NEGÓCIOS

Americanas divulga prejuízo de quase R$ 20 bilhões em 2021 e 2022

Divulgação dos resultados é essencial para a companhia tentar aprovar o plano de recuperação judicial

Loja Americanas - Tânia Rego/Agência Brasil

Depois de diversos adiamentos, a Americanas informou nesta quinta-feira o tamanho do rombo em seu caixa após as revelações de inconsistências contábeis no início deste ano. De acordo com dados divulgados pela varejista, o lucro líquido divulgado do exercício de 2021 de R$ 544 milhões, após os ajustes contábeis, se transformou em um prejuízo de R$ 6,2 bilhões. Em 2022, o prejuízo chegou a R$ 12,9 bilhões, resultado de fraco desempenho operacional, elevada despesa financeira e relevantes lançamentos extraordinários.

Segundo a varejista, o perfil de endividamento ao fim de 2022 teve uma “deterioração considerável” e chegou a R$ 26,3 bilhões, o que representa alta de mais de R$ 12 bilhões comparado com 2021.

A crise na varejista começou em janeiro deste ano, após o ex-presidente Sergio Rial, que ficou apenas nove dias no cargo, ter anunciado inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões. Isso levou a empresa a um processo de recuperação judicial com dívidas estimadas em mais de R$ 42,5 bilhões. Os balanços de 2021 precisaram ser revistos por causa do rombo.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Americanas, na Câmara dos Deputados, apontou que bilhões de reais em contratos de financiamento bancário, através do mecanismo de risco sacado (ou forfait, operação que consiste no financiamento de fornecedores pelos bancos) estavam fora do balanço ou contabilizados indevidamente.
 

Por isso, a principal dúvida dos analistas do mercado é saber, além do tamanho do buraco nas contas da Americanas, se a fraude se dava apenas com fornecedores, com alteração de dados dos contratos, especialmente de marketing, para tornar os ativos da companhia maiores do que eram na realidade.

Plano de recuperação judicial
A divulgação dos resultados é essencial, na opinião de credores, para que o plano de recuperação judicial possa ser votado em uma assembleia geral. A expectativa da Americanas, dizem fontes, é que a votação ocorra em 19 de dezembro, último dia antes do recesso da Justiça.

Em meados de outubro, a Americanas alterou uma das premissas de seu plano de recuperação judicial. Agora, os acionistas de referência da varejista — os bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles — vão aportar no curto prazo R$ 12 bilhões. Inicialmente, estavam previstas R$ 10 bilhões e outros R$ 2 bilhões em datas futuras a serem acordadas e relacionadas a métricas de desempenho da companhia, de acordo com fontes.

Além disso, outra mudança no plano envolve o aumento da contrapartida por parte dos credores. O total que eles passarão a receber em forma de ação também subiu de R$ 10 bilhões para R$ 12 bilhões. Mas, apesar das mudanças, segundo fontes ligadas aos credores, o novo plano ainda não é unanimidade.

Para especialistas, ter o tamanho real do rombo da companhia com a divulgação do balanço era fator-chave para destravar a venda de ativos da empresa, como a rede Hortifruti Natural da Terra, que foi suspensa pela própria varejista.

Outro processo que está parado é a venda da Uni.co, dona das marcas Puket, Imaginarium e Lovebrand. Para uma fonte, sem o tamanho real da empresa, os interessados têm jogado o preço do ativo para baixo.

Se aprovado, o plano de recuperação judicial vai permitir a entrada de mais R$ 4 bilhões no caixa da varejista, o que reduziria a necessidade de emissão de nova dívida, que caiu de R$ 5,8 bilhões para R$ 1,8 bilhão.

Há duas semanas, a Justiça do Rio determinou que a Americanas pague R$ 300 mil mensais à empresa CCC Monitoramento, para monitorar seus números.

Troca de acusações
A Americanas acusa o ex-presidente Miguel Gutierrez pelas fraudes, que teriam começado anos atrás. Gutierrez deixou o comando em dezembro do ano passado, sendo sucedido por Sergio Rial, ex-presidente do Santander Brasil, que tornou públicas as inconsistências. A varejista também acusa ex-diretores da varejista pelo golpe, que semana passada chamou "fraude sofisticada e muito bem arquitetada".

Gutierrez enviou à CPI que investiga o rombo na empresa uma carta em que afirmou ter sido escolhido como “conveniente ‘bode expiatório’ para ser sacrificado” no caso do rombo da companhia. Segundo ele, os acionistas de referência, participavam e tinham conhecimento sobre a situação contábil da empresa.