulheres. Além dos sintomas físicos, a paciente pode manifestar alterações psicológicas, como distúrbios de sono e depressão.

Quais são os riscos de quem tem endometriose?
A ginecologista Maria Cecilia Erthal, especialista em reprodução humana assistida, afirma que, em 50% dos casos, geralmente em quadros moderados e graves, a mulher se torna infértil:

— Não é que seja uma infertilidade definitiva. Ela vai ter dificuldade em engravidar, que pode ser resolvida de forma simples ou pode depender de procedimento cirúrgico para ajudar. A outra metade das pacientes com a doença desenvolvem quadros leves e moderados, e podem engravidar espontaneamente.

Causas da endometriose
Por se tratar de uma doença descoberta recentemente, as causas ainda são misteriosas. No entanto, existe um forte indicativo de fator genético, e é mais comum entre mulheres que começaram a menstruar antes dos 12 anos e que engravidaram depois dos 35 anos.

Fatores de meio ambiente e estilo de vida também podem levar à doença. Entre eles, falta de atividade física e de sono adequado, estresse e alimentação precária.

Poluição e toxinas presentes no plástico, como o Bisfenol A, liberam substâncias que emulam o estrogênio, hormônio predominante no endométrio, e podem ser fator de risco para a doença.

Endometriose tem cura?
Por se tratar de uma doença crônica, não há cura.

Diagnóstico para endometriose
A recomendação de especialistas é procurar um ginecologista especializado em endometriose ao apresentar fortes cólicas. O médico deve fazer exame clínico minucioso e exames de imagem para fazer o diagnóstico, como ultrassonografia para endometriose e ressonância magnética.

Quais os tratamentos para endometriose?
O tratamento mais convencional envolve o uso contínuo da pílula anticoncepcional ou do DIU medicado para fazer o bloqueio hormonal de modo que a mulher não menstrue e, por não liberar o endométrio, não sinta as dores.

Em pacientes férteis, outro tratamento possível é tentar engravidar com instrumentos de baixa complexidade, como a relação sexual programada e inseminação intrauterina, e de alta complexidade, como fertilização in vitro, recomendada para casos moderados e graves.

Para casos graves, especialistas recomendam procedimentos cirúrgicos de raspagem do endométrio que foi para outros órgãos, principalmente se a doença já tiver afetado as atividades do dia a dia da mulher.

Existe prevenção para a endometriose?
Sim. Apesar de não haver prevenção para a parte genética, mulheres podem controlar fatores ambientais e de hábitos de vida. O diagnóstico precoce também serve como forma de prevenção.

Fontes: Maria Cecilia Erthal, especialista em reprodução humana assistida e diretora médica do Vida Centro de Fertilidade; Simone David, coordenadora do setor de endometriose do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Fontes: Ginecologista Maria Cecilia Erthal, especialista em reprodução humana assistida; Ministério da Saúde; Rede D’Or São Luiz.