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Cães artistas ajudam a arrecadar dinheiro para ONG de animais abandonados na Inglaterra

A instituição de caridade é voltada ao bem-estar dos animais

Henry Nichols/ AFP

Em um estúdio em Bristol, Oeste da Inglaterra, os cães Rosie e Alba trabalham arduamente nas suas telas, redefinindo a essência da arte abstrata em movimentos com o rabo. Para olhos destreinados, a produção da dupla no Bristol Animal Rescue Centre (ARC) pode ser vista como turbulenta, às vezes infantil, ou simplesmente confusa.

Mas os dois cães têm uma função muito mais importante do que agradar aos críticos. A inflação e as altas taxas de juros em todo o Reino Unido, além da quantidade de pessoas que abandonaram animais de estimação que compraram durante a pandemia de Covid-19, causaram um aumento no número de animais de rua e levaram a ARC aos seus limites financeiros.

"As pessoas simplesmente não podem pagar por cuidados veterinários e apenas cuidar de seus cães em geral", disse Bee Lawson, especialista em comportamento animal da ARC, à AFP. "No momento, estamos apenas acolhendo animais de rua porque estamos enfrentando um grande número de cães chegando".

'Crise sem precedentes'

A instituição de caridade RSPCA, voltada ao bem-estar dos animais, disse estar “desesperadamente preocupada” com o aumento do abandono à medida em que o inverno se aproxima. Até ao final de outubro, a RSPCA recebeu 17.838 denúncias de animais abandonados só na Inglaterra e no País de Gales. Se a tendência continuar, estima-se que serão mais de 21 mil casos em 2023. Em 2020, foram pouco mais de 16 mil.

"Muitos centros de resgate estão lotados, por isso estamos enfrentando uma crise de inverno sem precedentes", disse o comissário de inspeção da RSPCA, Dermot Murphy.

Financiada pelo setor privado, a ARC teve de encontrar formas criativas de arrecadar dinheiro. Uma das ideias concebidas pela equipe do centro foi realizar em dezembro um “Mutt Gala” online, evento inspirado no Met Gala da Vogue Magazine, em Nova York, onde seriam leiloadas obras de arte de animais.

Rosie e Alba pintam com seus focinhos e patas, desrespeitando naturalmente as regras de composição. São animais de rua que atualmente estão hospedados no centro e estão mais do que dispostos a ajudar.

Arte terapia

Lawson disse que a pintura é usada como ferramenta terapêutica para cães abandonados. Eles costumam chegar traumatizados depois de viverem sozinhos e sem alimentação nas ruas.

"Qualquer coisa que incentive cheirar, lamber e mastigar é realmente benéfico porque esses são comportamentos que acalmam os cães, naturalmente. Então, quando eles estão cheirando ou lambendo, isso aciona os neurotransmissores no cérebro do cão que liberam substâncias químicas da felicidade", afirma Lawson.

Para estimular os cães na produção das telas, os cuidadores da ARC usam manteiga de amendoim e “queijo espremido” em cápsulas, o que o incentiva a criatividade através dos cheiros e das lambidas.

"Basicamente, pegamos uma tela em branco ou algo semelhante, colocamos um pouco de tinta não tóxica na tela, colocamos filme plástico em cima e depois colocamos suas guloseimas favoritas", disse Jodie Bennett, responsável pela parte de engajamento comunitário do Centro."Para os cachorros daqui, geralmente é queijo espremido ou manteiga de amendoim, ou algo assim. E então os cachorros vão até lá, lambem e brincam com isso".

Às vezes, alguns dos cães mais enérgicos andam em suas telas, enquanto outros usam todo o corpo para criar sua arte.

Futuro promissor

Bennett disse que Major, um cão branco da raça husky resgatado das ruas, provou ser um dos artistas mais populares do centro, com suas duas obras "Excited I" e "Excited II" atraindo grande interesse tanto de críticos quanto de investidores em arte.

Suas pinturas mostram como ele adora a sensação de excitação. As obras são realmente grandes, ousadas e variadas, como a personalidade de Major. Fiquem atentos a ele: é um grande artista em ascensão.

Uma peça altamente abstrata em amarelo, laranja e vermelho chamada "Burning Man", de uma gata chamada "Cammie", que chegou inesperadamente durante uma das sessões de pintura, também atraiu grande interesse.

"Cammie usou suas cores favoritas de fogo porque é uma senhora agressiva", contou Bennett.

Quanto a Rosie e Alba, o trabalho deles é “muito bom”, disse Bennett. Ambos conseguiram produzir algumas peças chamaram atenção na comunidade local de arte canina.

"Acabamos de fazer algumas obras de arte muito legais com eles. Estou muito orgulhosa. Definitivamente, eu as penduraria na parede",  afirmou a profissional.

Com prática e esforço, eles poderiam, disse ela, até encontrar seu trabalho pendurado no Tate um dia.