Mais de 30 bebês retirados de hospital de Gaza chamado de "zona de guerra" pela OMS
Complexo hospitalar ainda abrigava no sábado 25 profissionais da saúde e 291 pacientes
Mais de 30 bebês prematuros foram retirados do hospital Al Shifa, o maior da Faixa de Gaza, informou neste domingo (19) o diretor dos hospitais do território palestino, onde o Exército israelense segue ampliando as operações contra o movimento islamista Hamas.
A situação no hospital é "desesperadora" devido à falta de água, energia elétrica, medicamentos, comida e material médico, alertou uma equipe da Organização Mundial da Saúde (OMS) que, depois de visitar o complexo no sábado, afirmou que Al Shifa virou uma "zona de morte".
O diretor geral dos hospitais da Faixa de Gaza, Mohamed Zaqut, declarou à AFP que 31 bebês prematuros que permaneceram no hospital após a evacuação do centro médico no sábado foram retirados neste domingo, uma informação confirmada pelo Crescente Vermelho palestino.
O complexo hospitalar ainda abrigava no sábado 25 profissionais da saúde e 291 pacientes, incluindo cerca de 30 bebês em estado crítico, 22 pessoas em diálise e duas no CTI, segundo a OMS.
A organização, uma agência da ONU, afirmou que 2.500 deslocados que haviam buscado refúgio no hospital para fugir dos bombardeios, deixaram o local no sábado após uma ordem de esvaziamento do Exército israelense.
Israel bombardeia a Faixa de Gaza desde 7 de outubro, em resposta ao ataque executado pelo Hamas contra seu território, no qual os combatentes islamistas mataram 1.200 pessoas, a maioria civis, e sequestraram, ao lado de outros grupos armados, quase 240 pessoas, segundo as autoridades israelenses.
De acordo com o Ministério da Saúde do Hamas, que governa o território de 362 quilômetros quadrados desde 2007, 12.300 civis morreram nos bombardeios, incluindo 5.000 crianças.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, condiciona um cessar-fogo à libertação de todos os reféns, mas as negociações internacionais sobre os sequestrados enfrentam alguns obstáculos para alcançar um acordo, afirmou o primeiro-ministro do Catar, Mohammed ben Abdelrahmane Al-Thani.
O emirado abriga um escritório político do grupo islamista e atuou como mediador nas negociações que permitiram libertar quatro reféns em outubro.
A Casa Branca anunciou no sábado à noite que continua "trabalhando duro" para obter um acordo entre Israel e o grupo islamista palestino Hamas para libertar os reféns e estabelecer uma pausa nos combates.
"Ainda não chegamos a um acordo, mas continuamos trabalhando duro para chegar a um acordo", afirmou a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Adrienne Watson, na rede social X, em resposta à informação divulgada pelo jornal Washington Post de que um acordo já teria sido alcançado.
Segundo o jornal, o suposto acordo de seis páginas incluiria a libertação dos reféns em alguns dias e a primeira pausa no conflito em Gaza.
O Post, que cita fontes não identificadas, afirma que as partes interromperiam as operações de combate durante pelo menos cinco dias, enquanto alguns sequestrados seriam liberados de modo gradual, com vigilância aérea para controlar os movimentos.
Planos de transferência
De modo paralelo aos bombardeios, Israel, que prometeu "aniquilar" o Hamas, efetua desde 27 de outubro operações terrestres no território.
As ações se concentram no norte do território, na cidade de Gaza, que virou um campo em ruínas, e nas proximidades dos hospitais. O Exército israelense acusa o Hamas de instalar bases nos centros médicos e de utilizar os pacientes como "escudos humanos".
O grupo islamista, catalogado como organização terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel, nega as acusações.
A OMS anunciou que está preparando planos com seus parceiros para "a transferência imediata dos últimos pacientes, dos profissionais de saúde e de suas famílias" para outros hospitais de Gaza.
Os bebês prematuros retirados de Al Shifa foram acompanhados por três médicos e dois enfermeiros e há preparativos em curso para levá-los para o Egito, através da passagem de Rafah", o único ponto da fronteira que não é controlado por Israel, informou Zaqut.
O centro médico continua cercado por tanques israelenses e os soldados permanecem dentro das instalações, informou à AFP Marwan Abu Saada, diretor do departamento de cirurgia. "Ouvi pelo menos duas explosões esta manhã", disse.
As Forças Armadas israelenses anunciaram que prosseguem ampliando "as operações para novos bairros da Faixa de Gaza", como as áreas de Jabaliya e de Zeitoun, no norte do território.
O Exército de Israel informou neste domingo que mais três soldados morreram nos combates, o que eleva a 62 o número de militares que faleceram em Gaza desde o início da guerra.
Do lado palestino, o Hamas anunciou no sábado que mais de 80 pessoas morreram em dois bombardeios israelenses contra um campo de refugiados administrado pela ONU em Jabaliya, norte da Faixa. Um deles atingiu uma escola que abrigava deslocados.
"Os acontecimentos horríveis das últimas 48 horas em Gaza estão além da compreensão", afirmou neste domingo o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk.
Entrada de combustível
Segundo a ONU, mais de dois terços dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa foram deslocados pela guerra. A maioria fugiu para o sul do território com o mínimo necessário e tenta sobreviver ao frio que se aproxima.
Israel cortou em 9 de outubro o fornecimento de alimentos, água, energia elétrica e medicamentos que normalmente transitam por Rafah, na fronteira com o Egito.
A pedido dos Estados Unidos, Israel autorizou na sexta-feira a entrada diária por Rafah de dois caminhões com combustível. Quase 120.000 litros chegaram ao território no sábado, segundo a ONU.
Israel se negava até agora a permitir a passagem de combustível, alegando que poderia ser usado em atividades militares do Hamas.
As tensões também são elevadas na Cisjordânia, onde o Crescente Vermelho Palestino informou neste domingo que pelo menos dois palestinos morreram em operações noturnas do Exército israelense em ao menos cinco cidades e campos de refugiados.
Desde 7 de outubro, mais de 200 palestinos morreram em ações de colonos e soldados israelenses na Cisjordânia, ocupada desde 1967 por Israel, segundo o Ministério da Saúde palestino.
Em um artigo de opinião publicado no sábado pelo jornal Washington Post, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ameaçou impor uma proibição de vistos aos "colonos extremistas que atacam civis na Cisjordânia".
O presidente, cujo país é um aliado crucial de Israel, também propôs "reunificar" Gaza e Cisjordânia sob uma Autoridade Palestina "reforçada". Também apoiou uma "solução de dois Estados", em alusão à criação de um Estado palestino junto a Israel.