MEDICAMENTO

Ozempic em pílulas? Laboratórios apostam em novos versões do remédio para emagrecer

Comprimidos, no entanto, devem custar tão caro quanto as injeções

Rybelsus, o "Ozempic" da Novo - divulgação

As farmacêuticas Novo Nordisk e Eli Lilly estão divulgando versões em comprimidos de seus medicamentos de grande sucesso para perda de peso que poderão ser lançadas já no próximo ano. Mas se você espera algo mais barato e com menos efeitos colaterais, pense novamente.

As pílulas para obesidade em desenvolvimento apresentam algumas deficiências importantes na facilidade de uso e efeitos colaterais para os quais os pacientes podem não estar preparados. E se um comprimido da Novo que já está no mercado servir de guia, alguns custarão tanto quanto as injeções que já estão fazendo pacientes e seguradoras hesitarem.

Medicamentos como Zepbound, da Lilly, e Wegovy, da Novo, são mais do que apenas material para talk shows noturnos: são uma mina de ouro que impulsionou as empresas a avaliações vertiginosas e atraiu outras farmacêuticas para o campo. Pfizer e AstraZeneca estão buscando medicamentos orais para fazer incursões em um mercado que deverá atingir US$ 100 bilhões dentro de sete anos.

— (Os medicamentos) orais desempenharão um papel muito significativo, porque nem todo mundo gosta de injeções — disse o CEO da Pfizer, Albert Bourla, em uma conferência em setembro.

O seu homólogo da AstraZeneca, Pascal Soriot, prevê uma pílula que “democratizará” a perda de peso, tornando-a disponível para mais pessoas em países de baixos rendimentos. As farmacêuticas consideram os comprimidos geralmente mais fáceis de fabricar, armazenar e transportar do que as injeções. Até agora, isso não se traduziu em uma forma mais barata de Ozempic, da Novo. Rybelsus, uma versão em pílula da injeção para diabetes que é frequentemente usada para perda de peso, já está disponível por US$ 936 (R$ 4,5 mil em conversão direta) para um mês.

Preço mensal da pílula na mesma estimativa das injeções:

Wegovy - US$ 1349

Zepbound - US$ 1060

Mounjaro - US$ 1023

Ozempic - US$ 936

Rybelsus - US$ 936

A pílula da Novo tem o mesmo preço de tabela do Ozempic. Fonte: Preços de tabela da empresa

Uma versão em altas doses de Rybelsus especificamente para perda de peso está sendo considerada para aprovação europeia. Num ensaio de fase final, os pacientes que tomaram o medicamento uma vez por dia perderam cerca de 15% do peso corporal em menos de 16 meses.

Mas a pílula ainda tem limitações: os pacientes tomam o remédio diariamente com o estômago vazio e depois devem esperar mais meia hora antes de comer. Mesmo assim, foram relatados mais efeitos colaterais gastrointestinais em ensaios com a dose mais alta do medicamento do que em estudos com injeções de Wegovy.

A pílula também requer significativamente mais ingrediente ativo do que as injeções, e essa substância, a semaglutida, já é escassa. A Novo adiou os planos de solicitar aprovação nos Estados Unidos deste ano para o próximo e disse que o lançamento do medicamento depende da fabricação.

"Lilly na frente"
Assim como as injeções, todas as novas pílulas imitam o GLP-1, um hormônio que faz as pessoas se sentirem saciadas. A pílula experimental da Lilly, a Forglipron, tem a vantagem de “não haver restrições em termos de ingestão de alimentos e água”, de acordo com o vice-presidente executivo da empresa, Patrik Jonsson.

A pílula tomada uma vez ao dia rendeu quase tanta perda de peso quanto a dose experimental mais alta de Rybelsus em cerca de metade das vezes, ajudando pacientes com diabetes e obesidade a perder quase 15% do peso corporal em apenas 36 semanas. Especialistas disseram que esses resultados não têm precedentes para uma pílula, embora náuseas e vômitos ainda sejam comuns.

A pílula da Lilly “parece ser a melhor”, segundo Joon Lee, analista farmacêutico da Truist Securities, em entrevista. Embora provavelmente ainda esteja a anos de estar disponível comercialmente, poderá dar à Lilly uma vantagem sobre a Novo num mercado ainda amplamente dominado pela farmacêutica dinamarquesa.

Opção mais barata
Precisando de um retorno à medida que as vendas pandêmicas diminuem, a Pfizer está buscando medicamentos contra a obesidade para ajudar a restaurar as receitas. Depois de eliminar um medicamento experimental em junho devido a questões de segurança, a companhia está se concentrando em uma pílula que está agora em fase intermediária de estudo. Para competir com o medicamento da Lilly, o da Pfizer precisará apresentar porcentagem de perda de peso pelo menos na metade da adolescência, disseram analistas da Leerink Partners em nota.

O risco de efeitos colaterais pode explicar por que a Pfizer dividiu o medicamento em duas doses diárias em seu ensaio, disse Lee, da Truist. A empresa ainda está coletando e revisando dados sobre a pílula, segundo um porta-voz por e-mail, e não viu enzimas hepáticas elevadas que indicariam possível lesão.

Empresas de biotecnologia, incluindo a Viking Therapeutics, com sede em La Jolla (Califórnia, EUA), e a Structure Therapeutics, também estão testando pílulas para obesidade. A Structure, agora em estágio intermediário de testes em humanos, mostrou resultados promissores que estão “firmemente à frente” dos da Pfizer, disse Evan David Seigerman, analista da BMO Capital Markets, em nota.

Ainda mais longe do mercado está a pílula que a AstraZeneca licenciou na semana passada à chinesa Eccogene, num negócio avaliado em 1,83 bilhões de dólares. Pelo menos 75% dos pacientes preferem comprimidos a injeções, de acordo com Soriot, da Astra, em entrevista na semana passada. E, em contraste com a atual safra de medicamentos, ele prevê um produto mais barato.

Apenas o começo
— Acreditamos que o custo dos produtos seja mais baixo — disse Soriot na sede da Bloomberg em Nova York. — Há muitas pessoas que podem se beneficiar com um nível de preço aceitável — acrescentou.

Louis Aronne, especialista em obesidade da Weill Cornell Medicine, em Nova York, analisa que “a geração atual é apenas o começo”. Ele ainda assegurou que grandes fabricantes de medicamentos têm seus esforços nessa área.

— Temos mais de dez novos medicamentos chegando nos próximos cinco a dez anos — disse ele em entrevista. — Este não é o grande final — concluiu.