AGENDA TGI- PAINEL 2024

Palestra de Francisco Cunha sobre os extremos na economia e na política lota teatro no Recife

Diretor e sócio fundador da TGI Consultoria fez um balanço dos fatos que marcaram o ano que está terminando e traçou as principais projeções para 2024

O palestrante Francisco Cunha ao lado do presidente do Grupo EQM e fundador da Folha de Pernambuco, Eduardo de Queiroz Monteiro - Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

A 25ª edição da Agenda TGI lotou, na noite de ontem (28), o Teatro RioMar, no Recife. A palestra, comandada pelo diretor e sócio fundador da TGI Consultoria, Francisco Cunha, teve como tema “A era dos extremos chegou. Como atravessá-la". Dentre os presentes ao evento estavam o presidente do Grupo EQM e fundador da Folha de Pernambuco, Eduardo de Queiroz Monteiro; e o diretor do Grupo EQM Leonardo Monteiro.

Para uma plateia formada por lideranças empresariais e políticas, economistas, professores e estudantes universitários, Francisco Cunha fez um balanço abrangente dos fatos mais marcantes do ano que está terminando e traçou as principais projeções econômicas e políticas para 2024, com uma abordagem que englobou o mundo, o Brasil, Pernambuco e o Recife.

Sobre o mundo, Cunha começou falando dos extremos da geopolítica, que se traduz, na visão dele, na quantidade de guerras simultâneas que se assiste hoje (Israel X Hamas; Ucrânia X Rússia; e outras cinco ou seis guerras no Continente Africano). “Isso, para mim, é uma evidência da falha e da governança mundial pós-Segunda Guerra, que precisa ser revista”, disse.

Segundo ele, o conflito Israel e Hamas, por exemplo, é resquício de uma decisão da Organização das Nações Unidas (ONU) de quase 80 anos atrás e que não foi implantada: a criação de dois estados, um palestino e outro de Israel . “O Conselho de Segurança é composto por cinco países, que têm poder de veto e isso impede qualquer avanço significativo. A ONU sequer pode fazer um pronunciamento, porque quando um dos cinco veta, não sai nada”, explicou.

De acordo com Francisco Cunha, os extremos do clima vão impactar muito a realidade geográfica de Pernambuco Foto: Paullo Allmeida/ Folha de Pernambuco

Ao se referir à polarização entre a China e os Estados Unidos, Cunha recorreu ao conceito de “Guerra Fria 2.0”, cunhado pelo analista independente de políticas internacionais espanhol Mariano Aguirre. “Recentemente, o presidente da China, em visita aos EUA, disse que o mundo é suficientemente grande para caber os dois, ou seja, ele deixou claro quais são os polos. Essa é a nova realidade geopolítica mundial”, alertou.

No que diz respeito ao Brasil, o diretor da TGI lembrou da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com uma subida simbólica à rampa representando à diversidade brasileira e, por outro lado, os episódios do 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas e depredadas simultaneamente. “Queriam uma ditadura, desrespeitaram a Constituição. Aquilo é uma evidência dos extremos no País. Como disse doutor Ulysses (Guimarães), traidor da Constituição é traidor da Pátria”, completou.

Modelo de Desenvolvimento
Quanto a Pernambuco, Francisco Cunha destacou dois aspectos. O primeiro diz respeito ao modelo de desenvolvimento do estado, segundo ele, gestado na década de 1950 e que se esgotou. “Nessa nova realidade impactada pelos extremos do clima e da tecnologia, qual o modelo de desenvolvimento que Pernambuco deve adotar? Essa é uma discussão que precisa ser feita, urgente”, disse.

As estratégias seriam, na visão do palestrante, uma gestão pública eficaz, que dialogue com um empreendedorismo dinâmico e com a ciência, a tecnologia e a inovação, para que se tenha uma educação de qualidade, uma infraestrutura adequada e uma sustentabilidade ambiental e climática, com geração de energia limpa e mais barata para o desenvolvimento do estado.

Os extremos do clima, lembrou ele, vão impactar muito a realidade geográfica de Pernambuco. “Quase 90% do nosso território está dentro do semiárido, que está crescendo, porque a temperatura no mundo está aumentando. Pernambuco será tremendamente impactado por isso”, analisou.

O outro aspecto pontuado por ele, no que diz respeito ao estado, é o extremo tecnológico. “Inteligência artificial, disrupção digital e tudo mais. Que impacto isso vai ter sobre a realidade da mão de obra e do emprego no Estado? Isso tudo deveria estar sendo discutido. Como é que a gente vai se posicionar em um mundo com essas características?”, indagou.

Quanto ao Recife, ele lembrou que a cidade será uma das mais impactadas pelas mudanças climáticas no mundo. “Precisamos discutir também - embora o Recife já se adiantou nisso -, como serão esses impactos e o que é que a cidade vai precisar fazer para se defender disso e pela via ambiental”, explicou. Segundo Cunha, já foi iniciado um trabalho de pesquisa sobre o (Rio) Capibaribe e o parque que ele permite estabelecer na cidade. “E começando a discutir o parque do Beberibe, o de Tejipió e o Marinho para proteção em relação ao aumento do nível do mar”, explicou.

Além das questões discutidas para as esferas políticas, empresariais e de gestão de cidades, Francisco Cunha ressaltou que a necessidade de mudanças precisa partir também de cada indivíduo. A sociedade, disse ele, precisa voltar a discutir as mudanças que enfrenta e o que precisa ser feito para que se sobreviva a tantos caos e extremos.

Prestigiaram também a Agenda TGI-Painel 2024 os integrantes do Grupo EQM Ricardo Chaves (diretor de Controladoria), Flávia Pontes (gerente de Controladoria), Flávia Coelho (diretora Financeira), Valdir Falcão (Controller), Cláudia Dantas (diretora de Gestão de Pessoas) e Joni Ramos (assessor da Presidência).