Visita de Janja e choro pela morte do neto: carcereiro de Lula relembra dias do presidente na prisão
Jorge Chastalo Filho contou o planejamento para levar o petista até a penitenciária e afirma que ouvia de Lula que Bolsonaro era 'despreparado' para conduzir o país
Nos 580 dias em que esteve preso em Curitiba, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi acompanhado de perto pelo agente da Polícia Federal Jorge Chastalo Filho, carcereiro das celas de todos os presos da Operação Lava Jato.
O policial lembra que o petista sofreu muito com a morte do neto Arthur, em 2019, contou sobre a rotina e revelou detalhes do início do relacionacionamento entre Lula e Janja .
Em entrevista ao Metrópoles, Chastalo afirmou que o casal "trocava cartas o tempo todo" e descreveu como "fundamental" a ajuda da atual primeira-dama que, mesmo fora da cadeia, cuidava de Lula. Ela foi autorizada a encontrar o petista apenas meses após a chegada dele na prisão e mandava sopas quase diariamente pelos advogados.
— Janja ia no dia da visita de familiares depois que foi autorizada. Mas ficava menos tempo. Acredito que ela foi fundamental, mesmo fora, cuidava muito dele preso. Toda tarde o advogado ia visitá-lo e levava uma garrafa térmica com uma sopa feita pela Janja. Eles trocavam cartas o tempo todo. O carinho e a lealdade. Ele ficou muito feliz com a primeira visita da Janja, depois de 3 a 4 meses preso. Ele comentava que pretendia casar com ela futuramente.
Apesar do apoio de Janja, os dias na cadeia ficaram marcados por perdas de pessoas próximas do presidente. No período de dois meses, entre dezembro de 2018 e janeiro do ano seguinte, o advogado Sigmaringa Seixas, um dos melhores amigos de Lula, e Genival, o Vavá, irmão do petista, morreram.
Ele não pôde comparecer ao funeral do familiar, uma vez que conseguiu a liberação pouco tempo antes do sepultamento.
Entretanto, o carcereiro aponta que o momento de maior tristeza para Lula foi quando o neto Arthur, de 7 anos, morreu vítima de meningite bacteriana.
— O momento mais terrível para ele, e acredito que um dos momentos mais terríveis da vida dele, foi a perda do neto, Arthur. Isso causou um sofrimento absurdo, ele chorou, ficou muito mal durante uma semana, depois começou a se sentir mais. O tempo vai ajudando. Esse foi o pior momento — aponta Chastalo.
O carcereiro relembra ainda o planejamento para levar o petista até a penitenciária e a convocação de 60 policiais de outras localidades para reforçar o contingente de segurança.
— Várias pessoas me falaram: para que 60 policiais aqui, se eles têm as missões deles e o Lula não vai ficar preso nem cinco dias? O STF vai soltar ele em cinco, seis dias — lembra Chastalo.
Retorno à política
Ao ser questionado sobre falas do petista em relação a Jair Bolsonaro, derrotado na eleição de 2022, o policial afirmou que ouvia que o então presidente era “despreparado” para conduzir o país.
Enquanto esteve preso, Lula se dizia satisfeito com seus dois primeiros governos, mas entendia que podia ter feito mais se tivesse a ousadia de enfrentar forças que eram contra a opinião dele.
O carcereiro aponta que o petista repetia que não queria mais ser presidente da República, porque já havia sido por oito anos, e acha saudável para a democracia que haja uma troca de poder e ideologia. Mas, diante da "tentativa de arranhar a sua biografia", que ele dizia ter construído com tanto sacrifício, Lula manifestava que iria sair da cadeia e retornar ao Palácio do Planalto.
— Ele falou isso mais de uma vez. Eu pensava que tudo é possível, inclusive nada, porque a situação dele não era fácil. Era terrível. Era bastante complicado acreditar que ele pudesse chegar onde chegou — diz Chastalo.