Posse

Celso Amorim diz que ainda não sabe quem vai representar o Brasil na posse de Milei

Braço direito de Lula para assuntos internacionais, Amorim afirmou que acredita que Lula não participará da cerimônia

Assessor especial da Presidência, Celso Amorim, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante recepção para o presidente da Finlândia, Sauli Niinstö, no Itamaraty - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O assessor-chefe para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, afirmou nesta segunda-feira que ainda não sabe quem vai representar o Brasil na posse do presidente eleito na Argentina, Javier Milei, mas que achava que o presidente Lula não participaria da cerimônia.

— Não sei ainda quem vai representar o Brasil. Eu acho que o presidente Lula, creio que ele não irá. Pelo o que eu conheço do presidente, tendo sido alvo de ofensas pessoais, acho muito difícil ele ir — afirmou em entrevista a Globonews.

Braço direito do presidente Lula para assuntos internacionais, Amorim reforçou que a relação entre Brasil e Argentina é "sólida" e que pelo lado brasileiro vai prevalecer as relações de estado.

— O Brasil quer ter relações importantes com a Argentina, vai manter essas relações de estado. Pelo mesmo desde a redemocratização foram relações sólidas e importantes e assim se manteve em momentos diversos — afirmou, completando: — Não posso falar em nome do presidente eleito Milei, mas no que toca o presidente Lula, acho que ele tem total capacidade de distinguir entre as questões pessoais e de estado. Acho que ele mesmo disse que o Brasil não faltará ao que for necessário para a Argentina.

Amorim afirmou ainda que a relação entre os dois países é "estratégica" e "fundamental" e que a filosofia do governo é que haja uma cooperação entre países da América do Sul, mas que "afinidades" facilitariam esse cenário.

— É uma relação estratégica, fundamental não só pelo lado bilateral, mas para a inserção do Brasil no mundo. A filosofia do presidente Lula é que para nos integrarmos adequadamente no mundo, para que a voz da América Latina e América do Sul seja ouvida é preciso que tenhamos uma capacidade de coordenação. Claro que facilit quando você tem afinidades, não há dúvida, mas do nosso lado não vamos deixar que simpatias pessoais ou o oposto afete nosso relacionamento de estado com a Argentina

Para o governo brasileiro, o triunfo do candidato do partido A Liberdade Avança sempre foi o pior cenário, não apenas pelas divergências ideológicas e a proximidade de Milei com o ex-presidente Jair Bolsonaro — que já indicou que irá à posse —, mas também pela ameaça de retrocesso na política de integração regional, pilar da política externa brasileira.

Há divergência profunda entre Lula e Milei sobre a integração latino-americana. O presidente eleito da Argentina pode seguir os passos de seu amigo Bolsonaro e retirar a Argentina da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e até mesmo interromper o processo de adesão ao Brics, que inclui países com os quais ele já disse não pretender se relacionar e os quais costuma achincalhar publicamente, especialmente a China.

Como mostrou o Globo, Lula espera sinais de Milei de que há possibilidade de existir uma relação amistosa com o Brasil, independentemente das diferenças políticas e ideológicas entre os gestores dos dois países.

Somente a partir de então será possível uma conversa telefônica entre Milei e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e até mesmo a ida de Lula à posse do economista da direita radical, em Buenos Aires, no próximo dia 10 de dezembro.