TURISMO

Com Milei, Argentina seguirá um destino barato para o turista brasileiro? Agentes do setor respondem

Nos primeiros dias após o resultado da eleição, vantagem cambial se ampliou com desvalorização do peso argentino

Floralis Genérica, ponto turístico em Buenos Aires - Fabio Nóbrega/Portal Folha de Pernambuco

Após a vitória de Javier Milei nas eleições presidenciais argentinas, o peso seguiu se desvalorizando ante o dólar nos mercados paralelos. Apesar das incertezas sobre o futuro do câmbio, em meio às promessas de dolarização do presidente eleito, e da própria economia argentina como um todo, o país deve continuar atraente para os turistas brasileiros, segundo associações do setor.

Na terça-feira, primeiro dia útil após o pleito, o dólar blue, como é conhecido o dólar paralelo, foi negociado acima dos mil pesos. Para analistas, o movimento já era esperado e poderia ocorrer com vitória de ambos os candidatos.

Nos últimos meses, o fluxo de brasileiros viajando para o país aumentou, justamente pela cotação mais baixa da moeda local tanto ante o dólar quanto ante o real.

— A tendência de procura em alta deve permanecer. O destino está barato e o real está com um poder muito maior frente ao peso. Você consegue ter as melhores experiências a preços módicos. Isso influencia na opção de viagem para a Argentina — disse o vice-presidente financeiro da ABAV Nacional, Edmilson Romão.

Existe mais de uma dúzia de cotações de câmbio, alguns deles com utilização para setores específicos. Para o turista, o mais importante costuma ser o dólar blue, que vale bem mais que o dólar oficial.

Cuidados com conversão
Quanto menos conversões o turista fizer, a tendência é que perca menos dinheiro. Em cidades maiores como Buenos Aires, é fácil fazer as trocas. A recomendação é fazer a conversão de acordo com as necessidades de cada turista e não apenas pela atratividade do peso barato.

— A ideia é levar dólar e trovar lá por pesos em espécie. Eles têm que trocar de preferência em lugares que sejam seguros, mas os cuidados são parecidos aos que devem ocorrer em outros lugares do mundo — disse Romão.

Caso decida procurar as cuevas, inúmeros pontos de venda de dólares no mercado paralelo, o melhor é pedir indicação a conhecidos, agências de viagem ou aos hotéis.

Para estadias mais longas, o ideal é não trocar todo o dinheiro de uma vez, pois a moeda argentina tem se desvalorizado rapidamente, em um cenário marcado por incertezas. Com isso, os reais ou dólares do turista podem valer mais à frente.

Além disso, a inflação no país está em patamares bastante elevados, levando a reprecificação constante de produtos e serviços.

— No primeiro momento até pode ser mais vantajoso para o brasileiro turistar na Argentina com o real mais valorizado, mas a inflação vai aumentar o preço dos produtos e serviços em peso, igualando novamente o cenário econômico. Os importadores e exportadores podem notar maiores mudanças, já que utilizam o câmbio oficial — pondera o head da tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt.

'Upgrade' nos serviços
A presidente executiva da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), Marina Figueiredo, também avalia que o país é um destino atrativo economicamente para os brasileiros.

— Temos a questão do câmbio favorável, que possibilita um upgrade nos serviços, com excelentes hotéis, restaurantes, vinhos e passeios a custos abaixo do que normalmente seriam. Isso já aconteceu outras vezes e sempre que isso ocorre, nós vemos a demanda aumentar.

Além de Buenos Aires, Romão destaca que destinos como Mendoza e Bariloche, mesmo fora da época do inverno, são atraentes para os brasileiros seja para compras ou para o turismo de experiências.

Incertezas na economia
Economistas consideram as propostas apresentadas por Milei, como a dolarização, de difícil execução. Além da falta de reservas no país, a aprovação das medidas demandaria um forte apoio no Congresso.

O analista da Empiricus Research, Matheus Spiess, ressalta que Milei precisou moderar o discurso desde a vitória nas primárias em busca de apoio político. Ainda assim, Spiess prevê que dificilmente propostas mais radicais sejam aprovadas no país.

— Não sabemos se o projeto de dolarização irá adiante e o próprio Congresso é muito plural, com forte presença do peronismo. Será difícil construir esse consenso para algumas propostas mais arrojadas. Alguma institucionalidade, em especial as relações da Argentina com o resto do mundo, deve impedir que determinadas propostas mais radicais passem — disse.