DIPLOMACIA

Futura chanceler de Milei faz visita secreta a Brasília para se reunir com ministro de Lula

É a primeira viagem internacional de Diana Mondino, confirmada pelo presidente eleito da Argentina como Ministra das Relações Exteriores

Diana Mondino e o presidente eleito da Argentina, Javier Milei - Reprodução/Instagram

A futura chanceler argentina, Diana Mondino, escolhida pelo presidente eleito do país, Javier Milei, para comandar o Ministério das Relações Exteriores do país a partir de sua posse, em 10 de dezembro, desembarcou neste domingo (26) em Brasília para se encontrar com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira.

A primeira viagem internacional de Mondino foi preparada em segredo nos últimos dias, com o objetivo principal de aparar arestas entre o governo Lula e o governo eleito da Argentina, e evitar um retrocesso na relação bilateral a partir da mudança de governo no país vizinho.

Dois dos principais articuladores da viagem foram o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli, e da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, que estarão presentes no encontro.

Poucas pessoas souberam com antecipação que Mondino iria a Brasília, em meio a esforços diplomáticos e de colaboradores de Milei para que, além de conseguir uma primeira aproximação entre os dois governos, Lula possa reavaliar sua intenção de não presenciar a posse do presidente eleito da Argentina.

 

A visita ocorre um dia antes da realização, em Brasília, de um foro empresarial que contará com as principais câmaras industriais dos dois países, entre elas a Confederação Nacional da Industria (CNI) e a União Industrial Argentina (UIA).

Existe temor entre empresários brasileiros e argentinos pelo futuro da relação, e a presença de Mondino em Brasília é um gesto que busca, também, transmitir uma mensagem de tranquilidade nesse sentido.

Ainda não está claro se o presidente brasileiro — e seus assessores internacionais — mudará de opinião, mas a principal preocupação dos que promoveram a viagem de Mondino, e da própria futura chanceler, é que o vínculo bilateral seja preservado.

Durante a campanha, Milei referiu-se ao presidente brasileiro como comunista e corrupto e, assim como moderou seu discurso em relação ao Papa Francisco, o governo do presidente americano Joe Biden e o governo da China, espera-se que possa, também, moderar-se em relação a Lula. A presença de Mondino em Brasília é um gesto contundente neste sentido.

Semana passada, Milei declarou que, se vier à posse, o chefe de Estado brasileiro "será bem recebido”. O problema, na visão de alguns assessores do presidente brasileiro, é a presença, já confirmada, do ex-presidente Jair Bolsonaro — que viajará com uma delegação expressiva e pretende passar alguns dias na capital argentina.

As primeiras conversas entre Scioli e a equipe de colaboradores de Milei ocorreram através de quem será o futuro ministro do Interior do governo eleito, Guillermo Francos.

Os dois se conhecem há muitos anos e têm uma excelente relação. Francos transmitiu a Scioli o desejo de Milei de ter uma boa relação com o governo Lula e conectou o embaixador com a futura chanceler. Na primeira conversa entre Mondino e Scioli surgiu a ideia de uma viagem da futura ministra a Brasília.

Na sexta-feira, Scioli se reuniu com o Assessor Especial da Presidência da República, Celso Amorim, no Palácio do Planalto. O encontro, comentaram fontes, foi positivo. Scioli tem boas relações com membros do governo eleito da Argentina e deve permanecer no posto.

O embaixador, que como representante do governo do peronista Alberto Fernández conseguiu — para surpresa de muitos — estabelecer um bom vínculo com o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, é peça chave para que o vínculo entre Brasil e Argentina não entre numa nova fase de crise e tensão.

Os contatos entre o embaixador Bitelli e Mondino também foram, segundo fontes, muito positivos para os que buscam desanuviar a relação bilateral. As conversas tiveram e continuam tendo vários objetivos, mas, acima de tudo, desestressar o a relação entre os dois países, apesar das púbicas diferenças ideológicas entre seus presidentes.

Existe preocupação entre empresários dos dois lados da fronteira. Neste domingo, Scioli receberá em Brasília uma delegação da UIA, que quer ouvir do embaixador o que deve ser esperado em matéria de vínculo bilateral nos próximos tempos.

Com um Milei claramente mais moderado — por enquanto —, o objetivo é acalmar o ambiente e permitir que o vínculo bilateral, pilar do Mercosul, comece em bons termos, deixando rixas passadas para trás. Os dois países compartilham uma agenda abrangente, que inclui, entre outros temas, o acordo entre Mercosul e União Europeia (UE), com o qual Milei, disseram fontes de sua equipe, está de acordo.