Fã que morreu em show de Taylor Swift teve hemorragia no pulmão e três paradas cardiorrespiratórias
Ainda são necessários exames complementares para saber se forte calor ocasionou a morte de Ana Clara Benevides na última sexta-feira (17)
O laudo de necropsia apontou que Ana Clara Benevides, de 23 anos, — fã que morreu durante o show da cantora Taylor Swift, na última sexta-feira (17) — teve hemorragia no pulmão e três paradas cardiorrespiratórias, como adiantou O Globo. O laudo, no entanto, é inconclusivo. A Polícia Civil solicitou exames complementares, de toxicologia e histopatologia, para identificar a causa da morte da jovem.
Segundo a delegada Juliana Almeida, titular da 24ª DP, que investiga o caso, ainda é prematuro afirma o que desencadeou o óbito:
"O laudo de necropsia não foi conclusivo e o perito solicitou exames complementares de toxicologia e histopatologia. Apesar do laudo indicar que a hemorragia no pulmão pode ser um caso de insolação, ainda não é conclusivo. É prematuro afirmar que ela morreu por causa do calor. Outras causas não estão descartadas. O que sabemos é que ela teve três paradas cardiorrespiratórias e veio a óbito. Só em até 30 dias saberemos se ela morreu devido ao calor" explicou a delegada em entrevista ao Globo.
A delegada contou que o pai de Ana Clara, José Weiny Machado, afirmou que a filha não tinha doenças preexistente e ele também não tinha o conhecimento de que ela tomava medicamentos.
Exames complementares
Ana Clara passou mal já no início do show da cantora Taylor Swift, realizado no Es´tadio Olímpico Nilton Santos, o Engenhão, na noite da última sexta-feira. Foram pedidos exames complementares para apurar a causa da morte uma vez que as características dos órgãos afetados devido à exposição excessiva ao sol só é possível após análises ao microscópio, afirmam médicos legistas ouvidos pelo Globo, portanto, não são visíveis a olho nu.
São avaliados fragmentos de órgãos como rim, pulmão, cérebro e fígado, conhecidos na medicina forense como exames histopatológicos. O objetivo é descobrir se há inflamação nesses tecidos, cuja causa foi o intenso calor. Para isso, são necessários até 30 dias para um resultado confiável. O exame toxicológico também é crucial, uma vez que drogas também podem causar alguma alteração no organismo.
O perito legista aposentado Luiz Carlos Prestes, coordenador da Câmara Técnica de Medicina Legal do Cremerj, explica que o organismo é dotado de mecanismos de adaptação a fim de buscar o equilíbrio ao enfrentar altas temperaturas. Tal função é feita pelo hipotálamo — localizado na região do cérebro —, responsável por regular a temperatura corporal.
"Toda vez que o nosso organismo não consegue esse equilíbrio, quando há problemas nessa troca de calor com o meio ambiente, ele sofre uma série de alterações. Existem inúmeros fatores que irão influenciar na gravidade das termonoses, que são esses efeitos danosos ao nosso organismo (conhecidos como doenças do calor). Por exemplo, é preciso saber se o ambiente em que a vítima se encontrava era arejado ou se ela estava confinada. Existem ainda fatores inerentes à própria pessoa. Se ela era franzina, se ela utilizou algum tipo de medicamento por ter alguma doença, ou mesmo drogas" explicou Prestes.
Segundo ele, a partir do momento que o organismo não consegue esse equilíbrio, há a perda de água por meio do suor intenso e, em consequência disso, a eliminação de sódio e eletrólitos, substâncias que permitem a regulação da temperatura.
"O resultado desse desequilíbrio são: queda da pressão arterial e uma sede intensa. Com o passar do tempo, se não houver a hidratação, ocorrem problemas neurológicos e cerebrais. Quando a grande fonte de calor é permanente e ela não consegue quebrar esse ciclo, há o colapso. Ela desmaia, perde a consciência e o resultado é a morte" relatou o legista.
Como a morte por excesso de exposição ao calor é investigada
Prestes explica que, quando o corpo chega ao Instituto Médico-Legal (IML), o perito analisa as informações prestadas pelo médico que atendeu a vítima no hospital. O profissional vai dar as hipóteses diagnósticas e que tipo de tratamento o paciente foi submetido, antes de morrer, assim como estado que ela chegou até a unidade.
A dificuldade em atestar o óbito de vítimas que morrem por excesso de exposição ao calor se dá porque as mudanças no organismo não são percebidas a olho nu, conforme explica o legista. Daí a necessidade dos exames complementares para se chegar à conclusão. O prazo de 30 dias é por conta do tempo de preparação do órgão a ser examinado.
"Nem sempre a necropsia traz respostas imediatas. A causa da morte não é aparente, nesse caso específico" ressaltou.
Depois do resultado, a família faz o aditamento ao atestado de óbito com as novas informações a partir do laudo.
"Não é difícil ser essa a causa (alta exposição ao calor), da morte dessa jovem (Ana Clara Benevides). Em tese, segundo a apuração da imprensa, não havia água suficiente e o local (estádio) teria pouca ventilação. Mas só os exames poderão afirmar com precisão. É importante frisar que esse tipo de morte é evitável: basta hidratação e um ambiente arejado"comentou o especialista.
Outro médico legista, o professor Talvane de Moraes, explica que há dois tipos de morte em razão de exposição excessiva ao calor: por internação, quando a pessoa está em ambiente fechado sob intenso calor; e por insolação, quando a vítima foi exposta ao sol por muito tempo:
"Em ambas situações, a situação é a mesma: o organismo apresenta problemas por conta da elevada temperatura exterior. Fica difícil descobrir no exame cadavérico, só olhando nos órgãos do cadáver, se a razão da morte foi por internação ou insolação, ou até outra causa. Daí a necessidade de exames complementares. Foi por isso que o colega do IML fez o requerimento para avaliar aspectos como grau de perda de substâncias fundamentais como sódio e eletrólitos, por exemplo, que resultam da desidratação aguda, do prejuízo provocado pelo calor excessivo" explicou Talvane.