guerra na ucrânia

Cantora campeã de reality é incluída em lista de procurados da Rússia por criticar guerra na Ucrânia

Jamala aparece no banco de dados do Ministério do Interior russo sob o nome de Susana A. Dzhamaladinova

Susana A. Dzhamaladinova, a Jamala, foi incluída em lista de procurados da Rússia - Reprodução/Instagram

A Rússia adicionou à sua lista de procurados uma popular cantora ucraniana que venceu o concurso internacional de música Eurovision há sete anos, num momento em que Moscou expande os esforços contra figuras culturais críticas à invasão da Ucrânia.

A cantora, conhecida profissionalmente como Jamala, apareceu no banco de dados de procurados do Ministério do Interior da Rússia sob o nome de Susana A. Dzhamaladinova. O nome dela parece ter sido adicionado à lista em outubro, mas foi divulgado pela mídia russa nesta segunda-feira.

A lista não especificava as acusações contra ela. Mas, segundo o Zona Media, um site de notícias russo, Jamala, de 40 anos, foi acusada pelas autoridades de espalhar informações falsas sobre as atividades do Exército russo.

A ação provavelmente terá mero impacto simbólico para a cantora, que mora na Ucrânia. Jamala, que atualmente está na Austrália, reagiu à notícia postando uma foto sua em frente à Ópera de Sydney.

A cantora ucraniana é de origem tártara da Crimeia e tem sido uma defensora proeminente do povo tártaro — nativa da Península da Crimeia, essa população foi deportada em grande número quando a região fazia parte da União Soviética. A Rússia anexou a Crimeia da Ucrânia em 2014, depois de uma revolta popular ter deposto um presidente pró-Rússia na capital ucraniana, Kiev.

Jamala venceu o concurso de música da Eurovision em 2016 com uma canção dedicada aos tártaros da Crimeia que foram deportados na década de 1940 depois de terem sido acusados de cooperar com alemães nazistas. Seus ancestrais foram deportados para a Ásia Central, onde ela nasceu.

“Não importa onde eu esteja, a primeira prioridade para mim é lembrar que estrangeiros vieram à minha casa para matar e mutilar vidas, para destruir e reescrever a minha cultura”, disse Jamala ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em novembro de 2022. “Aconteceu em 1944, e depois em 2014, e agora novamente. Agora todos na Ucrânia entendem que isto pode acontecer a qualquer um, se o mal não for detido e levado à justiça pelo crime.”

A Ucrânia tem utilizado a herança tártara da Crimeia para contrabalançar o domínio cultural russo na região, que se tornou parte do império russo depois de ter sido conquistada no século XVIII. Em 1954, a península foi transferida da autoridade russa para a ucraniana dentro da União Soviética.

Moscou vetou mais de 30 artistas
O ataque a Jamala faz parte de uma campanha de Moscou para silenciar ativistas que se recusam a aceitar o domínio russo da Crimeia e que se opõem à guerra contra a Ucrânia – tanto dentro da Rússia como para além das suas fronteiras.

Segundo o Izvestia, um jornal russo, mais de 30 artistas ucranianos foram proibidos de entrar na Rússia desde abril de 2022.

Pelo menos uma dúzia de artistas russos populares que condenaram publicamente a invasão da Ucrânia foram declarados “agentes estrangeiros”, um termo que os estigmatizou como supostos recebedores de pagamentos de governos estrangeiros. Muitos outros artistas foram proibidos de se apresentar no país.

A Rússia também intensificou os esforços para criar o seu próprio mercado de música popular, depois de ter sido essencialmente excluída do mercado europeu – incluindo do concurso da Eurovision – após a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

Na semana passada, Olga B. Lyubimova, ministra da Cultura da Rússia, anunciou a criação do próprio concurso de canções populares do país, denominado Intervision, segundo a Interfax, uma agência de notícias russa.