De Alter do Chão para o Recife: Suraras do Tapajós traz a cultura amazônica para a Caixa Cultural
Primeiro grupo de carimbó formado por mulheres indígenas chega à Capital pernambucana para temporada de apresentações, de hoje (22) a sábado (25)
No oeste do Pará, região do Baixo Tapajós - abrangendo as cidades de Santarém, Belterra e Aveiro - habitam 14 etnias indígenas, que, assim como tantas outras Brasil afora, vivem em estado de luta e resistência permanente para manter suas tradições, sua cultura e seu território contra a invasão predatória da sociedade branca.
Foi de Alter do Chão, localizada nessa região, à beira do rio Tapajós, que surgiu o primeiro grupo de carimbó totalmente formado por mulheres indígenas, o Suraras do Tapajós. Elas chegam ao Recife, pela primeira vez, para uma temporada de apresentações, de hoje (22) a sábado (25), na Caixa Cultural, no Bairro do Recife.
Guerreiras indígenas
Em Nheegatu - língua falada pelos povos do Baixo Tapajós - , “Surara” quer dizer “guerreiro” ou “guerreira”. Foi assim que ficaram conhecidas as Suraras do Tapajós, que, em 2016, surgiu como um coletivo, hoje Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós, entidade que trabalha em prol das causas indígenas.
Dos encontros e reuniões da associação, em 2018, surgiu o grupo musical, que toca, essencialmente, carimbó, o genuíno ritmo paraense. “É um braço forte da associação que consegue levar, através da música e da arte, a nossa luta, as nossas histórias, e consegue alcançar espaços que, como associação, talvez fossem um pouco mais difíceis”, diz Jaciara Borari, uma das percussionistas das Suraras.
“O grupo começou como uma forma de tornar um pouco mais leve a nossa luta. A gente tem rodas de afetividade na associação, e, ao final das nossas reuniões, a gente sempre gostava de cantar e tocar. A partir daí, a gente viu que tinha essa possibilidade de se tornar um grupo. A gente foi se profissionalizando, alcançando nossos instrumentos, fazendo nossas músicas autorias”, continua Jaciara.
Atualmente, cinco etnias estão diretamente envolvidas na Associação e no grupo musical: Tupinambá, Borari, Munduruku, Tapajó e Arapiun.
Arte e ativismo
As Suraras do Tapajós chegam ao Recife trazendo o show que circula em outras praças da Caixa Cultural, baseado no seu EP e no álbum “Kiribasáwa Yúri Yí-Itá” (“A Força que vem das Águas”). As suas músicas evocam a ancestralidade indígena, suas tradições, versam também sobre as questões territoriais e sobre a natureza.
“Falamos das nossas pinturas, das lutas em defesa do território, dos nossos encantados, da força feminina, da nossa mata, do nosso rio Tapajós, que nos banha e está constantemente ameaçado pelo garimpo ilegal, pelo desmatamento, que acontece muito forte na nossa região”, conta Val Munduruku, também integrante do grupo e presidente da associação.
“Hoje, estamos ocupando vários palcos no Brasil. Então, usamos esses espaços para mostrar que nós, povos indígenas, também estamos fazendo arte, também estamos nessa resistência cultural. Durante muitos anos vivemos cercados, vendo nossos direitos sendo negados, toda uma conquista de luta. Por isso, e a gente está colocando as nossas narrativas como pauta”, continua Val.
Encontro e oficina
Além das apresentações, a passagem das Suraras do Tapajós pelo Recife também será marcada por dois outros momentos: na sexta (24), das 15h às 16h, acontece um encontro com coletivos e associações indígenas pernambucanas, com o intuito de promover um intercâmbio de conhecimentos entre os povos. A entrada é gratuita e os ingressos serão distribuídos uma hora antes do evento.
E no sábado (25), das 14h às 17h, duas integrantes do grupo realizam uma oficina gratuita de carimbó, dança e instrumentos. São 20 vagas disponíveis, com inscrições gratuitas pelo site da Caixa Cultural.
SERVIÇO
Suraras do Tapajós
Quando: 22 a 25 de novembro, às 20h
Onde: Caixa Cultural Recife | Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), no site da Caixa Cultural
Informações: (81) 3425-1915