SUPERAÇÃO

Da máquina de segunda mão e corte a R$ 3 até jogadores de futebol do Brasil: conheça Alyson Barber

Alyson Arthur de Barros Tomé, de 27 anos, aprendeu a cortar cabelo em 2016, assistindo a vídeos

Alyson atende em uma barbearia no Alto José do Pinho, na Zona Norte da capital pernambucana - Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

Nascido no Recife, Alyson Arthur de Barros Tomé, hoje com 27 anos, começou a carreira de barbeiro em 2016, assistindo a vídeos de profissionais da área na internet e contando com a ajuda de primos e amigos como “modelos”. Foi entre um corte e outro que percebeu o caminho para mudar de vida e assim iniciar a sua história como “Alyson Barber” (@alysonbarber_), fundador da Boleiros Barber Shop (@boleirosbarbershop1), uma barbearia localizada no Alto José do Pinho, na Zona Norte da capital pernambucana.

Alyson Barber posa na frente da sua barbearia, no Alto José do Pinho | Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

O caminho até a realização desse sonho, alcançado em 2020, foi marcado por dificuldades desde o começo.

“Comecei na barbearia em 2016 e aprendi olhando no Youtube. Me despertou o interesse de seguir em frente, vendo a possibilidade de mudar a minha vida e a da minha família. Eu não tinha condições de fazer um curso, porque não tinha renda mensal. Me dediquei ao máximo vendo os vídeos”, relembra de início. 

Para que a dedicação pudesse acontecer de forma prática também, ele contou com a ajuda de primos e amigos. Os primeiros cortes foram feitos com uma máquina amarela de "segunda mão", presente da sua avó. “Eles me serviam de modelos para eu me desenvolver. A minha primeira barbearia foi no terraço da casa da minha avó. Ganhei dela uma máquina usada e comecei a ter os meus primeiros clientes”, diz. 

À época, o valor cobrado pelo corte era R$ 3.

Para que a dedicação pudesse acontecer na prática, ele contou com a ajuda de primos e amigos | Foto: Arquivo pessoal

O segundo passo no caminho em direção ao sonho também foi a partir de um atalho caseiro. Porém, os desafios persistiram. “Meu segundo salão foi no beco da casa da minha mãe. A dificuldade era maior visto que, quando chovia, eu não conseguia trabalhar, porque não tinha coberta”, afirma.

Para expandir o negócio e outra vez tentar driblar as dificuldades, ele decidiu aumentar o preço dos cortes. Agora, o custo era de R$ 7.

A concretização do sonho se aproximou

“Tive oportunidade de juntar dinheiro para começar a ter uma melhor estrutura. Chamei meu irmão para que pudéssemos investir em um projeto maior. Foi aí que surgiu a Boleiros Barbeshop”, celebra, fazendo questão de ressaltar uma proposta diferente das tradicionais barbearias.

“Surgiu com o intuito de ter uma barbearia padrão na comunidade do Alto José do Pinho, visando não só o corte de cabelo, mas um ambiente familiar. Foi quando o reconhecimento chegou, e comecei a ter oportunidades de cortar os cabelos de diversos atletas de clubes de todo o Brasil”, exalta.

Além de Sport, Náutico e Santa Cruz, que compõem o Trio de Ferro da capital pernambucana, atendimentos acontecem com jogadores de clubes como Chapecoense, CRB, Redbull Bragantino, São Bernardo, CSA, Tombense, Londrina, Salgueiro e São José.

Atacante Ray Vanegas, do CSA, de Alagoas (AL); jogador é nascido na Colômbia | Foto: Arquivo pessoal

Na escalação de clientes, Alyson Barber é bem reforçado. Na lista, estão, entre outros, os atacantes Diego Souza (Sport), Vágner Love (Sport), Luciano Juba (Sport), Kayke Moreno (Chapecoense), o meia Jorginho (Sport), o zagueiro Gum (CRB) e o lateral Alan Ruschel (Juventude). Esse último foi um dos sobreviventes do acidente com o avião da Chapecoense, que completou sete anos na terça-feira (28).

Felipe Garcia, goleiro da Tombense, corta cabelo com Alyson Barber | Foto: Arquivo pessoal

Onde tudo começou
O ponto de partida para todos esses clubes foi o Estádio da Ilha do Retiro, onde Alyson Barber começou a atender os atletas das categorias de base em 2019. Duas temporadas foram suficientes para ele “subir” ao elenco profissional.

