Bolsonaristas passam feriado nos EUA e são recebidos por George Santos, acusado de fraude fiscal
Liderados por Eduardo Bolsonaro, grupo se encontrou com parlamentar que é acusado formalmente pela Justiça americana de ter cometido quatro crimes
Uma comitiva de parlamentares bolsonaristas, liderada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), aproveitou o feriado da Proclamação da República no Brasil, celebrado nesta quarta-feira, para fazer uma visita à capital dos Estados Unidos, onde foram recebidos pelo parlamentar George Santos, integrante do Partido Republicano que é acusado pela Justiça dos EUA de ter cometido quatro crimes.
Filho de brasileiros e apoiador do ex-presidente Donald Trump, Santos é acusado de fraude fiscal, lavagem de dinheiro, desvio de verbas públicas e de mentir perante o Congresso americano.
Ele é acusado de ter recebido ilegalmente mais de US$ 24 mil da ajuda dada pelo governo dos EUA a desempregados durante a pandemia. O republicano já sobreviveu a duas tentativas de cassação no Congresso americano, a última ainda neste mês.
Segundo os parlamentares brasileiros, a comitiva está em "missão" nos EUA para "mostrar ao mundo" supostas violações de direitos como a liberdade de expressão.
Eles gravaram vídeos e tiraram fotos no prédio do Capitólio, a sede do Congresso dos EUA, o mesmo prédio que foi invadido em 6 de janeiro de 2021 por apoiadores de Trump para tentar interromper a transição democrática americana e impedir a posse do atual presidente americano, Joe Biden.
Participam da viagem, além de Eduardo, os senadores Magno Malta (PL-ES) e Jorge Seif (PL-SC) e os deputados Altineu Côrtes (PL-RJ), Delegado Ramagem (PL-RJ), Júlia Zanatta (PL-SC), Capitão Alberto Neto (PL-AM) e Gustavo Gayer (PL-GO). Também esteve presente na viagem o comentarista Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente da ditadura militar João Figueiredo.
"A gente vai ter algumas reuniões com autoridades americanas aqui e expor um pouquinho do que está acontecendo no Brasil. Conseguimos dezenas de assinaturas de senadores e deputados de uma carta que fala da liberdade de expressão, determinadas situações que estão acontecendo no Brasil que não combinam com Estado democrático de direito", afirmou Eduardo em um vídeo gravado para as redes sociais.
O grupo também foi recebido pela deputada americana Marjorie Greene, que autografou um livro para Eduardo e registrou um vídeo em "apoio à proteção da liberdade de expressão e eleições limpas". Ela também é apoiadora de Trump, que contestou as eleições americanas de 2020 e está sendo investigado por isso.
Procurada, a Câmara dos Deputados do Brasil ainda não respondeu se a viagem se tratou de missão oficial, quando os parlamentares cumprem deveres inerentes ao mandato que exercem.
Fogo amigo
A viagem rendeu aos bolsonaristas críticas de apoiadores. Silvio Grimaldo, diretor-executivo do Brasil Sem Medo, site fundado por Olavo de Carvalho, ironizou a "coincidência" da viagem ter sido feita no mês da Black Friday, tradicional data de compras e preços baixos nos EUA.
Outros pressionaram os deputados pelo fato de não estarem no Brasil para participar de manifestações a favor de Jair Bolsonaro no feriado da Proclamação da República.
Nos comentários das publicações de Eduardo nas redes sociais, usuários cobraram que os deputados não peçam reembolso pela viagem e lembraram, em tom de ironia, a viagem de Eduardo ao Catar durante a Copa do Mundo de Futebol no ano passado para, segundo ele, "entregar um pen drive" às autoridades locais sobre a "situação do Brasil" — justificativa que os próprios apoiadores consideraram questionável.
Viagens recentes também se tornaram saia-justa para outra integrante da comitiva, Júlia Zanatta. No mesmo fim de semana do casamento da colega de bancada e conterrânea de Santa Catarina Caroline de Toni, Zanatta foi reembolsada pela Câmara pela hospedagem na cidade de Xanxerê, na região oeste do estado.
A celebração da festa ocorreu no dia 2 de setembro deste ano, como mostrou O GLOBO.
Na ocasião, Zanatta e seu marido, Guilherme Colombo, ficaram duas noites no hotel Seville Park e tiveram o custo das diárias (R$ 780) reembolsado, como parte da Cota Parlamentar que prevê gastos em hospedagens fora do Distrito Federal.
A deputada disse que cumpriu agendas na região, o que justificaria o reembolso. A informação foi inicialmente divulgada por um perfil no Twitter intitulado @DoutorPandego e obtida pelo GLOBO via Portal da Transparência da Câmara dos Deputados.