Entrada desordenada de animais de outros estados atrapalha mercado pernambucano de suínos
Compra de soja e milho de fora, já que o estado não é autossuficiente na produção de grãos, é um dos fatores que fazem com que os custos de produção sejam altos
Dos nove estados do Nordeste, Pernambuco ocupa hoje o quinto lugar no ranking dos maiores produtores de suínos da região, com um plantel de 181 mil matrizes e um rebanho que ultrapassa 923 mil animais, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), divulgada em setembro último pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A quantidade do rebanho apontada pelo IBGE bate com o levantamento feito pela Associação Pernambucana de Suinocultores (APS), que é de exatamente 924 mil porcos, mas o plantel estimado pela entidade, 115 mil matrizes, é bem abaixo que o da PPM.
Quanto à colocação de Pernambuco no ranking dos cinco maiores produtores nordestinos, o presidente da APS, Carlos Albérico Bezerra, revela que o Estado já esteve numa posição muito melhor. “Na década de 1990, chegamos a ocupar o primeiro lugar. Um dos principais motivos de termos perdido o posto foi a dificuldade que passamos a ter, principalmente por conta do milho e soja (alimentação básica dos suínos). Pernambuco não é autossuficiente em nenhum tipo de grão, temos que comprar de fora”, explicou Albérico.
De acordo com o presidente da APS, o milho e a soja são comprados do Maranhão, do Norte do Piauí, de Sergipe e da Bahia. “Isso afeta nossos custos de produção. Os planteis mais próximos desses produtores de grãos como, por exemplo, o Ceará, que é colado ao Maranhão, começaram a crescer em rebanho suíno. A Bahia, que é um grande consumidor de suínos vivos nossos, cresceu enormemente, também”, afirmou.
O abate semanal em Pernambuco hoje é, segundo a APS, de 15,4 mil animais, o que corresponde a 900 mil quilos de carne de porco. “Desse total abatido, é muito pouco que vai para outros estados, mas animais vivos a gente vende mais, principalmente para a Paraíba”, explicou.
Albérico, que é produtor, conta que já chegou a vender um caminhão com 150 suínos por semana para um matadouro de Salvador (BA), que hoje não compra mais. “O Rio Grande do Norte comprava mais que isso, mas também deixou. Quem continua comprando é a Paraíba. Nós caímos em produção em função da necessidade de milho e soja de fora”, disse.
Uma luz no fim do túnel, mas que ainda pode estar um pouco longe, é a conclusão do ramal de Pernambuco da ferrovia da Transnordestina, que foi retomada pelo Governo Federal. “Quando isso acontecer, os grãos que vêm do Piauí de trem vão chegar com um preço muito melhor por conta do frete, que será reduzido”, esclareceu.
Quanto ao número de granjas em Pernambuco hoje, Albérico conta que este é um número muito fluido, mas mesmo assim arrisca uma quantidade aproximada. “Existe o pequeno criador, que entra no negócio, mas não se adapta por um motivo ou outro e sai, mas arrisco dizer que é em torno de cinco mil criadores, considerando-se os grandes e os pequenos”, deduziu.
Outro entrave que emperra o crescimento do mercado local é, segundo Albérico, a entrada desordenada de animais de fora do estado para abate e recria (Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e, em quantidade bem menor, da Bahia). “A fiscalização nas fronteiras do estado é feita de uma forma absurdamente desleal. Se tem que fiscalizar, e não se fiscaliza como deveria é uma deslealdade com os criadores”, reclamou Albérico.
Sem critérios
Para o secretário da APS, o médico veterinário Marcelo Holanda, a entrada de animais de criadores de fora sem critérios tem atrapalhado o crescimento do mercado local cada vez mais. “Pernambuco não cobra impostos, como o Ceará e o Piauí, além de fiscalizarem melhor, fazem. Nesses dois estados, a lei é bem mais severa”, comparou Holanda.
A APS, garante ele, tem pressionado a Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco (Adagro) para resolver essa questão, mas esta tem alegado, ainda de acordo com ele, que não possui pessoal, estrutura e recursos financeiros suficientes para isso.
O preço mais baixo faz com que frigoríficos locais deem preferência aos animais vindos de fora. “Isso inibe muito nossa produção, deprime o produtor, que não tem condições de concorrer com o Sul do país em termos de preço. Temos, sim, como concorrer em qualidade, mas não em preços por conta dos nossos custos, que são altos”, disse Holanda.
A qualidade do produto local, que não deixa nada a desejar em comparação do o do Sul do País, deve-se aos, segundo Holanda, aos cuidados cada vez maiores que os criadores têm dedicado à sanidade dos animais (trabalho de prevenção, planejamento e cuidados com a qualidade de vida dos rebanhos, para que produção seja maior e melhor), à alta qualidade genética e manejo, por conta da tecnologia de ponta. Muitas granjas do estado, inclusive, já trabalham há um bom tempo com inseminação artificial.
O médico veterinário revela que entram em Pernambuco cerca de 600 leitões toda semana, principalmente vindos do Piauí. “Quaundo esses animais chegam aqui são comercializados nas feiras livres do interior (Capoeira, Cachoeirinha, Caruaru etc.). Muitos produtores, principalmente na região das queijarias (Pedra, Arcoverde Pesqueira, São Bento do Una, Garanhuns) sofrem muito com essa concorrência, mas sofrem muito mesmo”, garantiu Holanda.