O profissional relembra com detalhes o dia que fez seu primeiro percurso até o Centro de Treinamento do Sport, na Guabiraba, para atender Mateusinho, jogador da base à época. 

“Cortei o cabelo de um rapaz que mora aqui perto e trabalha no Sport. Quando chegou lá, ele me disse que um menino de lá tinha gostado do corte e perguntou se eu podia ir lá para fazer, eu disse que sim. Nem sabia onde era o CT, mas fui sozinho. Cheguei lá umas 20h e saí na madrugada, porque chegava um, dois, oito, doze”, relembra.

Da base, de corte em corte, conseguiu lugar no profissional e agora é uma das peças rubro-negras nas concentrações pré-jogo. É nesse período que faz os cortes dos atletas.

Alyson Barber com Jorginho, do Sport, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife; filho do atleta também cortou cabelo | Foto: Arquivo pessoal

Inesquecível
Apesar de algo natural na rotina do barbeiro hoje, o início foi marcado pelo “frio na barriga”, como na primeira vez em que o atacante Diego Souza foi seu cliente. 
 
“Eu estava num almoço em família num domingo, e os meninos me ligaram dizendo que Diego Souza queria cortar o cabelo. Ele foi o mais ‘pesado’ que eu atendi, por toda a história que tem. Foi o que ‘puxou’ mais mentalmente de mim também, porque se eu fizesse besteira, todo mundo iria falar, já que ele ia estar com um monte de fotógrafos no dia seguinte no jogo”, conta.

Alyson Barber durante corte de cabelo no atacante Diego Souza, do Sport | Foto: Arquivo pessoal

Com o passar do tempo, o frio na barriga deu chance a parcerias e amizades. Para além dos cortes.

“Todo jogo em casa (Ilha do Retiro), atendo na concentração o time todo. Exceto Vágner (Love), que é ‘carequinha’ e aí não tem como, mas ele sempre participa do momento”, diz entre risos.

Apesar de careca, atacante Vágner Love, do Sport, participa da "resenha" com o barbeiro | Foto: Arquivo pessoal

Além da geografia
O elo nos cortes, inclusive, não é encerrado com os contratos dos jogadores com o Rubro-negro. Seguindo o calendário das partidas, uma oportunidade no Recife representa também a chance de agendar um horário com Alyson Barber. Dessa forma, ele consegue expandir seu negócio para clubes de outros estados do Brasil.

“Alguns jogadores que eram do Sport foram embora e estão em outras equipes. Aí, quando eles vêm jogar aqui no Recife, vamos para o hotel e atendemos. É gratificante”, celebra.

Alyson Barber aprendeu a fazer cortes assistindo a vídeos de profissionais na internet | Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

Fidelidade
As cores vermelha e preta, no entanto, permanecem sendo prioridade.

Corte do atacante Gabriel Santos, do Sport, feito por Alyson Barber | Foto: Arquivo pessoal

“Também atendo Náutico e Santa Cruz pela noite durante a semana, mas me firmei mesmo no Sport, onde não só os jogadores cortam comigo hoje. Tudo o que tenho foi justamente o Sport que me proporcionou”, garante, antes de revelar que recebeu uma “sondagem” do adversário do último sábado (25).

Alyson Barber prega "prioridade" ao Sport em seus atendimentos | Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

Na data, o Leão venceu o Sampaio Corrêa pelo placar de 4 a 1 e acabou tendo o sonho do acesso à Série A do Campeonato Brasileiro encerrado, por conta de resultados paralelos na rodada.

“Na concentração do Sport, o time do Sampaio (Corrêa) até pediu para eu atender, mas não tinha como. A minha prioridade é o Sport, e vai continuar sendo”, frisa.

Alyson Barber durante corte de cabelo no atacante Luciano Juba, hoje do Bahia | Foto: Arquivo pessoal

Destaque
No elenco da Chapecoense por empréstimo do Sport, o atacante Kayke Moreno, de 35 anos, é destacado pelo barbeiro entre a clientela, ocupando um lugar especial junto a Diego Souza.

“Ele me marcou. A Chape subiu com um gol dele e ele ligou para mim. Ele sempre me paga a mais nos cortes. Já teve ano que ele me pagou pela temporada toda. Ele é um cara surreal. Já tive várias experiências com ele, fui na casa dele e conheci a família”, afirma.

Alyson Barber, na frente da sua barbearia, na Zona Norte do Recife | Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco